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Evandro Chagas: saiba como funciona o instituto

Dr. Francisco Luzio Ramos, médico, pesquisador em saúde pública e chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas. Foto: Divulgação
Dr. Francisco Luzio Ramos, médico, pesquisador em saúde pública e chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas. Foto: Divulgação

Cintia Magno

O trabalho de campo que marcou o início, em 1936, ao instituto de pesquisa que viria a dar origem ao atual Instituto Evandro Chagas (IEC), ainda hoje é a grande expertise da instituição que presta contribuições inestimáveis ao desenvolvimento da pesquisa científica na Amazônia.

Além das centenas de projetos de pesquisa desenvolvidos a partir dos cursos de pós-graduação executados pelo próprio IEC – como o curso de mestrado e doutorado em Virologia e o curso de mestrado em Epidemiologia -, a instituição ainda atende à demanda de projetos de pesquisa desenvolvidos em campo, ao longo da região amazônica.

O médico, pesquisador em saúde pública e chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas, Dr. Francisco Luzio Ramos, destaca que o IEC foi não apenas pioneiro neste tipo de trabalho na região, como é referência na área. “São projetos desenvolvidos em toda a extensão dessa nossa imensa região e o instituto é pioneiro e é expert nisso”, pontua. “Então, isso sempre foi a nossa grande praia: projetos desenvolvidos nessa Amazônia toda, sobretudo onde tem os grandes projetos, como, por exemplo, o projeto Carajás, a Hidrelétrica de Tucuruí, a construção da Transamazônica”.

GRANDES PROJETOS

O pesquisador explica que esses grandes projetos sempre demandaram do IEC uma ação para acompanhamento do comportamento dos agentes nessas regiões onde os projetos foram desenvolvidos. O Instituto também vai a campo atendendo a solicitações feitas pelas secretarias de saúde dos municípios de toda a região amazônica para investigar algum evento de doença que esteja ocorrendo naquele local. Ao se fazer presente, in loco, o IEC faz as pesquisas necessárias e ajuda a esclarecer a causa e o efeito do que vem ocorrendo.

“Então, o resultado desses trabalhos gera muitas informações sobre o comportamento dessas doenças e dos seus agentes infecciosos, se está havendo mudança de comportamento nesta ou naquela região, porque isso está ocorrendo, qual é a causa. O Instituto faz o estudo desde o ambiente, até a pessoa, passando pelos agentes que vivem nestas regiões, e com isso vai esclarecendo a causa de surtos, de epidemias, que ocorrem em determinadas regiões, eventos epidemiológicos inesperados”.

Naturalmente, o resultado dessa atuação que faz parte da origem do próprio IEC gera informações novas que podem ser acessadas pelas secretarias de saúde e pela sociedade por meio de boletins, de trabalhos científicos que são publicados em revistas, por meio de livros etc. “O Instituto informa e as secretarias se apropriam dessas informações, desses novos conhecimentos e, claro, se planejam para fazer as ações de combate e controle que são necessárias em função daquelas informações que são passadas oficialmente”, detalha o dr. Francisco Luzio Ramos.

“Um exemplo bem prático disso se tem, por exemplo, com a Doença de Chagas. A Doença de Chagas aguda, que ocorre aqui na nossa região, é de veiculação alimentar, então, o instituto já fez trabalhos provando, por exemplo, a participação do açaí em vários casos de Doença de Chagas aguda. Isso gerou uma ação da Secretaria de Saúde em cima das vendas de açaí, de modo que se implantasse o branqueamento. Isso é uma ação da vigilância em decorrência de informações que obtiveram a partir de estudos do Instituto Evandro Chagas”.

Ambulatório: IEC presta atendimento ao público em casos específicos

Além das pesquisas de campo, o médico Francisco Luzio Ramos explica que o Instituto Evandro Chagas também promove o atendimento direto ao público, em sua sede, no município de Ananindeua, porém, em casos específicos e que precisam ser encaminhados. “Nós temos um ambulatório que diariamente funciona pela manhã para esse atendimento na investigação de doenças infecciosas, principalmente doenças que cursam com síndrome febril. Qual é a finalidade desse trabalho? É ajudar a esclarecer casos complexos, então, os médicos encaminham para o IEC exatamente aqueles casos de síndrome febril prolongada, uma febre muito provavelmente de causa infecciosa, que já passou de uma semana, ela continua o seu curso e não se tem nenhum resultado que seja possível sinalizar qual seja a causa daquela febre”, explica Francisco Luzio Ramos.

“Médicos tanto do setor público, quanto do setor privado costumam encaminhar esses pacientes para nós. Então, é assim que funciona o nosso ambulatório, para esclarecimento dessas causas de febres, ou então, se está ocorrendo algum surto de uma doença febril em algum bairro de Belém, o instituto pode também interferir, pode fazer uma ação. Claro que, geralmente, essas ações coletivas são em parceria com o município ou com o estado, ou às vezes os três juntos”.

VIGILÂNCIA

No que se refere à contribuição do instituto de pesquisa ao monitoramento e vigilância em saúde pública, o chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas esclarece que, quando há qualquer sinal de um agravo em alguma localidade dentro da Amazônia, o IEC é acionado e uma equipe empreende viagem para o local para que possa investigar a causa. “O que é interessante é que muitas vezes esses surtos que ocorrem no interior já foram detectados aqui no próprio instituto, o IEC identifica que está acontecendo um evento inusitado e já sinaliza para Secretaria de Saúde local que está ocorrendo”, pontua. “No próprio atendimento que o IEC faz diariamente para essas síndromes febris, o instituto também realiza vigilância nessas amostras, notificando as doenças, então, com isso, ele acaba contribuindo com a vigilância do estado e dos municípios de Belém e da Região Metropolitana”.

Outra maneira do IEC participar da vigilância é recebendo material para análise. No Evandro Chagas, todos os laboratórios existentes são de referência, seja no âmbito Estadual, seja no âmbito regional e inclusive no âmbito nacional. “Por conta disso, o IEC recebe material de praticamente todo o Brasil para investigar doenças. Esses materiais já são encaminhados diretamente para os nossos laboratórios. Essa é, também, uma outra maneira do Instituto participar da vigilância dessas doenças no âmbito Estadual, Regional e até Federal”.