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Repelentes: Como usar com eficácia e segurança?

Ilustração: Freepik
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Cintia Magno

Em algumas das doenças tropicais que ocorrem na região Amazônica, a participação de vetores como os mosquitos é fundamental para que haja a transmissão ao homem. Justamente por isso, uma das formas de se prevenir contra essas doenças é adotando medidas de proteção individual contra o mosquito, entre elas o uso de repelentes. Porém, para que seja obtida a eficácia esperada, é preciso alguns cuidados.

O gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, Dr. Erique Miranda, destaca que a grande ressalva acerca do uso de repelentes para prevenção de dengue, por exemplo, é a de que não existe proteção 100% eficaz, sobretudo em meio a grandes epidemias e em meio a grandes infestações por mosquitos.

“Por mais que se propague o conhecimento de que as fêmeas do mosquito Aedes aegypti piquem pela manhã até o fim da tarde, é possível que haja picadas também à noite, ainda que em uma frequência menor”, pontua. “Para minimizar as falhas, é preciso usar os repelentes aprovados pela Anvisa, que devem ser aplicados conforme a bula e nos intervalos informados nas especificações de cada fabricante. Se houver falhas na reaplicação, a eficácia dos repelentes cai bastante e as picadas acabam acontecendo”.

Nesse sentido, Dr. Erique Miranda reforça que, para saber se há eficácia comprovada de determinado repelente é preciso checar se há registro do produto na Anvisa. “Tem registro na Anvisa o DEET, além das utilizadas em cosméticos: substâncias repelentes Carboxilato de hidroxietil isobutil piperidina (Icaridina ou Picaridina) e Butilacetilaminopropionato de etila (EBAAP ou IR3535), além de extrato vegetal ou óleo de Cymbopogon (Citronela)”, aponta. “Recomendam-se os repelentes com concentração acima de 20% de Icaridina ou de 30% a 50% de DEET a fim de garantir uma proteção de longa duração”.

  • Reaplicação e concentração garantem uso correto 

No que se refere ao tempo de reaplicação do repelente, o médico Erique Miranda considera que ele pode variar de 2 horas (citronela) até 12 horas (algumas formulações de icaridina), mas, de todo modo, é preciso checar a bula dos produtos para conferir as orientações do fabricante.

Portanto, o médico explica que além de aprovação sanitária, a concentração e o tempo de aplicação são fundamentais para assegurar a eficácia. “Com relação à eficácia relativa, contra Aedes aegypti: o tempo de proteção com DEET (spray de 10% e 20%) foi semelhante ao IR3535 (spray de 10% e 20%) e maior que o da citronela (spray de 5%). O DEET (solução a 25%) apresentou maior tempo de proteção que o eucalipto (solução a 25%), enquanto o DEET (loção a 20%) apresentou maior tempo de proteção que a citronela (loção a 10%). Não houve diferença no tempo de proteção entre os repelentes fitoterápicos. DEET (7% e 15% de spray) apresentou maior porcentagem de repelência em comparação com a icaridina (7% de spray) e IR3535 (20% de spray). Contra Aedes albopictus: DEET (spray de 15%) teve um tempo de proteção semelhante ao da icaridina (spray de 20%), mas maior que a citronela (spray de 10%)”.

Erique Miranda esclarece, ainda, que quatro repelentes são indicados pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos da América (Center for Disease Control and Prevention), o DEET, Icaridina/Picaridina, OLE-Óleo de Eucalipto Citriodora fabricado para repelente e IR3535. “Um estudo recente feito por pesquisadores da Unesp e da USP em Ribeirão Preto (SP) sugere que existe sim uma diferença. Trata-se de uma revisão da literatura de 16 estudos feita por autores brasileiros a qual sugere que o “DEET (N,N-Dietil-m-toluamida) mostrou-se mais eficaz que os demais repelentes sintéticos e naturais comercializados no Brasil na proteção contra picadas das espécies de mosquitos investigadas. Todos os repelentes estudados apresentaram perfis de segurança satisfatórios”.

  • SOLUÇÕES NATURAIS 

No que se refere a soluções naturais habitualmente utilizadas em algumas regiões, como a própria região amazônica, por exemplo, o médico faz um alerta. “A andiroba (Carapa guianensis) é usada em alguns repelentes, porém não tem comprovação científica para aprovação pela Anvisa. Segundo o site, os inseticidas chamados “naturais”, à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem comprovação de eficácia”, destaca.

“Ou seja, as velas, os odorizantes de ambientes, os limpadores e os incensos que indicam propriedades repelentes de insetos não estão aprovados pela Agência. O óleo de neem, que possui a substância azadiractina, é aprovado pela Anvisa para uso em inseticidas, mas o produto deve estar registrado”.

  • CUIDADOS COM O USO DOS REPELENTES 

Quando se trata de crianças, gestantes ou idosos, é necessário um cuidado adicional quanto ao uso de repelentes. O gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, Dr. Erique Miranda, esclarece que para crianças abaixo de dois meses, não se deve usar repelentes, devendo ser usado somente mosquiteiros. Já para gestantes e idosos, o uso de repelentes é liberado.

“Deve-se evitar usar os sprays em pessoas que têm doenças respiratórias crônicas e dar preferência para o creme. Deve-se ter cuidado também com quadros alérgicos prévios e avaliar o uso em quem teve reações ao produto. Dessa forma, a troca por outro tipo de repelente pode ajudar”, orienta.

“Crianças não podem manipular o repelente, pelo risco de exposição do produto às mucosas ou ingestão acidental. Deve-se aplicar apenas nas partes de pele descobertas e nas roupas conforme as indicações do fabricante, nunca devendo ser aplicado sobre a pele coberta por roupas; não aplicar sobre ferimentos, alergias e irritações da pele; nunca aplicar diretamente no rosto”.

SAIBA MAIS

Para saber mais sobre os repelentes registrados e liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é possível acessar a página da agência, no www.gov.br/anvisa

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