Cintia Magno
Com uma letalidade que se aproxima de 100% dos casos, a raiva é uma doença infecciosa causada por um vírus transmitido aos humanos por meio de mordidas de animais infectados. Devido à própria gravidade apresentada, a doença é alvo de um intenso trabalho de vigilância mantido em todo o país e que vêm demonstrando um bom desempenho.
De acordo com o Boletim Epidemiológico Doenças Negligenciadas no Brasil, lançado em janeiro de 2024 pelo Ministério da Saúde, a raiva humana está entre as doenças que avançam para um processo de eliminação como problema de saúde pública. No período de 2016 a 2020, foram registrados 22 casos de raiva humana no país, o equivalente a apenas 0,004% do total de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) registradas no país no mesmo período.
Médico veterinário do Centro de Controle de Zoonozes da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), Júlio Carneiro explica que, além de mordidas, a raiva também pode ser transmitida ao humano através de arranhaduras de animais infectados pelo vírus. Daí a principal medida de prevenção à doença estar na imunização periódica de animais domésticos através da vacinação.
“A prevenção contribui para que não sejam registrados casos em animais. No município de Belém, não há um caso em animais desde 1984, ou seja, 4 décadas sem a doença de raiva na capital paraense, graças ao alto nível de cobertura vacinal”, destaca, ao reforçar a gravidade da doença aos seres humanos. “A raiva é aproximadamente 100% letal. No mundo, ocorreram 7 casos em que os pacientes se recuperaram, mas tiveram que conviver com sequelas”.
MÉTODO SIMPLES
Transmissão pode ser contida com a vacinação
A transmissão da raiva humana ocorre quando há a penetração do vírus contido na saliva do animal infectado pela raiva animal, seja através da mordedura – meio mais comum – ou da arranhadura. De acordo com o Ministério da Saúde, todos os mamíferos podem transmitir a raiva, porém, os mamíferos domésticos, como cães e gatos, os mamíferos silvestres, como raposas e macacos, e os morcegos são os principais reservatórios do vírus da raiva. Quando em contato com o indivíduo, o vírus atinge principalmente as células do sistema nervoso da pessoa infectada. A vacinação anual de cães e gatos é eficaz na prevenção da raiva nesses animais, o que consequentemente previne também a raiva humana. Dessa forma é importante que os tutores mantenham a carteira de vacinação em dia. Vale lembrar que a vacina é oferecida gratuitamente nas campanhas do Ministério da Saúde.
FIQUE POR DENTRO
RAIVA
Transmissão
- A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, podendo ser transmitida também pela arranhadura e/ou lambedura desses animais.
- O período de incubação é variável entre as espécies, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no ser humano, podendo ser mais curto em crianças. O período de incubação está relacionado à localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou tipo de contato com a saliva do animal infectado; da proximidade da porta de entrada com o cérebro e troncos nervosos; concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.
- Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste durante toda a evolução da doença (período de transmissibilidade). A morte do animal acontece, em média, entre 5 e 7 dias após a apresentação dos sintomas.
- Não se sabe ao certo qual o período de transmissibilidade do vírus em animais silvestres. Entretanto, sabe-se que os morcegos podem albergar o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente.
Sintomas
- Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de 2 a 10 dias. Nesse período, o paciente apresenta:
- Mal-estar geral;
- Pequeno aumento de temperatura;
- Anorexia;
- Cefaleia (dor de cabeça);
- Náuseas;
- Dor de garganta;
- Entorpecimento;
- Irritabilidade;
- Inquietude;
- Sensação de angústia.
Complicações
A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como:
- Ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes;
- Febre;
- Delírios;
- Espasmos musculares involuntários, generalizados e/ou convulsões.
- Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido. Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal.
- O período de evolução do quadro clínico, depois de instalados os sinais e sintomas até o óbito, é, em geral, de 2 a 7 dias.
Prevenção
A vacinação anual de cães e gatos é eficaz na prevenção da raiva nesses animais, o que consequentemente previne também a raiva humana. Além disso, deve-se sempre:
- Evitar de se aproximar de cães e gatos sem donos, não mexer ou tocá-los quando estiverem se alimentando, com crias ou mesmo dormindo.
- Nunca tocar em morcegos ou outros animais silvestres diretamente, principalmente quando estiverem caídos no chão ou encontrados em situações não habituais.
O que fazer em caso de exposição?
- No caso de agressão por parte de algum animal, deve-se procurar assistência médica o mais rápido possível.
- Quanto ao ferimento, o Ministério da Saúde orienta que deve-se lavar abundantemente com água e sabão, o mais rápido possível, e aplicar produto antisséptico.
- A limpeza deve ser cuidadosa, visando eliminar as sujidades sem agravar o ferimento, e, em seguida, devem ser utilizados antissépticos como o polivinilpirrolidona-iodo, povidine e digluconato de clorexidina ou álcool-iodado.
- Essas substâncias deverão ser utilizadas somente na primeira consulta. Nas seguintes, devem-se realizar cuidados gerais orientados pelo profissional de saúde, de acordo com a avaliação da lesão.
- O esquema de profilaxia da raiva humana deve ser prescrito pelo médico ou enfermeiro, que avaliará o caso indicando a aplicação de vacina e/ou soro.
- Nos casos de agressão por cães e gatos, quando possível, observar o animal por 10 dias para ver se ele manifesta doença ou morre.
- Caso o animal adoeça, desapareça ou morra nesse período, deve-se informar o serviço de saúde imediatamente.
Vacinação antirrábica em cães e gatos
O Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR), criado em 1973, implantou entre outras ações, a vacinação antirrábica canina e felina em todo o território nacional.
Fonte: Ministério da Saúde.