Um estudo realizado com camundongos concluiu que a ingestão excessiva de alimentos gordurosos colaborou para o espalhamento de células tumorais, fator relacionado à metástase do câncer original para outros órgãos. No futuro, pesquisadores também querem entender se a alimentação afeta indiretamente a recorrência de câncer.
A pesquisa foi publicada em 2 de abril na revista científica Nature Communications e teve enfoque em câncer de mama, principalmente o triplo negativo. Esse subtipo do tumor é reconhecido por ser mais agressivo, além de se alastrar facilmente para outros órgãos do paciente.
Quando os pesquisadores modificaram a dieta nos camundongos, diminuindo o nível de gordura e causando perda de peso, a taxa de metástase avaliada no estudo diminuiu.
Não é a primeira vez que pesquisas associam dieta e câncer. Héctor Peinado, do Laboratório de Microambiente e Metástase do Centro Nacional de Pesquisa do Câncer (Cnio) da Espanha e um dos autores do artigo, explica que esse campo de estudo é emergente. No entanto, poucos cientistas investigam o tema, especialmente quando se trata do impacto de dietas no espalhamento de tumores.
Os pesquisadores observaram que uma alimentação rica em gorduras promove a maior ativação de plaquetas. Produzidas na medula óssea, as plaquetas são células que circulam no sangue humano. A atuação principal dessas células é na coagulação sanguínea.
No entanto, essa maior ativação das plaquetas pode colaborar com o espalhamento e progressão de tumores de diferentes formas. Uma delas tem relação com o fato de que plaquetas podem funcionar como uma espécie de armadura para células cancerígenas, “ajudando-as a escapar da detecção imunológica e auxiliando em sua sobrevivência durante a circulação”, explica Peinado. Essa circulação das células cancerígenas, por outro lado, é essencial para a metástase dos tumores.
Foi essa percepção de que a dieta gordurosa ativa as plaquetas, que interagem com células cancerígenas, que fez os autores da pesquisa concluírem uma possível relação entre a alimentação rica em gordura e metástase de câncer.
Danos causados por uma dieta gordurosa também podem acontecer antes do espalhamento do tumor. Peinado afirma que seu estudo não investigou o impacto da alimentação na progressão de um câncer primário. No entanto, outras pesquisas já levantaram evidências sobre isso, indicando uma relação entre dieta gordurosa e maior incidência de diferentes tipos de tumor, como de fígado, mama, pâncreas e próstata.
“Dado que nossas descobertas demonstram que uma dieta rica em gordura aumenta a disseminação de células tumorais -facilitando a metástase-, é plausível supor que tal dieta também influencia os estágios iniciais do desenvolvimento do tumor”, disse Peinado.
Não está evidente se a conclusão da pesquisa, focada só em câncer de mama triplo negativo, será a mesma para outros tipos de tumores. A aposta de Peinado é que sim, principalmente porque outros estudos já mostraram como dietas gordurosas são fatores associados a diferentes tipos de cânceres.
Peinado e sua equipe mergulharam em outros aspectos da possível correlação. O foco, agora, é avaliar órgãos que sofreram metástase, mas que, no momento, contam somente com células cancerígenas dormentes. Essas células, quando reativadas, podem levar à volta do tumor. Os pesquisadores buscam ennder se alimentos gordurosos podem ser um fator associado à reativação dessas células e, consequentemente, à reincidência tumoral.
*Texto de SAMUEL FERNANDES