O Ministério da Saúde anunciou nesta terça-feira (23) uma mudança histórica na política pública de rastreamento do câncer de mama: a partir de agora, mulheres com idade entre 40 e 49 anos poderão realizar mamografias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mesmo na ausência de sinais ou sintomas da doença.
A decisão amplia o acesso ao principal exame de rastreamento do câncer de mama para uma faixa etária que representa cerca de 23% dos casos diagnosticados no país, de acordo com dados do próprio ministério. Até então, mulheres nessa faixa precisavam comprovar histórico familiar ou apresentar sintomas para ter acesso ao exame pelo SUS.
Para médico mastologista e presidente da regional Pará da Sociedade Brasileira de Mastologia, Fábio Botelho, a medida representa um avanço significativo na saúde pública brasileira e ajuda na redução das desigualdades regionais e socioeconômicas. “Mulheres de baixa renda e sem acesso a exames regulares são as mais impactadas por diagnósticos tardios. Com essa mudança, democratizamos o acesso ao rastreamento e aumentamos as chances de cura em todo o país”, destaca.
A nova política também orienta que o exame entre os 40 e 49 anos seja feito mediante decisão compartilhada entre paciente e profissional de saúde, com informações claras sobre os benefícios e riscos do rastreamento.
“O intervalo entre uma mamografia e outra continua sendo de 2 anos, pelo SUS. Nós já recomendamos, faz tempo, que esse intervalo seja de 1 ano, mas não deixa de ser uma boa notícia a possibilidade de fazer a mamografia pelo SUS a partir dos 40 anos”, finaliza o especialista.
Ainda segundo a pasta, mais de 1 milhão de mamografias foram realizadas em mulheres entre 40 e 49 anos somente em 2024, representando 30% do total de exames realizados pelo SUS. Com a nova política, a expectativa é ampliar esse número e garantir acesso igualitário e eficiente para todas as mulheres brasileiras.
Outra mudança importante anunciada pelo Ministério da Saúde foi a ampliação da faixa etária para rastreamento regular. Agora, mulheres poderão realizar mamografias de rotina a cada dois anos até os 74 anos, antes, o limite era de 69. A atualização segue práticas adotadas em países como Austrália e Canadá.
A medida integra um pacote de ações do programa Agora Tem Especialistas, que prevê, durante o Outubro Rosa, a mobilização de 27 unidades móveis em 22 estados brasileiros, com expectativa de até 120 mil atendimentos. As carretas vão oferecer, além de mamografia, ultrassonografia, punções, biópsias de mama e consultas presenciais ou por telemedicina.
Excluindo o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres brasileiras, com 73.610 novos casos por ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Em 2021, mais de 18 mil brasileiras perderam a vida por causa dessa doença. No mesmo ano, 62% dos diagnósticos foram feitos em estágios avançados e isso tem tudo a ver com a mortalidade alta, pois quando a doença é descoberta nos estágios 3 e 4 (os mais avançados), as chances de cura são reduzidas.
“Quando detectado precocemente, o câncer de mama tem chances de cura que ultrapassam 95%. Estudos mostram que em países onde a cobertura da mamografia atingiu 70%, a mortalidade pela doença caiu cerca de 35%”, finaliza o médico.
ENTREVISTA
Veja entrevista do Mastologia, Fábio Botelho, a medida é um avanço histórico no enfrentamento da doença e na redução dos índices de mortalidade no Brasil.
CRÉDITO: Fábio Botelho – Médico mastologista (Presidente da regional Pará da Sociedade Brasileira de Mastologia)