VITÓRIA MACEDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O corpo da mulher passa por diversas mudanças durante a gravidez e continua no puerpério, os primeiros meses após a mãe ter o bebê. Nesse período, especialistas dizem que a atenção à alimentação deve ser tão saudável quanto na gestação, principalmente para aquelas que amamentam.
Desde quando descobriu que estava grávida, Bárbara Fiorezzi, 29, priorizou a alimentação. “Assim que eu soube, eu já procurei uma nutricionista especializada em gestantes, eu não queria ganhar muito peso para ter que perder depois”, diz. Ela é mãe do Pietro, de quatro meses.
Fiorezzi teve diabetes gestacional nos últimos meses da gravidez e por isso seguiu à risca uma dieta específica. “Cortei totalmente o açúcar e tinha que prestar atenção no carboidrato também”.
É comum mães adotarem dietas nutritivas e saudáveis durante a gravidez, mas deixarem os hábitos saudáveis de lado quando o bebê nasce, como aconteceu com a própria Fiorezzi.
Porém, especialistas afirmam que uma alimentação balanceada é fundamental no puerpério. “A mulher acabou de passar por um processo altamente inflamatório, que é o parto. A alimentação ajuda o corpo na recuperação de toda essa inflamação”, afirma Mayra Penido, nutricionista especialista em saúde da mulher.
A principal dica é consumir muita água. A hidratação de no mínimo três litros de água por dia é fundamental para produzir o leite.
Além disso, é um período que demanda muita energia da mãe. Por isso, nutricionistas indicam uma alimentação cheia de nutrientes, baseada em carboidratos complexos, proteínas, gorduras –os macronutrientes–, e vitaminas e minerais, que são os micronutrientes.
São importantes alimentos ricos em ferro e vitamina C, como pimentões vermelhos e amarelos, acerola e mamão. Além de carnes vermelhas magras e miúdos em geral para evitar deficiência de ferro.
Mitos e verdades sobre a amamentação
“Nos primeiros meses de vida desse recém-nascido, há uma janela imunológica muito importante. Ela vai ser construída a partir dos hábitos alimentares dessa mãe, que está sendo passada via leite”, diz Lucila Santinon, nutricionista da Vitafor. Se a mãe come muitos alimentos ultraprocessados e gordura trans, pode passar para para a flora intestinal do bebê aumentar a possibilidade de ser uma criança obesa.
Existem alguns mitos sobre a amamentação. Um deles é sobre a cerveja preta aumentar a produção de leite. Penido diz que isso não é verdade e, inclusive, o consumo de álcool pode ser perigoso. “Não é muito bom porque ele passa pelos núcleos lactíferos, que produzem o leite, e o bebê vai ingerir álcool junto com o leite”, explica Thaís de Merci, nutricionista e doutora em biologia celular e reprodução.
O feijão também pode ser visto como vilão causador de cólicas por algumas pessoas. Mas isso não é totalmente verdade. O alimento, segundo as nutricionistas, têm fibras que não passam para a criança.
O que vale é observar a reação do bebê e da mãe. O que ela recomenda é deixar o feijão de molho por 24 horas para excluir os antinutrientes que causam desconforto e gases. Vale lembrar que a cólica no bebê é esperada por conta da imaturidade do trato intestinal, que está em formação.
Penido, no entanto, reforça que há algumas leguminosas que têm relação com cólica, como por exemplo couve-flor, brócolis, alho e cebola, alimentos ricos em um carboidrato fermentativo geralmente mal absorvido pelo organismo.
E, por fim, o café. “O principal alimento que causa cólica do neném é justamente a cafeína, que aumenta a motilidade intestinal do bebe, faz com que o intestino dele se mexa muito rápido e cause cólica”, diz Thaís.
As canjas são recomendadas, mas não por algum poder milagroso, e sim por serem ricas em carboidratos e terem bastante líquido.
Processo de emagrecimento
O ganho de peso é natural durante a gestação, mas o processo de retorno ao peso pode ser dificultado pela mudança hormonal. Essa é uma preocupação para muitas delas. Esse processo, no entanto, deve ser feito com acompanhamento nutricional.
Ialy Nascimento, 29, mãe da Liz, de quatro meses, engordou 17 kg durante a gestação. Ela conta que tinha muita vontade de comer doce, o que é comum entre grávidas.
Segundo Elaine Dias, endocrinologista, essa é uma resposta do corpo que fica sob estresse.
“É devido à produção dos hormônios que a gente chama de contra-reguladores, que provocam uma diminuição do metabolismo e aumento da vontade de comer coisas doces e palatáveis”, diz.
“Um déficit calórico muito alto pode prejudicar a imunidade da mãe, do bebê e pode reduzir o volume do leite produzido, entre muitas outras consequências até mesmo mentais, por exemplo, trazendo uma maior predisposição a uma depressão pós-parto”, diz Santinon.
Organização e rede de apoio
É tanta preocupação nos primeiros meses de vida do filho que às vezes mal sobra tempo para pensar em comer. Penido recomenda preparar marmitas nas últimas semanas da gestação e deixá-las congeladas para quando o filho nascer facilitar a rotina. Foi o que facilitou a vida de Fiorezzi e o que ela faz até hoje.
“Antes dele nascer, a gente preparou várias marmitas, encheu o congelador de comida pronta. É uma marmita mais saudável, com arroz integral, legumes e carne moída. Então a gente tinha bastante comida estocada, porque não dá tempo de fazer nada”, diz.
Além disso, ela conta que a ajuda do marido, que uniu os dois dias de licença-paternidade com um mês de férias, foi fundamental para comer nos horários certos.
O mesmo aconteceu com Nascimento, que conseguiu seguir uma alimentação saudável nas primeiras semanas por estar com a família. “Eu melhorei minha alimentação porque estava na casa dos meus pais, minha mãe cozinhava e eu acabava fazendo uma dieta bem tranquila”, diz.