A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo possuem algum distúrbio alimentar. O transtorno de compulsão alimentar é um deles, e a psicóloga clínica Joelma Martins explica que o mesmo se caracteriza principalmente pela ingestão de alimento em uma quantidade maior do que a maioria das pessoas consomem. Os episódios acontecem ao menos uma vez na semana, num período de três meses.
“Diferente de casos de anorexia e bulimia, as pessoas com compulsão alimentar não têm esse mecanismo de compensação para promover a perda ou evitar o ganho de peso com o uso de alguma medicação. Eles estão muito preocupados, buscam alimento, é como se fosse realmente uma satisfação”, afirma.
De acordo com a psicóloga clínica, os sintomas mais comuns são o consumo de alimentos por um período determinado, de duas horas, por exemplo. Outro sintoma é a sensação de falta de controle, além de comer mais rápido que o normal e até se sentir desconfortável. “Outra coisa também é sentir o desgosto de si mesmo. Na verdade, tem muito uma questão de comer, mas depois tem a culpa, episódio depressivo e o sofrimento. Esses são alguns dos sintomas apresentados no transtorno de compulsão alimentar”, ressalta.
CAUSAS
Sobre as causas, Joelma Martins pontua que os transtornos sempre têm multicausais e no caso da compulsão alimentar, os fatores psicológicos podem estar ligados à autoavaliação negativa, baixa autoestima, experiências traumáticas na infância como abusos sexuais e até bullying. Já os fatores biológicos, levam em consideração o histórico familiar.
“Se eu venho de uma família de obesos ou que tem uma compulsão alimentar, entendo aquilo como um funcionamento normal. E também a falta de atividade física, né? A gente precisa entender que a falta de atividade física, o sedentarismo, acaba te puxando para outros hábitos incomuns”, frisa.
O ambiente influencia, esclarece a psicóloga. Segundo ela, de modo geral, todo transtorno é resultado do ambiente e da questão genética. “Então, se eu tenho problemas de relacionamentos, seja familiares ou afetivos, posso acabar compensando na alimentação. Às vezes, um ambiente de trabalho, de muita exigência, de muita pressão, também acaba causando esse transtorno”, diz.
A compulsão alimentar pode afetar a qualidade de vida e o funcionamento emocional. Ademais, são inúmeras emoções que envolvem a questão alimentar, contudo destacam-se os sentimentos de culpa, raiva e vergonha, que podem desencadear outros transtornos como o de ansiedade, por exemplo, ressalta a psicóloga.
“A gente precisa entender que o alimento é algo fundamental na nossa vida. Precisamos nos alimentar todos os dias e várias vezes ao dia para manter o funcionamento do nosso corpo. Se não faço isso de forma normal, se acabar sendo algo disfuncional, vai prejudicar toda a minha vida e aí vão surgindo várias emoções”, completa.
Como é feito o tratamento?
O tratamento do transtorno de compulsão alimentar, quando assim se configura, envolve o acompanhamento com psicólogo, psiquiatra e nutricionista. O primeiro passo é avaliar critérios diagnósticos, investigar a possibilidade de transtornos associados e compreender a complexidade da temática. Também é importante o apoio da rede familiar e uma abordagem sem estigmas para entender melhor o que se passa com essa pessoa e, assim, direcionar adequadamente o tratamento. (Fonte: Ministério da Saúde)