O Ministério da Saúde atualizou em 2023 o PCDT (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas) de anemia por deficiência de ferro com a incorporação ao SUS (Sistema Único de Saúde) de dois medicamentos para tratamento da condição. Os remédios deveriam estar disponíveis no sistema público em até 180 dias, mas o atraso chega a pouco mais de dois anos.
Os novos medicamentos, ferripolimaltose e carboximaltose férrica, são administrados por via intravenosa. O primeiro é indicado para pacientes que apresentam intolerância ao sulfato ferroso, enquanto o segundo é indicado para adultos com anemia por deficiência de ferro que não toleram ou têm contraindicação a qualquer sal oral de ferro.
Procurado, o Ministério da Saúde diz que o PCDT atualizado com os novos medicamentos passou por consulta pública, recebeu parecer favorável e está em fase de finalização. A ideia é que os remédios sejam disponibilizados após publicação do documento, mas a pasta não deu prazos.
“O Ministério da Saúde segue com os trâmites para a oferta do novo medicamento no SUS”, diz a pasta. “O SUS oferece tratamento para anemia por deficiência de ferro com medicamentos já incorporados, como sulfato ferroso e sacarato de óxido férrico, disponíveis em toda a rede pública. Os pacientes contam ainda com acompanhamento multiprofissional, desde a atenção primária até os serviços especializados, conforme a gravidade de cada caso.”
A anemia é uma doença que causa a redução da concentração de hemoglobina, proteína responsável por transportar o oxigênio pelo sangue. Crianças, gestantes, lactantes, meninas adolescentes e mulheres adultas em fase reprodutiva são os grupos mais afetados pela doença, segundo o Ministério da Saúde.
No SUS, o tratamento padrão para anemia por deficiência de ferro é feito com sais de ferro orais, como o sulfato ferroso, administrado por via oral, e também com sacarato de óxido férrico, fornecido por via oral ou intravenosa.
Os novos medicamentos, quando comparados com os remédios usados hoje, permitem que a dose total seja aplicada em uma ou duas infusões na veia, em vez de múltiplas sessões como ocorre com o tratamento tradicional. Com isso, o tempo de administração é reduzido, a recuperação da anemia é mais rápida, os efeitos adversos como náuseas e diarreia são menores, além de reduzir os deslocamentos dos pacientes até um centro de infusão.
Responsável Técnico do Serviço de Hemoterapia dos Hospitais Nove de Julho e Santa Paula e professor na FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), o hematologista César de Almeida Neto explica que o PCDT define quem deve receber o medicamento, como, qual posologia (forma de administração) e custeio.
Ele alerta que, embora os sais orais de ferro funcionem bem para muitas pessoas, alguns pacientes como gestantes no primeiro trimestre, portadores de doenças inflamatórias intestinais ou pós-cirurgia bariátrica não respondem bem ou têm intolerância ao medicamento oral. Nesses casos, o ferro intravenoso é indicado.
Segundo o especialista, a falta do medicamento pode causar anemia persistente, maior risco de complicações em gestantes, déficit cognitivo e físico, menor qualidade de vida e maior dependência de transfusões, que não tratam a causa da anemia. O ferro intravenoso de alta concentração reduz tempo de hospitalização, complicações pós-operatórias e necessidade de transfusão sanguínea.
Rodolfo Cançado, hematologista especialista em anemias e doenças do ferro e membro da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular), diz que há mais de 10 PCDTs aprovados para incoporação de medicamentos que visam o tratamento de pacientes com condições hematológicas e que ainda não foram publicados.
A ABHH afirma que mantém diálogo constante com o governo federal para que as terapias aprovadas cheguem o mais rápido possível aos pacientes que delas necessitam.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.