Quem hoje vê Mariléa Martins, 54 anos, chegando ao Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), em Belém, caminhando sozinha e sorridente, não imagina que, há um mês, ela não conseguia andar e sofria com dores nas costas e perna. Com um corte milimétrico, ela foi submetida a uma cirurgia endoscópica na coluna, procedimento inédito na unidade de saúde do Governo do Pará, que possibilitou a alta médica precoce e trouxe qualidade de vida à paciente.
“Confesso que nunca tinha ouvido falar nesse procedimento. Para mim, endoscopia era feita apenas no estômago”, conta Mariléa Martins. “Meu problema começou com dores na lombar, que comprimiram o nervo da minha perna, e eu parei de andar. Depois do procedimento, fui para casa no dia seguinte, e posso dizer que estou muito bem e feliz. Agora, é focar na fisioterapia”, complementa a paciente.
O tratamento que ela recebeu é uma técnica pouco conhecida no Brasil, que substitui o uso de bisturis e pinças por tecnologia com câmera e instrumentos de tamanho reduzido. Segundo especialistas do HRAS, a técnica é positiva para o Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo por ser menos invasiva que a cirurgia convencional.
Mariléa garante que não teve problemas durante e após a cirurgia. “Um dos meus maiores medos foi justamente o pós-operatório, e fiquei surpresa ao saber que teria alta já no outro dia. Não senti dor, e o furinho que fizeram nas minhas costas já está sequinho. Fico muito feliz por ter sido a primeira pessoa a passar pelo procedimento aqui no ‘Abelardo Santos’, e posso dizer que foi um sucesso”, afirma.
Rapidez e eficiência – De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a hérnia de disco atinge cerca de 5,4 milhões de brasileiros. Em 2023, a doença gerou mais de 2,5 milhões de afastamentos de trabalhadores, conforme o Ministério da Previdência Social (MPS), que a definiu como a enfermidade que mais gerou benefícios por incapacidade temporária no Brasil naquele ano.
Marcus Torres, neurocirurgião que atendeu Mariléa, explica como funciona o método tradicional. “Primeiro, é feita a anestesia geral. Dependendo da doença, o corte na coluna costuma ser maior que 4 centímetros. Depois que o procedimento principal é realizado, e o problema solucionado, a próxima etapa demanda reposicionar a musculatura que foi desinserida dos ossos, o que gera dor no pós-operatório”, informa.
Já a endoscopia, segundo Marcus Torres, pode ser realizada com anestesia geral ou local, o que permite a colaboração do paciente com respostas imediatas sobre os sintomas. “É minimamente invasiva, utilizando um endoscópio – um tubo fino equipado com uma câmera e luz na ponta, e realizando uma incisão de 1 centímetro – para visualizar e tratar problemas na coluna vertebral”, acrescenta o especialista.
“Através de pequenas incisões, o cirurgião pode acessar a área afetada, visualizá-la em tempo real em um monitor e realizar as intervenções necessárias, com precisão milimétrica. Desta forma, nos últimos anos a endoscopia na coluna tem se destacado como uma técnica inovadora e menos invasiva para o tratamento de diversas condições que afetam a coluna vertebral”, reitera o neurocirurgião.
O médico Adriano Morais, também neurocirurgião, participou da cirurgia de Mariléa e destacou uma das principais vantagens do procedimento: a redução do trauma cirúrgico. “Diferente das cirurgias tradicionais, que exigem grandes incisões e, consequentemente, maior agressão aos tecidos, a endoscopia permite intervenções menos invasivas. Isso resulta em diversas vantagens para os pacientes”, ressalta Adriano Morais.
Outras vantagens da endoscopia:
– Menor tempo de recuperação: com menos danos aos músculos e tecidos circundantes, o tempo de recuperação é significativamente reduzido;
– Menos dor pós-operatória: a dor pode ocorrer, mas é consideravelmente menor, o que diminui a necessidade de analgésicos e proporciona maior conforto ao paciente;
– Menor risco de complicações: por ser menos invasivo, o procedimento reduz o risco de complicações, como infecções e sangramentos, tornando a endoscopia uma opção mais segura para muitos pacientes;
– Cicatrizes menores: as pequenas incisões resultam em cicatrizes mínimas, o que é um fator estético importante para muitos pacientes.
Compromisso – Conforme a diretora-geral Aline Oliveira, o Hospital Regional Abelardo Santos, ao adotar novos procedimentos, reafirma seu compromisso com a qualidade e a inovação. “O HRAS continua dedicado a proporcionar o melhor cuidado, utilizando tecnologias e práticas inovadoras. A endoscopia na coluna é apenas um exemplo dos diversos recursos que aplicamos para garantir a excelência no atendimento e a melhoria contínua da saúde dos usuários”, garante a gestora.
“A endoscopia na coluna representa um avanço significativo para o sistema de saúde público no Pará, trazendo benefícios claros, como menor tempo de recuperação e menos dor para os pacientes. No Hospital Regional Dr. Abelardo Santos estamos comprometidos em implementar técnicas inovadoras, que melhorem a qualidade de vida de nossos usuários, garantindo um atendimento de excelência e humanizado”, afirma a secretária de Estado de Saúde Pública, Ivete Vaz.
O Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, localizado no distrito de Icoaraci, é a maior unidade pública do Governo do Pará. A instituição é administrada pelo Instituto Social Mais Saúde (ISMS), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Conta com um serviço de pediatria de urgência e emergência, além de leitos clínicos.
A unidade é referência no atendimento à mulher e à criança, em quatro frentes pediátricas: pronto-socorro, cirurgia, internação clínica e Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além do acolhimento nas Unidades de Cuidados Intermediários (UCIn). A pediatria do HRAS está estruturada com 10 leitos de UTI, 25 leitos de clínica pediátrica e um pronto-socorro infantil, com atendimento 24 horas.