Dor do crescimento: um desconforto que preocupa, mas tende a desaparecer

Diz o ditado que “crescer dói” e, no caso de muitas crianças, a expressão ganha sentido literal. A chamada dor de crescimento, ou dor recorrente em membros, é uma das causas mais comuns de desconforto musculoesquelético na infância, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Ocorre geralmente entre os 3 e 12 anos, com episódios noturnos ou no fim do dia, principalmente nas pernas, como nas coxas, canelas e panturrilhas. Embora o nome sugira relação direta com o desenvolvimento ósseo, especialistas afirmam que crescer, de fato, não dói. O termo, no entanto, permaneceu por ser facilmente reconhecido e tranquilizar famílias.

“A expressão é inadequada, mas já consagrada. Acho até bom, porque ajuda a identificar algo frequente e que se resolve com o tempo”, explica a pediatra Adriana Fonseca, do Departamento Científico de Reumatologia da SBP. Segundo ela, trata-se de uma condição benigna e idiopática, ou seja, sem causa conhecida.

“Várias hipóteses existem, anatômicas, psicológicas, vasculares e metabólicas, mas provavelmente é uma síndrome de amplificação da dor”, complementa documento da SBP. A dor não segue padrão: vai e volta, pode durar poucos minutos e, em alguns casos, acorda a criança no meio da noite após dias de intensa atividade física.

Como lidar com a dor de crescimento?

Apesar da falta de uma explicação científica definitiva, o incômodo é real e merece acolhimento. “Não devemos minimizar, porque mesmo que não haja uma doença, é uma coisa que dói mesmo. Na maioria das vezes, só uma massagenzinha e um acolhimento já melhoram muito”, reforça Fonseca. Métodos simples, como massagem, aplicação de calor local ou o uso eventual de analgésicos (como paracetamol e ibuprofeno), costumam bastar. O pediatra Daniel Becker acrescenta: “Pode ser intensa a ponto de fazer a criança chorar, mas melhora rapidamente com cuidados simples, até mesmo com um chazinho ou placebo.”

O diagnóstico é clínico, feito por exclusão, e não exige exames, a menos que surjam sinais de alerta, como inchaço nas articulações, febre, dor persistente ou localizada, manchas na pele, ínguas, perda de apetite ou desânimo geral. “Se a criança está ativa, brinca, come e dorme bem, é grande a suspeita de dor do crescimento”, explica Fonseca. Ainda assim, Becker alerta:

“A maior parte das dores é leve e passageira, mas se houver dúvida, nunca custa procurar o pediatra.” Afinal, crescer pode até doer, mas o cuidado e a atenção dos pais continuam sendo o melhor remédio.

Editado por Fábio Nóvoa