Sentir um cansaço constante, dores que parecem não ter fim, distúrbios no sono e uma sensibilidade extrema ao toque pode ser mais do que um desconforto passageiro. Esses sintomas, muitas vezes subestimados, podem indicar fibromialgia, uma síndrome crônica, relativamente comum, que, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), afeta cerca de 2% a 3% da população brasileira.
A SBR detalha que a maior incidência é em mulheres, sobretudo na faixa etária entre 30 e 50 anos de idade. A médica Rosana Cruz, doutora em reumatologia e coordenadora do aparelho locomotor da Universidade Federal do Pará (UFPA), explica que a fibromialgia é uma síndrome clínica, que se caracteriza por dores em todo o corpo, principalmente muscular.
“Frequentemente, vem associada a alterações do sono, memória, fadiga, ansiedade e depressão. Faz-se necessário esclarecer a paciente que, apesar de se tratar de uma doença crônica, ela não incapacita e não deforma”, destaca.
Ainda não se sabe ao certo a causa da doença, mas há evidências de que desequilíbrios em neurotransmissores e alterações no sono têm papel importante. “Não existe tendência genética; no entanto, pessoas da mesma família podem ser afetadas pela doença, sendo necessário a avaliação da cinética familiar”.
A doença atinge com maior frequência as mulheres, mas os homens também podem desenvolver os sintomas. Um relato muito comum dos pacientes é “acordar e sentir que o sono não ‘refez’, tendo a sensação de que um trem passou por cima”, comenta Rosana.
Diagnóstico da fibromialgia
O diagnóstico exige um processo cuidadoso e especializado. “Todo e qualquer exame, seja de sangue ou imagem, deve estar normal. Exames do tipo ‘termografia’ e ‘PET scan’ não são aceitos pela Sociedade Brasileira de Reumatologia, Colégio Europeu de Reumatologia ou Colégio Americano de Reumatologia, exame este de alto custo, sem validade”, alerta.
O reumatologista deve descartar doenças que podem simular fibromialgia, “que vão desde uma anemia, passando por hipotireoidismo, carências nutricionais, e até doenças inflamatórias que afetam o esqueleto axial (coluna), como a espondilite anquilosante, a artrite psoriásica, enteroartropatias, e inclusive neoplasias de início insidioso, daí a necessidade de uma avaliação especializada”, detalha.
- Quanto ao tratamento, Rosana destaca a importância de mudanças no estilo de vida, principalmente com a prática regular de exercícios físicos. “A melhor atividade física é aquela que a pessoa gosta, para não arranjar desculpas. Saiba que mesmo com dor, o exercício é essencial”, frisa.
- Além disso, o acompanhamento psicológico é frequentemente recomendado, especialmente terapias cognitivo-comportamentais, que têm mostrado grande eficácia. “Se permitir lazer semanal é obrigatório”, acrescenta.
- Já no campo medicamentoso, o uso de relaxantes musculares e antidepressivos tricíclicos, inibidores de receptação da serotonina podem ajudar a controlar os sintomas. “Quanto ao uso de canabidiol, estudos mais robustos ainda são aguardados”.
- Conhecer, identificar e tratar a doença é o caminho para garantir qualidade de vida e minimizar o sofrimento que acompanha essa condição tão desafiadora.