A promessa de noites de sono mais tranquilas têm impulsionado o consumo da melatonina. Vendida sem necessidade de prescrição médica, a substância se tornou uma aliada para quem sofre com insônia ou tem dificuldade para manter uma rotina de sono regular. Mas o que parece inofensivo pode representar riscos quando consumido sem orientação adequada, principalmente porque nem todo mundo precisa suplementar o hormônio naturalmente produzido pelo cérebro.
O médico neurologista Antônio de Matos explica que a melatonina é um hormônio produzido naturalmente pelo organismo ao longo do dia e liberado durante a noite, com a redução da luminosidade. “Ela atua como um comunicador que sinaliza ao corpo que está na hora de repousar. É um neurotransmissor com papel precioso na finalização intercelular, ajudando o sono a acontecer de forma mais normal e fisiológica possível”, afirma.
Disponível em farmácias e lojas de suplementos, a melatonina, segundo o médico, é geralmente vendida como um suplemento alimentar e pode levar a um uso equivocado. “As doses vendidas costumam ser muito inferiores às necessárias para um tratamento real. Uma única gota, por exemplo, provavelmente não faz efeito nenhum. Mas a automedicação pode agravar o caso”, considera.
A substância é indicada em casos específicos, como distúrbios de sono relacionados à doença de Parkinson, alterações no ciclo circadiano causadas por jet lag, exemplifica o especialista. “Voando contra o fuso horário, mais de 24 horas, há a alteração no ciclo circadiano”, frisa.
O jet lag é um distúrbio temporário do sono que geralmente ocorre após viagens longas de avião, especialmente quando se cruza vários fusos em pouco tempo.
Efeitos
l A melatonina ajuda em distúrbios comportamentais do sono, “como quando o paciente se movimenta muito durante a noite, como se estivesse acordado. Também pode ser útil para pessoas com queixas cognitivas, mas o uso da melatonina tem reações multifacetadas; nunca um único e exclusivo efeito”, alerta Matos.
l Apesar dos benefícios em situações específicas, o uso inadequado pode gerar efeitos indesejáveis. “Há o risco de provocar alterações no ciclo sono-vigília, confusão mental, sedação excessiva, sensação de moleza, perda de alerta e até mudança na regulação térmica do corpo”, detalha o neurologista. Ele acrescenta que a interrupção brusca após o uso contínuo pode, ainda, causar pesadelos intensos e sono desregulado.
l Outro ponto crítico está nas interações medicamentosas. “A melatonina pode alterar o metabolismo de medicamentos usados no controle da pressão arterial e de anticoagulantes, o que pode levar a complicações e, em determinados casos, até a sangramentos. Quem trata distúrbio do sono tem que ter muito cuidado, assim como pacientes pediátricos, psiquiátricos e doenças neurodegenerativas”, orienta.
l Para quem realmente precisa suplementar, o médico pontua que o horário ideal é à noite, geralmente um pouco antes de dormir. Há uma falsa ideia de que quanto maior a dose, melhor será o efeito; contudo, a dose ideal depende da necessidade individual. Em alguns casos, microdosagens já são suficientes, e pode variar de acordo com o quadro clínico, “não considerar as miligramas iguais, pois cada paciente tem casos específicos, com o uso deve ser monitorado por um profissional”, conclui.