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Entenda o que a cafeína faz com o seu cérebro enquanto você dorme

Estudo mostra que cafeína altera fundamentalmente o funcionamento do cérebro durante o sono.

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Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Aquela xícara de café que você tomou depois do jantar não só te fez ficar se revirando na cama, como também alterou fundamentalmente o funcionamento do seu cérebro durante o sono. A cafeína não bloqueia apenas o sono; ela sintoniza o cérebro adormecido em um estado mais complexo e hiperativo, que se assemelha a estar mais próximo do pico de desempenho mental, segundo um estudo publicado na revista científica Communications Biology.

Ainda mais surpreendente: essa transformação cerebral induzida pelo café afeta os jovens adultos com muito mais força do que as pessoas de meia-idade, mostrando que sua relação com a cafeína muda drasticamente à medida que envelhecemos.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, analisaram as ondas cerebrais de 40 pessoas saudáveis durante o sono após consumirem 200 miligramas de cafeína (aproximadamente o equivalente a duas xícaras de café) ou uma pílula de placebo.

A atividade cerebral foi registrada usando eletroencefalografia multicanal ao longo da noite, e a equipe aplicou múltiplas abordagens analíticas para identificar padrões que distinguiam o sono com e sem cafeína. Os resultados mostraram que a substância impulsiona o cérebro para o que é chamado de “regime crítico” – um estado em que as redes neurais operam com máxima eficiência e complexidade.

A complexidade e a criticidade do cérebro estão ligadas ao desempenho cognitivo ideal, ao processamento aprimorado de informações e à maior flexibilidade mental. Quando seu cérebro opera nessa zona crítica, ele está essencialmente funcionando a todo vapor, processando informações com mais eficiência e mantendo uma melhor comunicação entre as diferentes regiões.

A maioria das pessoas presume que a cafeína simplesmente impede um sono de qualidade, mantendo-o acordado por mais tempo ou tornando o sono mais leve. O estudo revela algo ainda mais fascinante: ela, na verdade, altera a natureza fundamental de qualquer sono, fazendo seu cérebro trabalhar horas extras durante períodos de descanso.

Durante o sono não REM (a fase profunda e restauradora em que a baixa atividade cerebral é baixa), os participantes que consumiram cafeína apresentaram aumento drástico na entropia e na complexidade cerebral. Seus cérebros adormecidos exibiram padrões mais semelhantes aos da vigília, com processamento de informações e comunicação neural intensificados, o que normalmente não ocorreria nessa fase.

Esse efeito foi muito mais forte em adultos mais jovens, com idades entre 20 e 27 anos, em comparação com participantes de meia-idade, com idades entre 41 e 58 anos, principalmente durante o sono REM. Os cérebros dos jovens apresentaram aumentos significativos em múltiplas medidas de complexidade e criticidade quando consumiram cafeína, enquanto os dos adultos mais velhos apresentaram respostas muito mais fracas.

As diferenças relacionadas à idade provavelmente decorrem de alterações nos receptores de adenosina, que são os “interruptores do sono” do cérebro que a cafeína bloqueia. À medida que as pessoas envelhecem, elas naturalmente perdem os receptores de adenosina A1, o que significa que a cafeína tem menos alvos.

Pesquisas anteriores sobre cafeína se concentraram principalmente em efeitos óbvios, como o tempo que leva para adormecer, o quanto você se mexe ou mudanças em frequências específicas de ondas cerebrais. Já o novo estudo se aprofundou no exame de como a cafeína afeta a dinâmica fundamental das redes neurais.

Para entender o que os pesquisadores querem dizer com dinâmica cerebral “crítica”, considere as redes neurais como uma orquestra perfeitamente afinada. Pouca atividade e o cérebro opera de forma lenta e ineficiente. Excesso de atividade cria caos. Mas, exatamente no ponto crítico, o cérebro atinge o desempenho ideal com o máximo processamento de informações.

A cafeína parece empurrar os cérebros adormecidos para esse estado crítico, particularmente durante o sono não REM.