Quando surgem os primeiros sintomas respiratórios como coriza, dor de garganta e febre, não é raro surgir a dúvida se se trata apenas de um quadro de resfriado, de gripe ou de Covid-19. A dúvida procede pois ambos têm sintomas idênticos ou semelhantes. Então como é possível diferenciá-los?
Apesar do fim da emergência sanitária pelo SARS-CoV-2, casos de Covid-19 ainda ocorrem no país e isso não pode ser ignorado.
O gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, Érique José Peixoto de Miranda, explica as diferenças dos sintomas de ambas as doenças, como detectá-las e a importância de manter a vacinação em dia para evitar manifestações graves.
Veja a tabela de sintomas no infográfico abaixo.
1- Como diferenciar o vírus da influenza e da Covid-19?
O influenza é um vírus de RNA da família Orthomyxoviridae. Ele é descrito pelos tipos A, B, C e D, sendo os vírus influenza A e B os de maior importância epidemiológica e, por isso, a base das vacinas inativadas contra a gripe. O período médio de incubação da influenza A e B é de dois dias, podendo variar de um a quatro dias.
Já o coronavírus é um vírus de RNA da família Coronaviridae. Repleto de variantes conhecidas, as cepas circulantes atualmente são subvariantes da ômicron – as mais transmissíveis. O período de incubação das variantes da ômicron é de 2 a 3 dias, menor do que os períodos de incubação das cepas anteriores.
2- Como diferenciar um caso de Covid-19 e um de gripe?
Não é possível fazer a diferenciação entre Covid-19 e influenza apenas pela avaliação clínica porque os sintomas e sinais das duas doenças são inespecíficos. A confirmação de uma ou de outra somente se dá por meio de exames complementares como o teste rápido, que detecta antígenos do vírus na secreção nasal, assim como métodos de identificação do material genético do vírus pelo teste de RT-PCR, que identifica os antígenos na secreção nasal e da orofaringe (quando se usa o swab na garganta e dentro das narinas).
3- Há algumas características que podem favorecer o diagnóstico antes do teste?
Sim. Algumas características favorecem mais o diagnóstico de uma doença do que de outra. A influenza ocorre mais no outono e no inverno, ao passo que a Covid-19 não tem uma sazonalidade bem definida, por exemplo. O período de incubação e de transmissibilidade das duas doenças é semelhante, sendo um pouco maior para a Covid-19.
4- Há algum sintoma diferente na influenza e na Covid-19?
Quanto aos sintomas, a influenza se caracteriza por um quadro de febre súbita e elevada, associada a tosse produtiva (com secreção ou catarro), congestão nasal e menos frequentemente por falta de ar, além de vômitos e diarreia (estes últimos, mais comuns em crianças). A duração é de uma a duas semanas.
Já a Covid-19 tem um curso mais errático, ou seja, quando os sintomas variam a cada dia, podendo durar cerca de três semanas: a doença começa com um quadro de febre, tosse, dor de garganta, e pode evoluir para a forma grave, com falta de ar ao fim da primeira semana de sintomas, e de forma mais frequente do que na Influenza. Outros sintomas muito e característicos da Covid-19 são a alteração de paladar e de olfato.
5- Há diferença nos sintomas entre crianças, adultos e idosos?
Geralmente crianças infectadas pelo vírus influenza apresentam, além do quadro típico de febre alta e tosse produtiva, uma frequência maior de diarreia e vômitos. Já os adultos tem o quadro típico de influenza e raramente têm estes últimos sintomas. Nos idosos, quadros infecciosos podem se manifestar na forma de uma confusão mental (estado confusional agudo), mesmo sem febre. O prognóstico em crianças e em idosos, isto é, a evolução para formas graves, pode causar desconforto respiratório agudo, resultando em hospitalização, e costuma ser pior nos pequenos.
Em casos de Covid-19, a diferença fundamental é que as crianças apresentam usualmente quadros de infecção assintomática pelo coronavírus e raramente evoluem para formas graves, quando ocorre a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Adultos e idosos apresentam mais frequentemente alguns sintomas, porém os idosos, sobretudo aqueles com comorbidades, tais como diabetes, cardiopatia, doença renal crônica, entre outras, têm maior chance de evolução para quadros graves que resultam em hospitalização, necessidade de oxigênio ou mesmo de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e ventilação mecânica.
6- As vacinas da influenza e da Covid-19 ajudam a evitar mais casos ou somente casos graves?
Estudos recentes mostram que a vacinação contra a gripe reduz o risco de adoecimento por influenza entre 40% e 60% na população geral, sobretudo na época em que a maioria dos vírus da gripe circulam (outono e inverno). Além disso, os vírus circulantes são compatíveis com aqueles usados para fazer as vacinas contra a gripe (geralmente de três a quatro vírus), que potencializam a proteção. Os imunizantes também protegem de 70% a 90% contra formas graves da doença, que envolvem hospitalização e risco de morte. Esses benefícios da vacinação contra a influenza são ainda mais marcantes em crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas.
Isso também vale para vacinas contra Covid-19: a efetividade contra a cepa parental das vacinas de primeira geração variou de 50% a 95%, e de 90% a 100% contra formas graves de Covid-19, que envolvem hospitalização em enfermaria e em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Doses de reforço de terceira ou de quarta dose contra ômicron são efetivas em prevenir formas graves da doença, mesmo utilizando a vacina monovalente.
7- Por que as vacinas não evitam que se contraia a influenza e Covid-19?
Uma explicação para o fato de que as vacinas não conseguem evitar todas as infecções com uma eficácia tão elevada quanto protegem contra casos graves, incluindo óbito, é que os vírus influenza e coronavírus sofrem mutações muito rapidamente. Outro fato relevante é que ambas são zoonoses (têm reservatório animal), o que proporciona o surgimento de vírus totalmente novos e desconhecidos pelo nosso sistema imunológico de tempos em tempos, resultando em epidemias ou mesmo pandemias.
Além disso, as vacinas não geram uma imunidade específica nas vias aéreas superiores, exatamente onde os vírus entram no nosso corpo. Ao serem administradas de forma intramuscular, elas elicitam um tipo de anticorpo (a chamada imunoglobulina G), que nos protege contra os vírus quando estes atingem as vias aéreas baixas ou circulação sanguínea – onde a doença ocorre, eventualmente, de forma grave. Por isso, são tão eficazes para evitar óbitos. Na maioria das vezes, as doenças não ocorrem e, quando ocorrem, manifestam-se nas formas leves e moderadas.
8- No caso da influenza, qual a importância de se vacinar antes do inverno?
O Instituto Butantan, assim como outros produtores de vacina e a Organização Mundial da Saúde (OMS), monitora quais cepas do vírus influenza estão circulando a fim de produzir vacinas com melhor desempenho. Como o vírus da gripe circula no outono e no inverno, o trabalho de produção do imunizante ocorre antes dessas estações. O resultado é uma vacina que deverá ser administrada antes do inverno para manter uma taxa importante de proteção da população quando os vírus estiverem circulando. Esse processo deve se repetir a cada ano, já que os vírus circulantes mudam anualmente e cada vírus tem um elevado potencial de mutação.
Fonte: Portal do Butantan