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Hospital Ophir Loyola está habilitado para transplante de medula óssea

Em Belém, Hospital Ophir Loyola adere à campanha nacional sobre leucemia. Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará.
Em Belém, Hospital Ophir Loyola adere à campanha nacional sobre leucemia. Foto: Mauro Ângelo/Diário do Pará.

O Ministério da Saúde publicou, nesta segunda-feira (29), a Portaria n° 462, de 25 de maio de 2023, credencia o Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém, como centro de transplante de medula óssea, ampliando as modalidades de transplantes no Estado através da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

O serviço atuará em cooperação técnica com a Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa), e deve iniciar os procedimentos no mês de junho. A princípio, a instituição, que é referência em tratamento oncológico no Norte do Brasil, realizará o transplante autólogo – que utiliza a medula do próprio paciente no procedimento.

“Estamos muito felizes com esta notícia, pois ter mais uma instituição apta a realizar esse procedimento, é um avanço para a saúde como um todo. Historicamente sabemos das dificuldades para aqueles que necessitam de um transplante desta natureza, por isso este credenciamento vem para somar ao trabalho que está sendo feito no Estado e com isso queremos salvar ainda mais vidas”, disse o Secretário de Saúde do Estado, Rômulo Rodovalho.

A portaria, publicada no Diário Oficial da União, “concede autorização à estabelecimento e à equipe de saúde para retirada e transplante de células tronco hematopoiéticas”, diz um trecho do documento. “É preciso agradecer a todos que lutaram para que estre processo se tornasse possível. Isto permitirá que o Estado atenda um maior número de pessoas que aguardam por um transplante”, disse o titular da Sespa, Rômulo Rodovalho.

Para a diretora-geral do HOL, Ivete Vaz, o credenciamento é mais um reconhecimento à importância da instituição e ao trabalho desenvolvido nos últimos anos. “Estamos diante de um grande marco na saúde do Pará, o HOL será o primeiro centro transplantador de medula óssea do SUS no Norte do Brasil. É com imensa alegria que nós, da diretoria, celebramos a conquista de um recurso terapêutico tão importante para o tratamento de doenças hematológicas graves que acometem os nossos usuários. Com o apoio do governo do Estado, seguiremos buscando mais avanços para o tratamento de alta complexidade em oncologia”, destacou a gestora Ivete Vaz.

A medula óssea é o tecido líquido que ocupa o interior dos ossos e é responsável pela produção das células-tronco hematopoiéticas, que geram elementos do sangue, como os glóbulos vermelhos (encarregados pelo transporte de oxigênio), glóbulos brancos (responsáveis pelo combate às infecções), e plaquetas (que protegem o organismo contra as hemorragias).

“De 1999 até 2021, no Pará eram realizados apenas dois tipos de transplantes. A ampliação do Sistema Estadual de Transplantes só foi possível após duas décadas realizando apenas o transplante de córnea e de rim. Com o fortalecimento da política do Sistema Estadual de Transplantes a partir de 2019 e a participação ativa e investimentos da SESPA junto a Central Estadual de Transplantes foi possível essa ampliação na rede de transplantes do Estado com a inclusão do transplante de fígado na Santa Casa em 2022 e agora com o Transplante de Medula óssea no Hospital Ophir Loyola”, disse Ierecê Miranda, Coordenadora Estadual da Central de Transplantes do Pará.

Mais sobre transplantes de médula óssea

O Transplante de Medula Óssea (TMO) busca substituir o tecido doente por meio de duas modalidades: a autóloga e a alogênica. No primeiro tipo, as células transplantadas são originárias do próprio paciente. O material é coletado e armazenado para ser devolvido após o usuário ser submetido a doses de tratamento que erradique células doentes. Com isso, a medula óssea, que é considerada a fábrica do sangue, passa a ser reconstituída a partir das células coletadas previamente. Já no TMO alogênico, a equipe médica utiliza a medula de doador aparentado ou cadastrado no banco de voluntários.

“No transplante autólogo, que será realizado neste primeiro momento no Ophir Loyola, a medula é coletada do próprio paciente e armazenada para que possa ser infundida posteriormente. Esse tipo de transplante amplia a capacidade de controle ou promove a cura de doenças, sendo bastante indicado para linfomas e mieloma múltiplo. Já o transplante alogênico, que pretendemos realizar daqui a um tempo no HOL, a medula que será transplantada vem de outro doador saudável”, explica o responsável técnico do Serviço de Transplante de Medula Óssea do HOL, o onco-hematologista Thiago Xavier Carneiro.

Como funciona

O TMO autólogo é realizado ao longo de, aproximadamente, um mês. A primeira fase (mobilização) ocorre entre uma e duas semanas. Nesse período, o paciente recebe medicamentos para que a medula migre de dentro dos ossos para o sangue a fim de facilitar a coleta. Em seguida, ocorre a aférese (separação das células-tronco dos componentes do sangue por meio de centrifugação), no qual uma máquina realiza um procedimento similar ao da hemodiálise. Por fim, a medula é congelada por meio de técnica de congelamento conhecida como criopreservação.

Antes de ser submetido a um transplante de medula, o paciente recebe tratamento quimioterápico no sentido de destruir células doentes. A aptidão para o TMO envolve orientações, esclarecimentos e condicionamento do corpo para que o paciente receba células que devem conceber a nova medula saudável. No dia da infusão da medula, também conhecido como Dia Zero, ocorre procedimento parecido com uma transfusão de sangue.

“Durante o preparo para o transplante, o paciente passa por quimioterapia para que o organismo esteja apto a receber a medula. Só depois o transplante propriamente dito é realizado. Ao recebermos de volta a medula armazenada no Hemopa, o material é descongelado e infundido no paciente como se fosse uma transfusão sanguínea à beira leito. Nos dez dias seguintes, o paciente ficará internado sob cuidados e observação da equipe até que recupere a imunidade”, explicou o médico, ressaltando que os cuidados e acompanhamentos pós-transplantes podem se estender por até seis meses.

Indicações

Pacientes com leucemias, linfomas, síndromes mielodisplásicas, mieloma múltiplo e tumores sólidos são elegíveis para o procedimento que, a depender do caso, pode representar a cura e uma vida normal. Contudo, vale ressaltar que a viabilidade ou não de um transplante é específica e deve ser determinada por um onco-hematologista, pois depende do tipo, extensão da doença e de alterações moleculares detectadas.

“Dependendo da doença e do estágio, o transplante pode ajudar a controlar ou fazer com que uma doença incurável fique anos desaparecida, sem retornar. No entanto, o que chama muito a atenção para o transplante de medula óssea é a sua capacidade de curar algumas doenças, especialmente as leucemias”, afirmou o onco-hematologista.

De imediato, a expectativa é que seja realizado um transplante de medula óssea por mês. “Iniciaremos com um transplante por vez. Mas poderemos, com a equipe médica, ampliar a capacidade para eventualmente realizar de seis a oito transplantes mensais. O Hospital já dispõe de medicação necessária e o Hemopa já assinou um termo de cooperação garantindo estar preparado para nos ajudar”, explicou Xavier.

Segundo a Sociedade Brasileira de Transplantes de Medula Óssea (Sbtmo), o Brasil é o terceiro maior banco de medula óssea do mundo. No Pará, o Hemopa é responsável por realizar o cadastro de voluntários no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) e notificar em caso de compatibilidade. “Vá ao Hemopa, doe sangue, porque é fundamental, e no momento da doação de sangue, diga que quer ser doador de medula. Você não vai ser submetido a nenhum procedimento adicional. O sangue que você doou será usado para cadastrar o doador no banco e um dia você pode ser convocado para doar medula e salvar uma vida”, ressaltou o especialista.