Cintia Magno
Transmitida pela picada do inseto conhecido popularmente como borrachudo que está infectado com larvas do parasita causador da doença, a Oncocercose é uma das que compõem a lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), como são chamadas as doenças presentes nas regiões de clima tropical e que normalmente atingem pessoas que vivem em contextos econômicos, sociais e ambientais desfavoráveis.
No Brasil, a doença ainda é registrada, mas vem apresentando uma gradativa redução. De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, publicados no Boletim Epidemiológico Doenças Negligenciadas no Brasil, no período de 2016 a 2020 a Oncocercose foi responsável por apenas 0,005% do total de casos de DTNs notificadas no país, com 32 casos registrados no período.
A médica, pesquisadora e professora adjunta do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará (Uepa), dra. Clea Bichara, explica que a Oncocercose é uma parasitose que acomete os seres humanos de modo crônico e que é causada por um verme chamado Onchocerca volvulus. Quando acomete o homem, a doença causa manifestações na pele e nos olhos, sendo, por isso, conhecida como ‘cegueira dos rios’ ou ‘mal do garimpeiro’.
“Hoje é considerada pela Organização Pan-Americana da Saúde como uma das doenças praticamente eliminada das Américas. Persiste ainda entre os indígenas Yanomami na fronteira do Brasil com a Venezuela”, esclarece ela, que é mestre e doutora em Biologia dos Agentes Infecciosos e Parasitários, e especialista em Saúde Pública e Saúde Coletiva.
Transmissão se dá por insetos infectados
jO verme Onchocerca volvulus, causador da Oncocercose, tem como hospedeiros tanto os seres humanos, quanto os insetos do gênero Simulium (borrachudos). São insetos que, infectados, transmitem o verme às pessoas através da picada. A pesquisadora Clea Bichara explica que, no primeiro momento, o homem pode não apresentar sintomas da doença, que costumam se manifestar apenas depois de algum tempo. “Inicialmente, passa despercebida e ao longo dos anos surgem as manifestações. A partir de um ano podem surgir nódulos na pele (onde os vermes adultos se localizam). A partir disso, devido à produção de microfilárias pelos parasitas, é comum que o paciente apresente sintomas como: coceira na pele, erupções cutâneas, perda de elasticidade (pele enrugada), despigmentação da pele”, enumera.
“A longo prazo, a oncocercose atinge outros órgãos, como os olhos, variando de comprometimento leve (embaçamento) até a cegueira completa. O olho pode ficar inflamado e parecer vermelho. A exposição à luz forte pode causar dor. Sem tratamento, a córnea pode se tornar completamente opaca e formar cicatriz, a causa da cegueira. Outras estruturas no olho, incluindo a íris, pupila e retina, podem ser afetadas. O nervo óptico pode ficar inflamado e degenerar. A doença ainda tende a causar lesões linfáticas e sistêmicas”.
Diagnóstico precoce é fundamental
Uma vez que a pessoa é infectada por insetos do gênero Simulium (borrachudos), a médica Clea Bichara aponta que existem poucas opções de medicamentos que possibilitem o tratamento da Oncocercose. Daí a importância do diagnóstico precoce.
“Há poucas opções de antiparasitários, usados em tratamento contínuo, podendo durar anos, normalmente com intervalos de seis meses entre as doses. Embora não seja possível eliminar os vermes adultos, a terapia adequada ajuda a controlar a infecção e prevenir complicações, uma vez que limita a liberação de microfilárias e elimina as existentes”, ressalta, ao informar como é feito o diagnóstico da doença.
“É importante a avaliação dermatológica e oftalmológica dos pacientes suspeitos clinicamente. Segue-se a realização por meio da análise microscópica de uma pequena amostra da pele, buscando observar se há presença de microfilárias. Em alguns casos, pode ser necessário realizar o teste com lâmpada de fenda, um exame oftalmológico que ajuda a identificar microfilárias nos olhos”.
Para evitar o desenvolvimento de complicações de forma mais eficaz, o ideal é evitar a infecção, adotando algumas cuidados que ajudam a prevenir a doença, como, segundo aponta a dra Clea Bichara: evitar deslocamento para áreas endêmicas, evitar áreas ribeirinhas com muitos mosquitos, utilizar roupas que cobrem quase todo o corpo, usar repelentes e mosquiteiros. “Em lugares onde a oncocercose é recorrente, as estratégias preventivas ainda incluem tomar o antiparasitário periodicamente. Não há vacina para prevenir a oncocercose”, finaliza.
FIQUE POR DENTRO
ONCOCERCOSE
É uma doença parasitária crônica também chamada de “cegueira dos rios” ou “mal do garimpeiro” e que se manifesta a partir da infecção produzida pelo verme Onchocerca volvulus, que se instala no tecido subcutâneo das pessoas atingidas.
TRANSMISSÃO
Se dá pela picada do inseto Simulium (borrachudo) infectado com larvas do parasita.
Ciclo
1. O inseto pica uma pessoa infectada e suga microfilárias juntamente com o sangue.
2. Ocorre então uma maturação das microfilárias no interior do inseto, transformando-se em formas infecciosas.
3. Em uma próxima picada do inserto, o parasita é injetado na circulação do indivíduo.
4. Decorrido cerca de um ano, o parasita se transforma em verme adulto e passa a produzir um número muito grande de microfilárias, as quais se disseminam por todo o orpo e, eventualmente, podem causar alterações na córnea e consequente cegueira. Além disso, é comum a presença de lesões dermatológicas e de nódulos subcutâneos.
SINTOMAS
Após cerca de um ano de infecção começam a aparecer reações às formas adultas do parasita, gerando nódulos subcutâneos palpáveis e móveis (oncocercomas). No interior desses nódulos encontram-se os parasitas no estágio adulto que produzem as microfilárias. Essa produção de microfilárias pode levar a sintomas mais graves, tais como:
– coceira;
– erupção na pele;
– perda de elasticidade da pele;
– pápulas;
– áreas da pele com despigmentação;
– febre.
Fonte: Ministério da Saúde.