“Fazer tempestade em copo d’água” vai além de uma simples expressão para quem convive com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Para quem convive com o transtorno, costuma sentir os extremos de maneira muito acentuada: um momento pode parecer maravilhoso, mas basta um detalhe fora do esperado para que tudo seja interpretado como uma catástrofe.
Mudanças súbitas de humor, crises intensas de abandono e relacionamentos vividos no limite. Assim pode ser descrita a condição de saúde mental que afeta diretamente a forma como a pessoa lida com as próprias emoções e com o mundo ao redor.
Diferente de simples instabilidade emocional, o Borderline é um transtorno de personalidade. Isso significa que não se trata apenas de oscilações de humor passageiras, mas de um padrão de comportamento e percepção que acompanha a pessoa em diferentes áreas da vida. Essas reações costumam ser mais frequentes em relações interpessoais, que são vividas com muita intensidade – da idealização ao conflito em questão de horas ou minutos.
Será que pode ser, então… BIPOLARIDADE?
Mas nem toda mudança de humor significa Borderline. Uma dúvida comum é a diferença entre Borderline e transtorno bipolar. Embora ambos envolvam mudanças de humor, a principal distinção está no tempo e na intensidade.
No caso da bipolaridade, os ciclos são mais longos e podem durar dias, semanas ou até meses. Já no Borderline, os altos e baixos acontecem em questão de horas, ou até minutos, segundos. Além disso, a bipolaridade é um transtorno de humor, enquanto o Borderline é classificado como um transtorno de personalidade, envolvendo dificuldades mais profundas na forma de pensar, sentir e se relacionar. Neste último caso, as reações tendem a ser mais complexas e duradouras – principalmente, sem o tratamento adequado.
ENTENDA OS SINTOMAS
Entre os sintomas padrões de comportamento que identificam quem sofre de Borderline. Saiba mais sobre os principais – de acordo com o blog Vida Saudável do Einstein Hospital Israelita:
- medo extremo de rejeição e abandono – podendo refletir em ameaças para evitar esses medos e enxergá-los como catástrofes;
- alternância intensa de valorização e desvalorização do outro – sentir amor doentio por alguém em um momento, e sentir ódio pela mesma pessoa logo depois;
- intensa instabilidade na identidade – por exemplo, seguir fielmente uma religião e, pouco depois, adotar valores totalmente opostos;
- impulsividade – coloca a integridade física e mental em risco, sendo refletida em atos de comer impulsivamente, fazer dívidas sem controle, dirigir sob efeito de drogas etc.;
- comportamentos nocivos e ameaças ou tentativas de suicídio – gestos como arranhões, batidas da cabeça na parede e cortes são alguns dos sinais;
- mudanças rápidas e extremas de humor – como se um único indivíduo tivesse múltiplas personalidades, que variam sem nenhum motivo aparente;
- sensação constante de vazio – não encontrar sentido nas ações, sentir tédio e melancolia frequentemente;
- ira descontrolada e desproporcional – maior propensão a entrar em discussões e sentir raiva, quando o mais esperado era outro sentimento negativo, como luto e tristeza;
- pensamentos paranoicos – como sentir-se fora de si, despersonalização etc.
COMO DIAGNOSTICAR E TRATAR?
O diagnóstico é feito por um psiquiatra, a partir da análise de sintomas persistentes – pelo menos cinco sintomas do transtorno –. É comum que o transtorno venha acompanhado de outros quadros, como depressão, ansiedade ou compulsões, o que reforça a necessidade de avaliação clínica.
O tratamento envolve psicoterapia, com acompanhamento psicológico e também psiquiátrico, e, em muitos casos, o uso de medicamentos para controlar sintomas associados, como agressividade, depressão e ansiedade. O acompanhamento pode ser ampliado para uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e outros profissionais que auxiliem na qualidade de vida do paciente.
“Não é possível ‘tirar’ o Borderline de quem recebeu o diagnóstico”: embora não exista cura, é possível conviver com o transtorno de forma saudável. O tratamento adequado ajuda a reduzir crises, estabilizar emoções e construir relações mais equilibradas, garantindo bem-estar e maior autonomia para quem recebe o diagnóstico.