Cintia Magno
Afetando diretamente uma condição essencial para a manutenção da saúde, os transtornos do sono estão relacionados a muitas manifestações. Para além das manifestações noturnas, como ronco, apneias e movimento de pernas, por exemplo, não é raro que os transtornos do sono causem também manifestações diurnas como a fadiga, o cansaço, sensação de sono não reparador. Independente dos efeitos, dentre os mais de 70 transtornos do sono existentes na última versão da Classificação Internacional de Doenças (CID), a insônia é um dos que mais afetam a população.
O neurologista e presidente da regional Amazonas da Associação Brasileira do Sono, Dr. Carlos Maurício Almeida, aponta que a insônia e a apneia do sono são os transtornos do sono mais prevalentes. Há trabalhos que mostram, por exemplo, que a prevalência da insônia fica entre 20% e 30% da população.
“Ela se caracteriza por uma dificuldade não só de iniciar, mas de manter o sono e às vezes o despertar antes da hora, associada ao comprometimento em cima das atividades diárias como, por exemplo, o impacto em cima das atividades profissionais, do bem-estar, da qualidade de vida de uma forma geral. Então, é preciso ter essas queixas associadas ao acometimento de alguma dessas funções relacionadas a atividades diárias, seja profissional, pessoal ou cognitiva”, explica, ao informar que outra condição que caracteriza o transtorno da insônia é a manutenção desses sintomas por pelo menos três meses.
GENÉTICA
Em muitos casos, a ocorrência desse tipo de quadro terá influência de fatores genéticos. “Existem algumas condições que aumentam o risco para o desenvolvimento de insônia. A gente sabe que há fatores genéticos relacionados ao desenvolvimento da insônia, então, quem tem um parente em primeiro grau que tem insônia, tem mais chance de desenvolver a insônia. Existem estudos epidemiológicos que demonstram isso”, aponta o neurologista.
“A pessoa que tem algum transtorno do humor, ansiedade, depressão, também tem maior risco de desenvolver insônia, assim como os idosos, além de pacientes com doenças crônicas, como por exemplo, doenças reumatológicas, fibromialgia. Então, existem algumas condições, alguns fatores de risco associados ao desenvolvimento da insônia na população”.
Dormir menos que o recomendado aumenta o risco de mortalidade
De acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono, a necessidade do sono varia ao longo da vida humana. No caso dos recém-nascidos, a necessidade de sono é de, em média, 14h a 17 horas, já os adolescentes precisam dormir em torno de 9h a 10h, o adulto jovem em torno de 8h a 9h e o idoso em torno de 7h a 8h. “Essa necessidade do sono foi baseada em estudos que demonstram, por exemplo, que quando você dorme tanto a mais, quanto a menos dessa média, isso está associado, por exemplo, ao desenvolvimento de várias enfermidades: doenças cardiovasculares e doenças metabólicas como o diabetes. Inclusive, há estudos que demonstram que há um aumento de mortalidade na população que dorme menos que o necessário”.
Justamente pelos efeitos negativos causados pela insônia à saúde geral do indivíduo, é fundamental que se busque o tratamento adequado para o problema. “De uma forma geral, sabemos que o tratamento inicial da insônia é um tratamento não medicamentoso, com medidas que promovam uma qualidade do sono como, por exemplo, a higiene do sono.
HIGIENE DO SONO
Existem algumas orientações relacionadas a isso como praticar atividades físicas regulares, tentar evitar o uso de bebidas cafeinadas e refeições pesadas próximo ao horário de dormir, estabelecer uma rotina para você ir para cama e acordar, tentar esvaziar os pensamentos excessivos antes de dormir, fazer atividades relaxantes e atividades que promovam uma psicoeducação adequada”, enumera o Dr. Carlos Maurício Almeida.
“Hoje, o tratamento não farmacológico é baseado em uma terapia cognitivo comportamental, que deve ser praticada por psicólogos treinados para isso e em casos selecionados, ou, às vezes de forma conjunta, você pode estabelecer o tratamento medicamentoso. Sabemos que há algumas medicações que são estabelecidas para isso, direcionadas para a insônia, mas elas devem ser sempre prescritas com orientação médica e normalmente associado a uma terapia não farmacológica”.