Um estudo que usou como base o peso e as medidas corporais de 7,5 milhões de pessoas de todos os continentes indica que o chamado IMC (índice de massa corporal) é um bom indicativo da presença de excesso de gordura no abdômen e pressão alta mundo afora.
Além disso, outra medida relativamente simples a razão entre a circunferência da cintura e a altura da pessoa mostrou-se igualmente útil para estimar a presença dessas condições, que podem estar na raiz de problemas cardiovasculares mais sérios.
O estudo sobre o tema acaba de sair na revista médica Lancet, uma das mais influentes do mundo. A equipe responsábel pelo trabalho, liderada por Majid Ezzati, da Escola de Saúde Pública do Imperial College de Londres, reuniu numa única base estatística dados de mais de 800 estudos anteriores, feitos entre 1990 e 2023.
Para avaliar a presença de sobrepeso, obesidade e problemas de saúde relacionados a essas condições, o IMC é muito usado como primeira avaliação. Em grande parte, isso se dá por causa da facilidade de aplicar essa medida. Para calcular o índice de massa corporal, basta dividir o peso da pessoa (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado.
O número resultante permite a classificação simplificada em peso considerado normal (IMC entre 18,6 e 24,9), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9) e assim por diante. A razão entre cintura e altura também permite uma classificação similar. No primeiro caso, basta uma balança e uma fita métrica para avaliar o paciente; no segundo, a fita métrica, sozinha, já é suficiente.
No entanto, com o aparecimento de formas mais sofisticadas de avaliar a presença de tecido adiposo (gordura) no corpo, além das variações individuais de ordem genética e ambiental, há debates sobre a verdadeira utilidade desse tipo de medida.
A hipótese de Ezzati e seus colegas no novo estudo, porém, é que o IMC e a razão entre cintura e altura são úteis o suficiente para capturar alguns aspectos da mudança metabólica associada ao ganho de peso na maioria das pessoas. Isso incluiria principalmente a hipertensão, que traz consigo uma série de outros riscos, como problemas cardíacos e AVCs (acidentes vasculares cerebrais ou, mais popularmente, derrames).
Os dados compilados pela equipe vêm de pacientes com idades entre 20 anos e 64 anos, não podendo necessariamente, portanto, ser generalizados para pessoas idosas. De maneira geral, eles verificaram que há uma correlação alta entre IMC e razão entre cintura e altura, embora as medidas nem sempre coincidam.
As duas medidas também estão claramente correlacionadas com maior probabilidade de pressão alta no grupo estudado, e isso é verdade em todas as regiões do mundo em geral, níveis mais altos de IMC e de razão cintura/altura estão associados à hipertensão. Mas a faixa exata em que isso acontece varia de forma significativa de região para região e também de acordo com o sexo do paciente.
Na África ao sul do Saara, por exemplo, homens com IMC considerado normal (menos de 25) correspondem a 45% dos hipertensos. Já na Oceania, em que há populações com mais facilidade para ganhar peso quando consomem dietas ocidentalizadas, essa proporção de homens com pressão alta só aparece entre os que têm IMC igual ao superior a 30.
Apesar dessas variações regionais relevantes, a associação entre o aumento das duas medidas e a presença de pressão alta continua válida, indicando que elas são uma ferramenta importante para o acompanhamento dos problemas cardiovasculares, apesar de suas imprecisões.