Com o avanço da tecnologia e a popularização de celulares, tablets e computadores, o tempo que as crianças passam diante das telas tem crescido de forma significativa. O que antes era visto como uma ferramenta de entretenimento, hoje levanta preocupações entre médicos, psicólogos e educadores. Estudos apontam que o uso excessivo desses dispositivos pode comprometer o desenvolvimento neurológico, emocional e social dos pequenos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças de até dois anos não devem ter nenhum contato com telas. Entre os dois e cinco anos, o tempo máximo recomendado é de uma hora por dia. No entanto, dados de pesquisas recentes revelam que a média diária de exposição chega a ultrapassar quatro horas entre crianças brasileiras.
Efeitos no cérebro e no comportamento
Entre os efeitos mais observados do uso excessivo de telas estão a redução da capacidade de atenção, irritabilidade, ansiedade, atrasos na linguagem e até mesmo sintomas semelhantes ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).
Um estudo publicado na revista JAMA Pediatrics mostrou que o tempo de tela prolongado pode afetar diretamente a integridade da substância branca do cérebro — região ligada à linguagem, alfabetização e habilidades cognitivas. Isso porque o cérebro infantil ainda está em processo de formação e é altamente influenciado pelos estímulos que recebe.
Além disso, a superexposição à luz azul das telas pode interferir na produção de melatonina, o hormônio do sono, o que prejudica o descanso noturno. “Crianças que dormem mal tendem a apresentar mais dificuldades escolares, alterações no humor e maior impulsividade”, acrescenta a especialista.
Como equilibrar?
Embora a tecnologia faça parte da rotina atual e também ofereça conteúdos educativos, o uso precisa ser equilibrado e supervisionado. Especialistas recomendam que os pais adotem algumas estratégias para limitar o tempo de tela, como:
- Priorizar brincadeiras ao ar livre e atividades manuais;
- Estabelecer horários para o uso de dispositivos eletrônicos;
- Evitar o uso de telas durante as refeições e antes de dormir;
- Estar presente e interagir com a criança enquanto ela assiste a conteúdos digitais.
A pedagoga e mãe de dois filhos, Marina Oliveira, diz que precisou mudar a rotina da casa após perceber que os filhos estavam mais agitados e distraídos. “Reduzimos o tempo de TV e celular e começamos a promover atividades em família. A mudança foi perceptível: eles passaram a dormir melhor e a brincar mais entre si”, conta.
O papel dos adultos
Pais, responsáveis e educadores desempenham papel fundamental nesse processo. O exemplo também conta: quando os adultos estão constantemente conectados, é natural que as crianças queiram fazer o mesmo.
Por isso, o desafio vai além de limitar o tempo: trata-se de ensinar, desde cedo, o uso consciente e saudável da tecnologia. Equilibrar o mundo digital com experiências reais e afetivas é um passo importante para garantir o desenvolvimento saudável das novas gerações.