Dr. Responde

Insuficiência cardíaca - mal silencioso e traiçoeiro 

O ano de 2024 pode trazer respostas importantes para doenças como malária, Aids, e Parkinson, de acordo com as revistas Science e Nature Medicine. Foto: Freepik
O ano de 2024 pode trazer respostas importantes para doenças como malária, Aids, e Parkinson, de acordo com as revistas Science e Nature Medicine. Foto: Freepik

Cintia Magno

A insuficiência cardíaca é uma doença grave, responsável pelo maior número de internações entre as doenças não infectocontagiosas e que causa mais mortes do que diferentes tipos de câncer no Brasil, segundo revela um estudo conduzido por um pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) em 2022. Apesar da gravidade que a doença pode representar, a adesão ao tratamento ainda é um desafio.

O médico cardiologista Vitor de Holanda (@drvitordeholanda) considera que, apesar de ser uma doença séria e que acomete uma parte enorme da população, pouca gente sabe como ela se comporta. Mas, para entender como ela se manifesta, o médico reforça que, antes, é preciso compreender como funciona o coração.

“O coração é uma bomba hidráulica, como essas bombas que se colocam em poço ou em cisternas para levar água para uma caixa d’água, só que ao invés de ser feito de ferro, igual essas bombas, o nosso coração é feito de músculo e a função dele é a mesma da bomba, bombear o sangue de um local para o outro”, exemplifica.

“Então, digamos que a gente ligue uma bomba, mas a energia que alimenta ela está fraca, o que acontece é que a bomba não vai jogar com muita força essa água, então, haverá uma diminuição da força de bombeamento. A mesma coisa ocorre com o coração, então, a insuficiência cardíaca é a incapacidade do coração de bombear sangue, a incapacidade de bombear nutrientes, oxigênio, glicose para todas as células do corpo, de fazer circular o sangue”.

De acordo com o médico, a causa mais comum da insuficiência cardíaca é a isquêmica, quando as artérias do coração ficam entupidas, podendo levar a um infarto. “A doença isquêmica também pode ser, como a gente chama na medicina, insidiosa, ou seja, ela é silenciosa, traiçoeira. Ela vem de uma forma em que o paciente não sinta nada. Pelo estilo de vida, muito trabalho, estresse o paciente vai vivendo e continuamente e instintivamente vai diminuindo a sua atividade física, a sua carga de trabalho do dia a dia, até que um belo dia ele percebe que tem falta de ar para fazer coisas simples, como caminhar até uma parada de ônibus ou carregar um botijão de água, e que começam a inchar os pés, isso já são os sinais clínicos da insuficiência cardíaca”.

DOENÇA DE CHAGAS

Especialmente na região amazônica, outra causa comum da insuficiência cardíaca é a infecção pelo Chagas, pela peculiaridade do desenvolvimento da Doença de Chagas, causada pela ingestão do açaí contaminado. Por isso, é sempre importante ressaltar a importância do processo de branqueamento do açaí, que elimina este risco.

OUTRAS CAUSAS 

Além dessa, o cardiologista aponta que existem ainda outras causas para a insuficiência cardíaca. “Existem causas congênitas, aquelas causas em que o paciente nasce com más formações no coração que, se não tratadas de forma rápida e eficiente, vão levar à insuficiência cardíaca”, aponta.

“Existem, também, as causas virais, quando o paciente tem uma infecção viral, por isso a gente orienta que se a pessoa está gripada, está com aquela virose, evite fazer atividade física intensa e busque repousar e se recuperar porque, ao realizar atividade física intensa, o vírus pode se alojar no coração e causar uma miocardite, que é uma inflamação do coração, e essa miocardite pode levar também a um quadro de insuficiência cardíaca de forma aguda, que em alguns casos pode até ser fatal. Outra causa frequente de insuficiência cardíaca é a obesidade, que a gente tem que levar muito a sério”.

Tratamento da insuficiência cardíaca tem avançado 

Para que as intervenções médicas necessárias possam ser realizadas o quanto antes, é fundamental estar atento aos sinais da insuficiência cardíaca. O médico cardiologista Vitor de Holanda aponta que os principais sintomas de quem tem insuficiência cardíaca são o cansaço, aquela falta de ar que a pessoa sente quando faz um esforço mesmo que não tão intenso.

“Por vezes, o paciente chega falando de fadiga. A gente tem que investigar a insuficiência cardíaca nesses casos também porque confunde com a anemia, alguns dizem que é verminose, então, a gente tem que tomar cuidado porque o primeiro sintoma pode ser justamente essa astenia”, considera.

“Pode começar com o inchaço das pernas; o cansaço durante a madrugada, ou seja, o paciente se deita para dormir e duas a três horas depois do período de sono ele acorda com uma intensa falta de ar, como se estivesse se afogando. Isso é uma situação que fala a favor de insuficiência cardíaca também. Outra situação comum no consultório é o paciente do sexo masculino dizer que está tendo perda da potência sexual, diminuição da função sexual ou dificuldade de continuar o ato ou de iniciar o ato, isso também pode ser caracterizado como um dos sintomas”.

Apesar de ser uma doença com grande mortalidade, o tratamento da insuficiência cardíaca tem avançado consideravelmente nos últimos anos. Hoje, o médico destaca que já se dispõe de medicamentos de altíssima qualidade e muitas dessas medicações são encontradas de forma gratuita no SUS (Sistema Único de Saúde).

“Além do tratamento medicamentoso, existe também a cirurgia. Em alguns casos se faz a cirurgia de troca de válvula, onde o paciente vai melhorar dos sintomas e das complicações; outros vão fazer a cirurgia de revascularização, que são as famosas pontes, a ponte de safena ou o cateterismo com angioplastia, colocação dos Stentes coronarianos. Isso melhora a qualidade de vida e em alguns pacientes recupera a função do coração, o coração volta a bombear bem o sangue novamente”.

Da mesma forma, tais cirurgias também são oferecidas pelo SUS e, de acordo com o cardiologista, feitas com extrema qualidade, sobretudo no Estado do Pará. “Hoje, Marabá já faz cateterismo pelo SUS, Santarém, Belém, Castanhal; ou seja, os pacientes estão cada vez mais sendo beneficiados com o tratamento do coração e isso realmente deixa a gente mais otimista com relação à evolução da doença cardíaca”.

Antes que seja necessário passar por algum desses procedimentos, o ideal é atuar preventivamente, buscar manter uma vida saudável que proporcione saúde também ao coração. “A prevenção da doença cardíaca é aquilo que vem sendo falado há décadas. O melhor tratamento e a melhor prevenção sempre vai ser um bom estilo de vida.”, evidencia o médico.

“Para se ter uma ideia, 5% de redução do peso pode levar a até 20% de redução da pressão. Por exemplo, o paciente que pesa 100 kg e que passa a pesar 95 Kg, sai de uma pressão de 15 por 8, para uma pressão de 13 por 8, ou seja, ele sai de uma pressão alta para uma pressão normal, apenas reduzindo peso. A maioria dos pacientes que desenvolvem complicações cardiológicas são porque não fazem tratamento da pressão adequada, não fazem o tratamento da diabetes adequado e não têm o estilo de vida com atividade física”.

ESTILO DE VIDA – PREVENÇÃO

O médico cardiologista Vitor de Holanda destaca que a prevenção é a base para se evitar a insuficiência cardíaca. Uma vida com atividade física regular de pelo menos 30 minutos diários, uma alimentação balanceada, pobre em carboidratos, pobre em excesso de gorduras saturadas, com menos enlatados e embutidos, com mais frutas e verduras diminui significativamente a chance de alguém evoluir para insuficiência cardíaca.