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Supermercados e farmácias: venda do álcool líquido 70% está com os dias contados

O álcool 70 é muito inflamável, qualquer proximidade com alguma coisa que gere faísca pode inflamar, diz Lênio Faria Foto: Mauro Ângelo
O álcool 70 é muito inflamável, qualquer proximidade com alguma coisa que gere faísca pode inflamar, diz Lênio Faria Foto: Mauro Ângelo

Irlaine Nóbrega

A partir do dia 30 de abril, o álcool líquido 70% não será mais comercializado em supermercados e farmácias do país. A comercialização do teor etílico do álcool era proibida desde 2002 devido ao alto grau de inflamabilidade, mas foi flexibilizada durante a pandemia como medida de contenção do vírus da Covid-19.

A determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece que o álcool em concentração superior a 54º GL deve ser comercializado na forma de gel para venda livre. A norma indica que o álcool com 70% de concentração na forma líquida é destinado apenas para uso profissional em instituições da área de saúde.

O álcool 70º GL é composto por uma parte de 70% de álcool absoluto e 30% de volume de água. Inseguro para o uso comum, o produto na forma líquida possui viscosidade baixa, se espalha rapidamente e é altamente inflamável. Por isso, a medida de controle da Anvisa tem o intuito de garantir a segurança do consumidor, apesar da alta eficácia contra vírus e bactérias.

“O álcool 70 é muito inflamável, qualquer proximidade com alguma coisa que gere faísca pode inflamar. Dependendo do caso é até explosivo. No uso contínuo nesse período da pandemia foram observados muitos acidentes, principalmente em crianças, por ingestão, por contato com a pele e até por queimaduras. Esse tipo de álcool se espalha muito rápido, diferentemente do gel que, por ser mais viscoso, dificulta o espalhamento. A eficiência é a mesma, com mais segurança”, esclarece Lênio Faria, conselheiro do Conselho Regional de Química (CRQ-6ª Região).

Usado em excesso, a alta concentração do produto pode causar alergias, irritações e ressecamento da pele, além de quadros de intoxicação. “Primeiro, a indicação é usar o álcool 70 em gel, que tem a mesma eficácia e é muito mais seguro. Depois, temos outros saneantes no mercado à base de hipoclorito de sódio, como os alvejantes. O clássico também é indicado, como lavar as mãos com sabão”, indica Lênio.

Consumidores

O álcool 70% já está escasso nas prateleiras de supermercados e farmácias de Belém uma semana antes da proibição das vendas. Em um supermercado da capital, o álcool líquido já não é mais encontrado pelos consumidores, que têm que optar pelo em gel 70% em frascos de 400 gramas.

O produto também sumiu das redes de farmácias da cidade que durante a pandemia foram liberadas a comercializar como medida emergencial de combate ao coronavírus. Em uma das empresas, somente uma marca do desinfetante está disponível na forma em gel, no teor 70%. Uma atendente informou que o álcool líquido de qualquer valor etílico não chega ao estoque com facilidade. Em outra rede, o único álcool 70% comercializado é em embalagens de 50 ml, por R$3,79.

Recentemente o álcool 70% sumiu da lista de produtos de limpeza de Tayane Santana, já que ela tem tido dificuldade em encontrar o item nessa concentração. Agora, com a proibição, as alternativas estão voltadas ao uso do álcool 54º GL na faxina e da forma em gel para higienização das mãos.

“Faz tempo que a gente não encontra o álcool 70, em casa a gente usava direto. Virou costume desde a pandemia, em qualquer momento a gente lava a mão e passa o álcool 70, para limpar a casa é a mesma coisa. Agora vou ter que optar pelo álcool comum mesmo, que a gente sabe que não tem a mesma eficiência, ou usar em gel porque a única opção de álcool agora”, disse a técnica em enfermagem, de 34 anos.

A proibição não deve afetar a rotina de Naiara Maia, 37 anos. Isso porque a autônoma já utiliza o álcool 54º GL nas limpezas de casa e higienização das mãos. “Eu nem sabia que a venda seria proibida. Eu utilizo o álcool mais comum mesmo para limpar a casa, passar nas mãos, higienizar o bujão de água. Pra mim não vai fazer muita diferença. Inclusive, acho que se for pela nossa segurança é até melhor, já que ele é muito inflamável”, afirma.

Em contrapartida, a cuidadora Patrícia Santos, 47 anos, afirma que a medida deve dificultar os cuidados diários do lar, apesar de considerar que a proibição é importante para garantir a segurança, principalmente das crianças. Entre as alternativas, segundo ela, estão o uso do vinagre na limpeza de casa, que não tem a eficácia para esse tipo de função; e a utilização do álcool em gel para a desinfecção das mãos.

“Eu já vejo por aí que não tem. O que a gente faz? Em casa eu uso álcool para tudo, já virou mania. Eu tenho sempre esse hábito de limpar com álcool as bancadas de casa e lavar as mãos e logo passar. Agora eu vou usar vinagre, eu sei que não tem a mesma eficácia, mas eu não gosto de usar o álcool em gel na limpeza, mesmo que seja o mais indicado. Acho que fica ruim para mim, mas é uma segurança porque tem gente que pega o álcool e não tem cuidado”, conta Patrícia.