
Ele não tem cheiro, não muda o gosto da bebida e nem altera o aspecto do líquido. Mas uma simples dose contaminada pode levar à cegueira — ou à morte. O metanol, substância usada como solvente industrial e combustível, vem sendo identificado em bebidas adulteradas vendidas ilegalmente no Brasil e já provocou dezenas de casos de intoxicação grave em diferentes estados.
Como o corpo reage ao metanol
Ao ser ingerido, o metanol é rapidamente absorvido pelo organismo e transformado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico — compostos altamente tóxicos. É essa conversão que causa os principais danos. O ácido fórmico se acumula no sangue e altera o equilíbrio químico do corpo, provocando acidose metabólica, uma condição em que o pH sanguíneo cai perigosamente.
Esse desequilíbrio desencadeia uma sequência devastadora:
Sistema nervoso: o cérebro e o nervo óptico são os primeiros a serem afetados. O paciente começa a sentir visão turva, tontura, confusão mental e dor de cabeça intensa. Em poucas horas, pode evoluir para cegueira permanente.
Rins e fígado: os órgãos que tentam eliminar as toxinas acabam sendo destruídos pelo acúmulo do ácido fórmico, levando à falência renal e hepática.
Pulmões e coração: a acidose metabólica reduz a oxigenação do sangue, provocando falta de ar, arritmias e parada cardíaca.
Sintomas e tempo de ação
Os sintomas geralmente surgem entre 30 minutos e 72 horas após o consumo, dependendo da quantidade ingerida e do estado de saúde da pessoa. A aparente “tranquilidade inicial” é enganosa: o metanol age lentamente, enquanto o corpo tenta metabolizá-lo. Quando os sinais aparecem, o dano já está em curso:
- Dor de cabeça, tontura e náuseas;
- Dor abdominal e vômitos;
- Visão embaçada ou perda total da visão;
- Falta de ar, convulsões e inconsciência
Sem tratamento rápido, o quadro pode evoluir para coma e morte. Por isso, a rapidez no atendimento é o que define a sobrevivência. Se houver suspeita, a pessoa deve procurar imediatamente o hospital e informar a possibilidade de intoxicação por metanol, afirmam especialistas.
As autoridades reforçam que não há forma segura de detectar o metanol em casa. O líquido não tem odor, gosto ou coloração diferentes — e pode estar misturado a bebidas aparentemente normais. A orientação é clara: nunca consumir destilados de procedência duvidosa e desconfiar de preços muito baixos.
Uma única dose adulterada pode parecer inofensiva. Mas, dentro do corpo, o metanol aciona um processo silencioso e irreversível — um veneno disfarçado de festa.