O cuidado com a saúde mental se tornou prioridade crescente para os brasileiros, mas também tem pesado no bolso das famílias. É o que mostra a mais recente pesquisa realizada pela Serasa em parceria com a Opinion Box, entre os dias 8 e 19 de agosto deste ano, com 1.240 entrevistados de todas as regiões do país.
O levantamento revela que os gastos com medicamentos e terapia psicológica lideram as despesas voltadas ao bem-estar emocional, indicando um aumento expressivo na busca por tratamentos e acompanhamento especializado.
De acordo com o estudo, 38% dos entrevistados afirmaram que têm despesas mensais com medicamentos, enquanto 21% relataram investir em sessões de terapia ou consultas com psicólogos. Na sequência, aparecem os planos de saúde (17%) e consultas com psiquiatras (16%).
Em comparação a 2024, o crescimento foi significativo: no ano passado, os gastos com medicamentos representavam 24% e, agora, chegam a quase 40%. Já o percentual de pessoas que pagam por terapia quase dobrou, saindo de 12,3% para 21%.
O levantamento também aponta quanto os brasileiros têm desembolsado mensalmente para manter esses cuidados. Cerca de 18% gastam até R$ 100 por mês, enquanto a faixa mais comum, que concentra 33% dos entrevistados, fica entre R$ 101 e R$ 300. Para 44% da população, esses custos representam até 10% da renda mensal. Outros 30% relatam que comprometem de 11% a 25% da renda com saúde mental, e 17% dizem que essa fatia chega a 50% dos ganhos. Para 9%, mais da metade de toda a renda familiar é destinada a esses cuidados.
IMPACTO FINANCEIRO
Os números também revelam o impacto financeiro dessa realidade. Cerca de 26% dos entrevistados disseram que os custos com saúde mental geram dificuldades financeiras constantes, enquanto 25% afirmaram enfrentar esse problema de vez em quando. Outros 24% já passaram por situações de aperto, mas conseguiram se organizar. Apenas 25% nunca tiveram restrições financeiras ligadas a esse tipo de despesa.
Entre os principais motivos que impedem as pessoas de investir mais na saúde emocional estão a priorização de outras áreas da vida (20%), a falta de condições financeiras (18%) e a falta de tempo devido a responsabilidades acumuladas (11%).
No Pará, os dados seguem a tendência nacional, com destaque para o aumento da procura por atendimento psicológico e psiquiátrico, principalmente em cidades como Belém, Santarém e Marabá. A demanda crescente tem pressionado tanto a rede pública de saúde, que oferece atendimento gratuito via Sistema Único de Saúde (SUS), quanto os consultórios particulares, onde os custos ainda representam uma barreira para muitas famílias.
Profissionais da área relatam que, nos últimos dois anos, houve crescimento considerável na procura por terapias voltadas à ansiedade, depressão e estresse, agravados por fatores econômicos e sociais, como desemprego e insegurança alimentar.
O levantamento ocorre no mês de setembro, marcado pela campanha Setembro Amarelo, voltada à prevenção do suicídio. Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso da população aos cuidados com a saúde mental.
Segundo especialistas, a combinação de preços elevados e a alta demanda faz com que parte da população tenha de escolher entre manter o tratamento ou priorizar outras necessidades básicas, como alimentação e moradia.
Além de mapear os hábitos de consumo, a pesquisa também evidencia um aspecto social preocupante: a saúde mental deixou de ser um tema restrito a grupos específicos e passou a fazer parte da realidade da maioria das famílias brasileiras.
No caso do Pará, esse desafio se soma a dificuldades estruturais, como a escassez de profissionais em municípios do interior e a necessidade de programas estaduais que fortaleçam a rede de atendimento.
Com base nos dados, a Serasa defende que, assim como ocorre com planejamento financeiro pessoal, é fundamental que governos e instituições invistam em estratégias para reduzir custos e ampliar a oferta de serviços.
O objetivo é que mais pessoas tenham acesso a tratamentos eficazes, evitando que a saúde mental se torne não apenas uma questão de saúde pública, mas também de desigualdade social e econômica.