Diagnóstico, tratamento e cura são etapas importantes que, quando seguidas corretamente, ajudam a evitar o nascimento de crianças com sífilis congênita. Essa é uma doença que pode ser evitada e que é transmitida para o bebê através da placenta da gestante infectada.
Atualmente, o Pará é o estado da Região Norte que registra o maior número de casos de sífilis congênita. Ao longo dos anos, esses casos têm aumentado de forma constante, conforme os dados do Painel da Sífilis Congênita do Ministério da Saúde. Em 2020, foram registrados 811 casos; em 2021, esse número subiu para 1.035; em 2022, chegou a 1.277 casos. Em 2023, houve uma pequena redução, com 1.150 diagnósticos.
Charliana Aragão, Farmacêutica-bioquímica da Coordenação Estadual de IST/AIDS e responsável pelo Programa de Sífilis, explica que, para entender o que é a sífilis congênita, é importante saber primeiro o que é a sífilis adquirida. “Trata-se de uma infecção sexualmente transmissível causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, e que pode ser curada e que o tratamento está disponível no sistema único de saúde (SUS). Os sintomas às vezes são leves ou difíceis de perceber, e procurar tratamento só quando aparecem pode resultar em complicações graves”, afirma. Aragão diz que a doença se manifesta em diferentes estágios: primário, secundário, latente e terciário.
A sífilis primária costuma se apresentar com uma ferida única, que geralmente é indolor e não causa coceira. Um ponto importante é que, na mulher, essa ferida muitas vezes passa despercebida, porque fica dentro do canal genital e não causa sintomas evidentes, como coceira ou desconforto. Além disso, ela tende a desaparecer sozinha com o tempo. Por isso, muitas mulheres nem percebem que estão infectadas. Já nos homens, a ferida costuma ser mais fácil de notar, pois fica na parte externa dos órgãos genitais.
Outra fase assintomática é a secundária. Quando essa bactéria entra na circulação, ela pode causar lesões na pele e nas mucosas, como as roséolas sifilíticas, que aparecem na palma das mãos ou dos pés. Muitas pessoas confundem essas manchas com uma reação alérgica, mas na verdade podem ser um de sífilis Por isso, fazer o teste rápido para identificar o quanto antes.
Na fase latente, a maioria das pessoas não apresenta sintomas visíveis, ou seja, estão assintomáticas. Essa é a fase de latência. A última fase é a mais séria, pois ocorre o comprometimento de órgãos como o cérebro, levando à neurossífilis, ou do coração. Nessa etapa, podem surgir lesões bastante graves na pele, nos ossos e em outras partes do corpo.
PLACENTA
Charliana também explica que, durante a gravidez, existe o risco de transmitir a doença para o bebê. Ela explicou que a sífilis congênita ocorre quando uma mãe que já tem a doença transmite para o bebê através da placenta. “Isso pode acontecer em qualquer fase da gestação, principalmente se a gestante não fez o tratamento corretamente ou não recebeu o tratamento adequado”, esclarece.
Na maior parte das vezes, a mulher pode sofrer um aborto. Tem casos de nascer sem sintomas, parecendo estar saudável. No entanto, alguns podem apresentar sinais como anemia, cegueira e problemas em diferentes órgãos, como pulmões, fígado ou até mesmo no cérebro. Aragão explica que, mesmo não sendo a principal causa de mortalidade infantil, ela é totalmente evitável.
À especialista diz que o Estado do Pará, desde 2021, vem desenvolvendo um plano de ação para controlar e eliminar a transmissão vertical da sífilis. “Quando analisamos os dados de saúde, percebemos que essa taxa está diretamente ligada à qualidade do pré-natal. Se a mulher não recebe um cuidado adequado durante essa fase, isso acaba refletindo na ocorrência da sífilis congênita na maternidade, o que leva à necessidade de notificação. Além disso, registrar as informações na carteirinha de pré-natal, que é o documento que acompanha a gestante é crucial. Essa carteirinha funciona como o prontuário da gestante, e, sem ela, fica difícil saber o que foi feito durante o pré-natal. Essa falta de registro impacta na definição inicial do caso de sífilis congênita”, esclarece.
Charliana explica que a melhor maneira de prevenir a sífilis congênita é usar preservativos, seja masculino ou feminino, em todas as relações sexuais. Além disso, é muito importante que a gestante e seus parceiros façam acompanhamento médico durante o pré-natal. “O acompanhamento pré-natal é essencial para cuidar da saúde da gestante e do bebê. Mesmo o teste de sífilis sendo um dos exames mais importantes nesse período, há várias etapas que precisam ser feitas para assegurar uma gravidez tranquila e saudável”, finaliza.