A depressão é considerada uma das doenças mais incapacitantes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), além de ser um dos fatores relacionados ao maior risco de suicídio. Por isso, durante este mês, é realizada a campanha Setembro Amarelo, uma forma de conscientizar sobre saúde mental e prevenção do suicídio.
Mas afinal, como identificar a doença? Sentimentos que te impedem de realizar coisas simples do dia a dia podem estar ligados a algum tipo de transtorno mental. Falando de depressão, alteração de apetite, de sono, dificuldades de concentração e pensamentos de morte são os principais sinais de alerta, como explica Márcia Yamada, psicóloga clínica.
“Um episódio depressivo pode durar seis, nove, 12 meses, se não for tratado. E não necessariamente a pessoa fica quietinha no seu canto. Isso pode acontecer, mas a gente tem depressão com muita ansiedade, depressão com muita agitação. Existem vários tipos de depressão que têm esses sintomas, mas entre um paciente e outro pode variar muito”.
No entanto, é importante observar a duração dos sintomas para diferenciar depressão de uma tristeza pontual.
Depressão está crescendo entre os jovens
A última pesquisa realizada pela OMS em 2019, registrou mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 1 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média, 38 pessoas cometem suicídio por dia.
“A depressão, em todos os levantamentos e publicações feitos pela OMS, sempre está entre as três doenças que causam maior incapacitação no mundo inteiro. Está relacionada à incapacitação das pessoas para o trabalho, para a vida acadêmica, para a vida familiar. O impacto na saúde pública, na economia e na vida das pessoas é gigantesco”, afirma Marcia Yamada.
De acordo a psicóloga, as mulheres são mais afetadas do que os homens. Mas o aumento da incidência entre jovens é preocupante. “As estimativas são de que em torno de 1% das crianças antes da puberdade tenham depressão. Mas a partir da puberdade, a depressão começa a ser mais frequente. A incidência aumenta, e aumenta particularmente nas meninas”, disse.
E ressaltou que nessa fase, o diagnóstico correto pode ser desafiador. “A depressão na infância e na adolescência se caracteriza por essa alteração de humor – tristeza, falta de prazer – mas, muito frequentemente, por irritabilidade. Então, muitas vezes, ela não é bem diagnosticada. Você tem, eventualmente, uma criança mais irritável, mais ansiosa, com queixas físicas. Na adolescência, você tem também um adolescente mais irritado, com muitas brigas com a família, com amigos, queda do rendimento escolar e não aparece a tristeza tão clara”.
Como buscar ajuda?
Neste ano, conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria, o lema da campanha nacional é “Se precisar, peça ajuda!”. Algo que a psicóloga destaca de suma importância. “Compreender que os sofrimentos, dificuldades fazem parte da existência humana é essencial, mas ninguém precisa passar por isso sozinho. Então, se estiver muito difícil conviver com a dor procure ajuda especializada”, expôs Márcia Yamada.
O tratamento da depressão, por exemplo, inclui, além da psicoterapia, o que os especialistas chamam de ‘psicoeducação’. “A gente fala: olha, teu parente está doente, ele tem esse sintoma. Veja que na família tem outros casos, olha o risco de suicídio, olha os impactos, que ele não está mais conseguindo ir à escola, não está mais conseguindo trabalhar. Ou seja, é necessário trazer a família como sua aliada e tentar quebrar esses estigmas que existem na nossa sociedade”, completou.
Márcia Yamada também alerta para a importância de conscientizar a população de que a depressão é uma doença e que, frequentemente, o paciente não consegue buscar ajuda sozinho.
“Muitas vezes, há essas ideias de que a pessoa que está deprimida não tentou, não está se esforçando o suficiente, ou ideias de menos valor, de que ela não é competente, de que ela frustra a família”, explicou.
E alerta que apesar de ser um assunto que a maioria rejeita é de suma importância tratarmos a prevenção ao suicídio como uma prática constante não só no mês de setembro.
“Outro assunto muito importante, mas pouco falado, é o cuidado posterior ao suicídio ou à tentativa de suicídio, o que chamamos de pósvenção com enlutados e sobreviventes. O suicídio é um assunto espinhoso, mas que tem que ser falado, esmiuçado, esclarecido todos os dias”, concluiu.
BUSQUE AJUDA
Para buscar ajuda, além de marcar consultas com psicólogo e psiquiatra, é possível solicitar apoio ao Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e serviço de prevenção ao suicídio, de forma gratuita e sigilosa. O atendimento pode ser feito pelo telefone 188, disponível 24 horas por dia e sem custo de ligação, chat, e-mail e em postos presenciais. Confira mais informações no site.