No dia 2 de junho foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização dos Transtornos Alimentares, data criada para sensibilizar e informar a população sobre os problemas relacionados a esses distúrbios. A Associação Brasileira de Psiquiatria estima que mais de 70 milhões de pessoas no mundo tenham algum tipo de transtorno alimentar. No Brasil, o número alcança cerca de 15 milhões e acende um alerta para os danos físicos, psicológicos e sociais.
O que são
Anorexia, bulimia e compulsão alimentar são os transtornos mais comuns. No caso da anorexia nervosa, existe um medo intenso de ganhar peso ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso. Os sinais incluem a restrição ao consumo de alimentos levando a um peso corporal abaixo do mínimo normal.
“O indivíduo – geralmente mulher – deixa de comer, come muito pouco, já no caso da anorexia com purgação, a paciente provoca vômitos e faz uso de laxantes e diuréticos”, explica a médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, ABRAN, Eline de Almeida Soriano. O tratamento requer uma abordagem multidisciplinar com psicoterapia, de preferência terapia cognitivo-comportamental, acompanhamento nutricional e quando necessário medicação.
Os impactos que a anorexia nervosa trazem podem ser físicos, psicológicos e até na família, por isso a inclusão dos pais e responsáveis é um fator chave no tratamento, principalmente quando se trata de adolescentes.
“Os danos físicos incluem amenorreia, que é a parada da menstruação; perda de peso; osteopenia e enfraquecimento do osso, bradicardia, hipotensão, disfunções hepáticas e renais, risco de morte por falência de múltiplos órgãos”, pontua a nutróloga. Ansiedade, depressão, isolamento social são consequência psicológicas quando se trata da anorexia.
Bulimia e compulsão alimentar
Já a bulimia é caracterizada por episódios de compulsão alimentar onde a pessoa passa a comer muito rápido e em grande quantidade. Ela se direciona ao banheiro logo após a ingestão desses alimentos para provocar vômito ou após grande ingestão de comida.
O paciente pode fazer um longo período de jejum, além da compra de grandes quantidades de laxantes e diuréticos sem prescrição médica. “Para fechar o diagnóstico de bulimia nervosa, essa compulsão alimentar seguida de comportamento compensatório como o vômito, tem que acontecer pelo menos uma vez por semana, por no mínimo três meses”, explica a especialista.
Para o tratamento, a médica destaca o uso de inibidores seletivos da recaptação da serotonina, que seriam antidepressivos como fluoxetina, além da necessidade de apoio nutricional para a reeducação alimentar. “Os impactos físicos seriam a esofagite, erosão dentária devido aos vômitos provocados, risco mais grave de arritmia e desidratação. Em relação aos impactos psicológicos, culpa, a vergonha de proceder dessa forma, até depressão”.
O terceiro transtorno alimentar mais comum é a compulsão alimentar periódica. Os critérios diagnósticos são episódios recorrentes de compulsão alimentar, mas sem provocação do vômito, e sem o uso excessivo de laxantes ou diuréticos. “Essa doença é seguida da sensação de perda de controle durante os episódios de compulsão alimentar. Comer até se sentir desconfortavelmente cheio, comer rápido demais, mesmo sem fome, com sentimento de culpa e repulsa por si mesmo”, explica Eline.
Os episódios acontecem pelo menos uma vez por semana por três meses. Os impactos incluem obesidade, hipertensão e diabetes, além de baixa autoestima, vergonha, isolamento social. O tratamento inclui medicamentos, educação nutricional e estratégias para manejo emocional.
- O tratamento dos transtornos alimentares exige conscientização, apoio e suporte. “Apesar do ato de comer fazer parte do nosso dia a dia, os padrões sociais sobre magreza podem mascarar alguma disfunção alimentar”, explica a psicóloga Joelma Martins.
- A especialista pontua que os alertas de um paciente com transtorno alimentar começam quando o indivíduo passa a “comer em exagero, perde o controle na ingestão de alimentos, come de forma emocional, que seria em resposta a alguma emoção e começa a ter comportamento beliscador”.
- Para ajudar o paciente, o primeiro passo é uma comunicação empática e informativa e não de cobrança ou pejorativa. “Precisamos compreender que a comida não é o centro da nossa vida e sim uma forma natural e funcional para termos qualidade de vida. O acompanhamento profissional é importante no aparecimento de qualquer disfuncionalidade alimentar ou possíveis consequências”, finaliza a psicóloga.
- A busca por um nutricionista, nutrólogo, endocrinologista ou psicólogo permite ter uma relação saudável com os alimentos e com o prazer que a boa alimentação proporciona.