Um dos primeiros sinais que levaram Preta Gil a buscar ajuda médica foi a mudança no formato das fezes — o que ela mesma descreveu como “cocô de fita”. O alerta, feito pela cantora durante entrevista ao programa Mais Você, em janeiro de 2023, voltou à tona após sua morte no último domingo (20). O termo informal refere-se a um sintoma pouco comentado, mas que pode indicar a presença de tumores no intestino.
A oncologista clínica Luiza Dib, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, explica que alterações no formato das fezes, especialmente quando se tornam muito finas ou achatadas, podem sinalizar a obstrução parcial do intestino causada por uma lesão. “Isso normalmente acontece em quadros mais avançados da doença”, ressalta.
Além desse sinal, outros sintomas devem ser observados com atenção:
- Sangue nas fezes
- Mudanças nos hábitos intestinais (prisão de ventre ou diarreia persistente)
- Dor abdominal
- Emagrecimento sem causa aparente
Segundo a médica, o sangramento também exige cuidado, mesmo quando se pensa em causas mais comuns, como hemorroidas. “Se o sangue nas fezes vier acompanhado de outros sintomas ou for mais intenso, o ideal é investigar com urgência”, alerta.
Fatores de risco
Embora existam casos relacionados a predisposição genética, os hábitos de vida exercem forte influência no desenvolvimento do câncer colorretal. Entre os principais fatores de risco estão:
- Tabagismo
- Consumo frequente de bebidas alcoólicas
- Obesidade ou sobrepeso
- Sedentarismo
- Dieta pobre em fibras e rica em alimentos processados
- Excesso de carne vermelha
Casos em jovens preocupam
Dados recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que o câncer de intestino é o segundo mais comum entre mulheres e o terceiro entre homens no Brasil, excluindo os casos de pele. Para 2025, a estimativa é de 45 mil novos diagnósticos no país. O que tem chamado atenção é o aumento de casos entre jovens adultos.
“A mudança no estilo de vida e na alimentação está impactando diretamente a saúde das novas gerações”, destaca Dra. Luiza. Por isso, a recomendação atual é que pessoas a partir dos 45 anos realizem exames de rastreamento regularmente — e que, nos casos com histórico familiar, o acompanhamento comece ainda mais cedo.
Diagnóstico precoce e prevenção
A colonoscopia continua sendo o principal exame para identificar precocemente alterações no intestino grosso. O procedimento permite localizar e remover lesões ainda benignas que poderiam evoluir para um tumor maligno.
Também estão disponíveis exames complementares, como o teste de sangue nas fezes oculto, além de novos métodos não invasivos em desenvolvimento, como análises de marcadores sanguíneos.
Além do rastreamento, manter um estilo de vida saudável é fundamental: alimentação equilibrada, prática de exercícios, evitar álcool e cigarro são atitudes que reduzem significativamente o risco de desenvolver a doença.
Tratamentos e avanços
O tratamento para o câncer de intestino depende do estágio da doença. Em fases iniciais, a cirurgia é geralmente suficiente, podendo ser combinada com quimioterapia. Em casos mais avançados, a abordagem pode incluir também radioterapia e imunoterapia.
Um estudo recente apresentado em congresso médico nos EUA mostrou que a prática regular de atividade física, após cirurgia e quimioterapia, aumentou consideravelmente as chances de cura em pacientes com câncer intestinal — reforçando a importância do exercício físico não apenas como prevenção, mas como parte ativa do tratamento.
O legado de Preta Gil, além de sua trajetória artística, inclui também o alerta sobre um tema de saúde pública: prestar atenção ao próprio corpo e não ignorar os sinais que ele dá pode salvar vidas.