Dr. Responde

Cirurgia bariátrica exige acompanhamento posterior

Com um histórico de obesidade, inclusive na família, a auxiliar administrativa Reny Barros, 37, chegou a pesar 120 quilos, sendo considerada obesa mórbida. Mas hoje ela vive uma vida totalmente diferente. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Com um histórico de obesidade, inclusive na família, a auxiliar administrativa Reny Barros, 37, chegou a pesar 120 quilos, sendo considerada obesa mórbida. Mas hoje ela vive uma vida totalmente diferente. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Pryscila Soares

A obesidade é considerada uma doença crônica progressiva e a ferramenta para tratar a chamada obesidade grave é a cirurgia bariátrica, que requer uma preparação envolvendo uma equipe multidisciplinar. Após a cirurgia, esse paciente também precisará de um acompanhamento especializado. O objetivo disso é efetivar todas as mudanças necessárias para que o indivíduo adote um novo estilo de vida e não corra o risco de ter uma recidiva ou o reganho expressivo de peso.

O Ministério da Saúde preconiza que o paciente seja acompanhado, ao longo de dois anos após a cirurgia, por profissionais como o endocrinologista, psicólogo, nutricionista e que inclua na rotina o hábito de praticar atividades físicas. Existe uma classificação da doença, que é feita de acordo com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), onde o peso é dividido pela altura ao quadrado. A obesidade mórbida ou grave é quando o IMC do paciente é igual ou maior que 40 kg/m2.

De acordo com o coordenador do Programa Obesidade Zero e cirurgião bariátrico no Hospital Jean Bitar, Carlos Armando Ribeiro, uma das características da obesidade é justamente que ela pode voltar a acometer o paciente. Ou seja, o paciente pode ganhar muito peso, mesmo após a cirurgia, caso não mude o estilo de vida.

Coordenador do Programa Obesidade Zero e cirurgião bariátrico no Hospital Jean Bitar, Carlos Armando Ribeiro. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

“Ele não vai só operar. Ele precisa mudar o estilo de vida, mudar a relação com a comida e fazer exercícios físicos. Isso tem que fazer parte do processo. Se não, é fato que esse paciente vai voltar a engordar. Nesse período inicial, ele precisa adquirir os hábitos e aprender a comer para viver bem”, explica.

RECIDIVA

O cirurgião ressalta que é natural que o paciente tenha um reganho de peso alguns anos após a cirurgia, desde que não seja um reganho expressivo. “Após 5 anos é natural que o paciente ganhe 10% do que perdeu. Sabemos que isso existe. A gente tem que ficar preocupado quando percebemos que ele vem tendo aumento de peso (gradual). Por isso que o acompanhamento nutricional, com endócrino e do ponto de vista comportamental é muito importante. A maioria das pessoas que reganham muito peso e tem a recidiva da obesidade são aquelas que esqueceram que têm que mudar o estilo de vida”, disse. “É uma doença que precisa de tratamento para sempre”, reforça.

Para o especialista, outro grande problema da recidiva, é que o reganho de peso pode vir acompanhado das doenças associadas, como diabetes e pressão alta. Em alguns casos, é necessário iniciar tratamento com medicamentos para controlar o reganho de peso. Além disso, a cirurgia não se resume à redução do estômago e o desvio do intestino. “Hoje a gente sabe que a cirurgia bariátrica vai muito além do que só reduzir o estômago e desviar o intestino. Nesse mecanismo, hormônios são produzidos para o controle da fome, para saciedade e o estímulo de insulina para controlar o diabetes”, destaca.

ESTILO DE VIDA

Criado em 2020 pelo governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública, o Programa Obesidade Zero possui atualmente 16 mil pacientes inscritos, candidatos à cirurgia bariátrica. O Hospital Jean Bitar é referência neste tipo de cirurgia e realiza cerca de 50 procedimentos mensalmente.

Com um histórico de obesidade, inclusive na família, a auxiliar administrativa Reny Barros, 37, chegou a pesar 120 quilos, sendo considerada obesa mórbida. Mas hoje ela vive uma vida totalmente diferente. Em 2021, foi submetida à bariátrica no hospital, passou pelo acompanhamento pré e pós cirurgia e adotou um novo estilo de vida. A paciente hoje pesa 77 quilos, mantém uma alimentação balanceada e pratica atividades físicas regularmente.

O Programa Obesidade Zero possui atualmente 16 mil pacientes inscritos. Foto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

“O meu processo de adaptação foi tranquilo. Durante o processo, a gente é preparado para compreender as mudanças que teremos no nosso corpo e os impactos, porque é uma perda de peso brusca. Fica o excesso de pele e tudo, mas a gente passa por toda a equipe para encarar tranquilamente. A gente precisa reaprender a mastigar, porque no meu caso eu só engolia. É um recomeço”, declara ela, que agora aguarda para fazer duas cirurgias reparadoras, sendo uma abdominoplastia e mastopexia das mamas, no próprio hospital.

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO

O acompanhamento psicológico é parte essencial do processo do paciente que vai fazer a cirurgia bariátrica. O profissional vai avaliar se o paciente tem condições de ser submetido à cirurgia. Vai avaliar para saber se esse paciente possui algum tipo de transtorno, seja ansiedade, depressão ou compulsão alimentar. A ideia é identificar o problema e preparar esse paciente para que ele tenha condições de enfrentar todas as mudanças que ele precisará implementar antes e após a cirurgia, conforme explicou Saiumy Verbicaro, psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, que atua na avaliação de pacientes que farão a cirurgia.

“É importante passar por essa avaliação psicológica antes da cirurgia, porque o especialista vai verificar se o fator psicológico pode influenciar no resultado e o quanto essa pessoa está motivada e comprometida com essas mudanças. Essa avaliação visa identificar alguns possíveis transtornos que podem influenciar no tratamento, reganho peso ou pode até mesmo contraindicar para cirurgia. Dependentes químicos, pessoas que abusam de álcool ou com depressão grave são contraindicados”, explica. “Às vezes é preciso trabalhar isso antes para que em outro momento a pessoa possa realizar a cirurgia com segurança, em outro momento”, destaca.