Pancreatite, cegueira e gravidez: os riscos por trás das “canetas milagrosas”

Desde o final de junho, farmácias de todo o Brasil devem reter as receitas médicas das “canetas emagrecedoras”, como Ozempic e Mounjaro. A prescrição deve ser em duas vias e retenção da receita, como já ocorre na venda de antibióticos. A validade da receita é de 90 dias. O controle mais rigoroso foi determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), depois que a agência constatou um número alto de efeitos colaterais causados pelo uso desses medicamentos fora da indicação inicial, que é para o tratamento de diabetes tipo 2.

A medida vale para medicamentos que possuem semaglutida, liraglutida e tirzepatida, inclusive em versões em comprimidos, e tem o objetivo de evitar a automedicação. Segundo a Anvisa, o uso das canetas emagrecedoras sem orientação médica, especialmente com fins estéticos, pode trazer sérios riscos à saúde. Entidades como a Sociedade Brasileira de Diabetes e a de Endocrinologia apoiaram a decisão.

O médico endocrinologista e presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes Regional Pará, Rubens Tofolo Junior, ressalta que as canetas foram elaboradas para pacientes com diabetes tipo 2, porém, de forma indireta, elas mostraram efeito positivo para emagrecimento. Porém, Tofolo adverte que o uso indiscriminado das canetas sem acompanhamento médico com pessoas adquirindo o medicamento de forma ilegal traz riscos altissímos para a saúde.

“A nova regra da Anvisa é muito positiva porque evidencia que muitas situações estão ocorrendo no Brasil, como o uso indiscriminado sem prescrição e orientação médica”, salienta. De acordo com Tofolo, diferentes efeitos colaterais estão ocorrendo como cegueira, gravidez e pancreatite. “Pacientes com doença ocular grave não podem usar as canetas sem acompanhamento ou indicação do médico oftalmologista”, explica.

Ainda segundo o endocrinologista, casos de gravidez também têm sido registrados devido ao fato de que as canetas podem diminuir a eficácia de anticoncepcionais orais, daí a importância de ter acompanhamento médico. Tofolo destaca ainda que “no uso indevido das canetas por automedicação, há possibilidades da pessoa desencadear um quadro de pancreatite, doença que pode ter mortalidade em 50% dos casos”.

Riscos e consequências da automedicação

Para ele, a pressão estética da sociedade produz um pensamento nas pessoas a tomarem decisões equivocadas sobre o próprio corpo. “Nós precisamos entender que obesidade é um problema de saúde pública. E tem gente comprando as canetas para tentar emagrecer rapidamente. Em muitos casos em que a pessoa se sente acima do peso, não sendo necessariamente obesidade, a mudança no estilo de vida com dieta e atividade física já resolvem.”

A importância da prescrição médica e acompanhamento

Tofolo frisa que as canetas podem ser utilizadas nas indicações contra diabetes tipo 2 (Ozempic e Mounjaro) e obesidade (Wegovy), desde que seja feita a prescrição médica, exames necessários para o uso da medicação e acompanhamento médico. “A decisão da Anvisa é fundamental neste momento porque tem gente comprando as canetas pela internet sem saber o que estão aplicando no próprio corpo. Há pessoas que nem sequer são da medicina e estavam recomendando as canetas para fins estéticos, quando na verdade a medicação é indicada para duas doenças (diabetes tipo 2 e obesidade).”

🟡 Entenda o que muda com a nova regra da Anvisa:

• A venda das canetas agora exige receita médica em duas vias, com retenção obrigatória pela farmácia;
• A validade da receita é de 90 dias;
• A norma vale para medicamentos à base de semaglutida, liraglutida e tirzepatida;
• O uso indevido pode causar efeitos colaterais graves, como cegueira, pancreatite e falhas anticoncepcionais;
• A medida visa combater a automedicação e proteger a saúde da população.