
Com a popularização de ferramentas de Inteligência Artificial, cresce o número de áreas profissionais que têm sido impactadas por essa nova tecnologia. Cada vez mais pacientes recorrem a aplicativos e ferramentas digitais para interpretar sintomas e buscar diagnósticos, muitas vezes sem orientação médica, o que pode resultar em erros graves, atrasos no tratamento adequado e até no agravamento de doenças. A questão levanta alertas sobre os riscos da automedicação, erros em diagnósticos e agravamento de doenças.
De acordo com o dermatologista Caique Neves, a praticidade e economia de tempo podem ser os fatores que explicam a utilização de Inteligência Artificial (IA) para diagnósticos clínicos. Apesar disso, esse fenômeno não é inédito, já que antes mesmo do advento dessa ferramenta era comum que pacientes pesquisassem sobre possíveis sintomas da doença no Google, principal site de busca da internet.
Com o surgimento de uma das mais populares IA, o ChatGPT, em 2022, a pesquisa por sintomas de doenças se tornou ainda mais habitual, sendo uma forma rápida e fácil de solucionar uma dúvida. Contudo, o médico alerta que o uso da ferramenta para essa finalidade pode acarretar em diversos problemas à saúde do paciente a longo prazo.
“O principal risco da utilização da Inteligência Artificial é a questão do diagnóstico errado. Um diagnóstico impreciso pela falta da consulta, exame clínico e físico pode acarretar em perda de tempo para o paciente, principalmente se ele tem uma lesão de pele mais específica, que precisa verificar o avanço dessa lesão, há quanto tempo apareceu, se mudou as características, em quanto tempo, para indicar alguma investigação a mais”, aponta.
A perda de tempo em um diagnóstico correto pode ser decisiva para definir métodos de tratamento de uma possível doença. “Tendo o diagnóstico da IA, vai retardar a busca do paciente por atendimento médico. Em uma lesão que tenha uma característica mais específica, precisa ser feita uma dermatoscopia, que nada mais é a análise física e com lente de aumento. A IA não vai ter esse recurso e o paciente pode evoluir para a malignidade, podendo ser uma lesão cancerígena. E quanto menos tempo for identificado e feito o tratamento necessário, pode ser decisivo na recuperação desse paciente”, explica.
DIAGNÓSTICO
Ainda conforme o Dr. Caique Neves, uma mancha na pele pode dizer muito sobre a condição de saúde do paciente. Em casos de sinais de nascença ou de manchas ou marcas que já estão na pele há muito tempo sem alteração de tamanho ou forma, possivelmente não é uma lesão com potencial de malignidade. Por outro lado, se essa mancha mudar de forma, de cor, se está mais infiltrada ou tem histórico de ulceração (feridas ou sangramentos) pode ser um potencial câncer de pele.
Nesses casos, o paciente precisa passar por uma avaliação dermatológica clínica para fins de classificação de um quadro benigno ou maligno. Em relação a IA, que geralmente utiliza fotos para sugerir a informação pedida pelo usuário, esse diagnóstico tem chance de ser bastante impreciso devido a ausência de anamnese física.
“Quando detectada precocemente, a própria biópsia serve como diagnóstico e tratamento. E nisso o paciente perde tempo se for recorrer a IA. Em relação ao câncer de pele é um câncer que tem muitas características em relação a metástase. Não é incomum que um paciente que tem câncer de pele chegar a uma metástase pulmonar, por exemplo. Então, quanto mais cedo essa lesão for identificada é melhor para o paciente para o próprio prognóstico da doença”, alerta.
PROCESSO DE AVALIAÇÃO
No processo de avaliação clínica, a chamada anamnese, o paciente vai explicar ao médico sobre o problema de saúde e a evolução dos sintomas. Na área dermatológica, por exemplo, a maior preocupação é com lesões de pele que mudaram em um curto período de tempo, seja de tamanho, cor ou até se apresentou sangramento.
Através da dermatoscopia, um aparelho que se assemelha a um microscópio, o médico pode definir os limites da lesão e se tem indicativo para biópsia. O procedimento é padrão Ouro para determinar se a doença é benigna ou maligna. Assim, pode-se definir se o procedimento já serviu como tratamento ou se o paciente precisa de algum procedimento adicional para saber se a lesão está espalhada pelo corpo.

Editado por Débora Costa