Um dos tipos de câncer mais incidentes no Brasil, mas ainda pouco falado entre a população, é o de cabeça e pescoço. Julho, mês da campanha Julho Verde, chama atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce desses tumores, que podem afetar regiões como a laringe, cavidade oral, faringe, tireoide e seios paranasais. Os sinais mais comuns incluem feridas que não cicatrizam na boca, rouquidão persistente e dificuldade para engolir.
Em 2024, segundo o Ministério da Saúde (MS), o câncer de laringe era o mais comum entre os tumores malignos de cabeça e pescoço, também com alta incidência na tireoide e na cavidade oral. O Instituto Nacional de Câncer (Inca), por meio da pesquisa ‘Incidência de Câncer no Brasil – Estimativa 2023’, estima que, no triênio 2023-2025, devem ocorrer 7.790 novos casos de câncer de laringe no país, o que corresponde a um risco estimado de 3,59 casos por 100 mil habitantes – sendo 6.570 em homens e 1.220 em mulheres.
O que é Câncer de Cabeça e Pescoço?
O médico cirurgião de cabeça e pescoço Dorival de Carlucci Júnior, diretor de marketing da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), explica que a classificação ‘câncer de cabeça e pescoço’ engloba tumores que afetam estruturas como boca, faringe, laringe, seios paranasais, glândulas salivares, cavidade nasal e até a tireoide. “Especialmente o câncer de boca, garganta e laringe – a soma desses três no sexo masculino acaba sendo o quarto tumor mais frequente no corpo humano”, ressalta.
Ele ressalta que a principal causa está associada ao tabagismo, independentemente do tipo de fumo utilizado, desde o cigarro conhecido tradicionalmente até a maconha. “Só o tabagismo já é um fator de risco muito importante. Contudo, o álcool potencializa o efeito ruim do cigarro”, acrescenta.
Na cavidade oral, segundo o médico, feridas recorrentes ou próteses dentárias mal ajustadas também podem contribuir para o surgimento de lesões que, com o tempo, podem se tornar malignas. Já na região da garganta, os tumores na orofaringe, especialmente nas amígdalas, têm aumentado devido à infecção pelo vírus papilomavírus humano (HPV), o mesmo responsável por causar câncer no pênis, por exemplo. “A vacinação e o cuidado com o número de parceiros sexuais são fundamentais”, destaca. As cordas vocais, por sua vez, são bastante afetadas pelo consumo de álcool e cigarro.
Sinais de Alerta e Diagnóstico
Entre os principais sinais de alerta, Carlucci aponta a persistência de feridas na boca por mais de duas semanas, alterações na voz e dificuldade para engolir. “Na boca, qualquer afta que demorar mais que duas semanas para cicatrizar precisa ser vista. Machucados parecidos com afta, na língua, na bochecha, ou causam desconforto para engolir, precisam ser examinados – e o próprio dentista pode verificar”.
Ele também ressalta que uma rouquidão que persiste por mais de duas semanas pode indicar uma lesão nas cordas vocais e deve ser avaliada por um especialista como o otorrinolaringologista. “Na garganta é muito comum o paciente já ter um tumor espalhado no pescoço e perceber como se fosse uma bolinha, uma íngua; nódulos no pescoço devem ser investigados”.
Nas mulheres, Dorival frisa que os tumores de tireoide merecem atenção especial, já que esse é o quinto tipo mais frequente no sexo feminino. Além disso, a infecção por HPV também se apresenta como um importante fator de risco, especialmente em casos de tumores na região da orofaringe.
“Infelizmente, são lesões pouco conhecidas da população e de vários profissionais. É muito frequente ter afta e tratar como se fosse algo simples, com soluções caseiras”, lamenta o médico sobre os casos que potencializam os índices de diagnósticos tardios. “A ajuda às vezes demora, e só quando está maior é que é feita a biópsia. E quando tem o resultado, é encaminhado para um serviço terciário para fazer o tratamento”, relata.
Por isso, segundo ele, campanhas como o Julho Verde são fundamentais: “a campanha tem a função de divulgar tanto para a população quanto para os médicos e profissionais. Este ano tem como slogan ‘Informação salva vidas’”.
Tratamento e Conscientização
TRATAMENTO
O tratamento depende do estágio da doença. Lesões pequenas e diagnosticadas cedo podem ser removidas com cirurgia simples e rápida. “Uma afta na língua que mede um centímetro pode ser retirada com um corte de 2 a 3 cm, e é possível fazer uma cirurgia sem causar disfunção da língua. Em outros casos mais complicados, às vezes é preciso o auxílio de um cirurgião plástico para reconstruir e, em outros, complementar com radioterapia”, detalha. Já nos casos mais avançados, a abordagem muda. “Em estágios maiores, nem sempre a cirurgia é indicada; sendo necessário rádio e quimioterapia”.
O alerta é reforçado pelos números: “80% dos casos ainda são descobertos tardiamente, quando a doença já avançou. No entanto, as chances de cura chegam a 90% quando o diagnóstico é feito precocemente”, pontua Carlucci.
DATA
O Dia de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço é comemorado anualmente em 27 de julho, mas o mês já vinha sendo observado desde 2015 por iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) e tornou-se oficial desde 2022, com a sanção da referida Lei nº 14.328/2022 com o objetivo de levar conscientização, prevenção e combate a esses tipos de câncer que se desenvolvem na região da boca, orofaringe, laringe – local onde estão as cordas vocais –, nariz, seios nasais, nasofaringe, órbita, pescoço, tireoide, couro cabeludo, pele do rosto e do pescoço.