Cintia Magno
Grupo de doenças intestinais causadas por diferentes parasitos, as geo-helmintíases são classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças negligenciadas e que são mais comumente registradas em populações que residem em áreas com baixo índice de saneamento básico e acesso à água potável.
A coordenadora de Controle de Esquistossomose, Filariose, Geo-helmintos e Tracoma da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), Antonilde Sá, esclarece que esse grupo de doenças, as geo-helmintíases, são causadas por vermes como Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancylostoma duodenale, Necator americanus e Enterobius vermicularis. Tais parasitos se assemelham, entre outros fatores, por compartilharem a mesma forma de infecção ao ser humano. “A transmissão ocorre ao ingerir ovos desses parasitas ou ao entrar em contato com solo contaminado por suas larvas. Essas doenças estão ligadas à falta de saneamento, tratamento de água inadequado, falta de educação em saúde e higiene básica”.
Nesse sentido, Antonilde explica que as geo-helmintíases podem afetar pessoas de todas as idades, causando vários problemas. Além de quadros assintomáticos, as pessoas acometidas pela doença podem apresentar sintomas como náuseas, diarreia, dores abdominais, falta de apetite, anemia, tosse, febre, perda de peso e cansaço. “Geralmente, o tempo desde a infecção até a eliminação dos ovos no ambiente, através das fezes, varia de 40 a 60 dias, dependendo da espécie do verme”.
Independente deste tempo, diante da identificação da doença é fundamental que o paciente busque o tratamento médico adequado, a fim de evitar complicações. “Se as verminoses não forem previamente tratadas, podem causar complicações graves, como inflamação crônica nos pulmões e no intestino, formação de granulomas e interferências, que podem levar à morte sem cirurgia”, explica a coordenadora de Controle de Esquistossomose, Filariose, Geo-helmintos e Tracoma da Sespa. “As crianças, em particular, correm alto risco de infecção por parasitas intestinais, o que pode afetar os níveis de desempenho escolar, concentração e aprendizagem, devido ao crescimento físico e desenvolvimento cognitivo nessa fase”.
VOCÊ SABIA?
Educação sanitária é prevenção
De acordo com o Ministério da Saúde, as geo-helmintíases estão distribuídas por todo o Brasil, sobretudo nas zonas rurais e nas periferias dos centros urbanos. Além de fatores como a ausência de saneamento básico e a ocorrência em áreas de maior concentração de pobreza, o ministério destaca que a falta de conhecimento da população acerca da doença, assim como suas causas, sintomas e formas de prevenção podem influenciar na prevalência das geo-helmintíases no país.
FIQUE POR DENTRO
PARASITOS
Os principais agentes causadores das geo-helmintíases são o Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura e ancilostomídeos (Ancylostoma duodenale e Necator americanus). Conheça um pouco mais sobre eles:
- Ascaris lumbricoides
É popularmente conhecido como “lombriga” ou “bicha”. É o geo-helminto que apresenta o maior tamanho corporal, podendo atingir 30 centímetros. É o mais importante sob o aspecto epidemiológico, pois pode infectar milhares de pessoas. O verme é contraído ao se ingerir os ovos embrionados presentes em água e/ou alimentos crus contaminados, como frutas, verduras e legumes. Uma fêmea de Ascaris elimina, em média, junto com as fezes, cerca de 200.000 ovos por dia.
- Trichuris trichiura
Trata-se de um verme pequeno, de aproximadamente 3 a 5 centímetros, e um corpo afilado na extremidade anterior e espesso posteriormente, o que lhe confere aspecto de “chicote”. Localiza-se principalmente no intestino grosso do hospedeiro. Semelhante ao Ascaris, as pessoas contraem o T. trichiura ingerindo água e/ou alimentos contaminados com os ovos embrionados do parasito. No estômago ou no duodeno, os ovos eclodem e liberam as larvas, que migram até o ceco e evoluem para a forma adulta. Nessa fase, ocorre a cópula e as fêmeas começam a colocar os ovos, eliminando uma média de 5.000 ovos por dia.
- Ancylostoma duodenale e Necator americanus
São parasitos de aproximadamente 1 centímetro de tamanho e que habitam a região do duodeno. Os vermes têm uma ampla cavidade bucal, provida de lâminas e dentes, que lhes permitem aderir à parede do intestino do hospedeiro em busca de alimento (tecido e sangue), fato este que pode promover um acentuado quadro de anemia, o que explica a endemia ser conhecida popularmente como “amarelão”.
Fonte: Guia Prático para o Controle das Geo-helmintíases – Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) – Ministério da Saúde.
TRANSMISSÃO
- As pessoas adquirem o A. lumbricoides e o T. trichiura por meio da ingestão de ovos dos parasitos presentes em mãos sujas, em alimentos crus mal lavados, como hortaliças, legumes e frutas, ou pela ingestão de água não tratada ou não filtrada.
- Hábitos inadequados de higiene como não lavar as mãos após utilizar instalações sanitárias, antes da alimentação, ou na manipulação de alimentos são importantes formas de contágio.
- Já a ancilostomíase ocorre principalmente pela penetração ativa das larvas infectantes do A. duodenal ou N. americanos na pele íntegra do hospedeiro, ou por via oral. O contágio ocorre quando há contato direto da pele com solo contaminado com larvas infectantes ou por sua ingestão com água. No Brasil, mais de 80% das infecções ocorrem pelo N. americanus.
SINAIS E SINTOMAS
Na fase inicial, o paciente pode apresentar:
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Febre,
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Suor,
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Fraqueza,
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Palidez,
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Náuseas,
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Tosse.
Após o surgimento das formas adultas no intestino, podem ocorrer:
- Desconforto abdominal,
- Cólicas intermitentes,
- Perda de apetite,
- Diarreia,
- Dores musculares e
- Anemia de diversos graus.
Obs.: Nas infecções mais intensas com Ascaris, pode ocorrer ainda déficit nutricional. Outras complicações dessas infecções são a obstrução intestinal, requerendo intervenção cirúrgica em casos graves, e as localizações ectópicas dos vermes na vesícula biliar e pâncreas, causando inflamações.
Fonte: Ministério da Saúde.