Cintia Magno
Desde o início deste ano, o Brasil acumula 144.985 casos prováveis de Chikungunya, o equivalente a 71,4 casos por 100 mil habitantes, e 68 óbitos confirmados pela doença. A informação, registrada pelo Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, atualizado no último dia 19 de abril, chama a atenção para a necessidade de manter os cuidados e as ações de controle da doença que, em algumas situações, pode ocasionar o comprometimento das funções de locomoção do indivíduo devido a quadros de inflamações articulares.
O médico pesquisador em saúde pública e chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas, Dr. Francisco Luzio Ramos, explica que o próprio nome que identifica a doença faz menção à dor provocada pela doença. Segundo o pesquisador, o termo Chikungunya vem do idioma Maconde, que é falado por uma etnia de mesmo nome e que vive no sudeste da Tanzânia e no norte de Moçambique. Neste idioma, o termo Chikungunya significa ‘andar encurvado’, uma alusão à postura que a pessoa acometida pela doença assume devido à dor.
“Classicamente, a doença Chikungunya se diferencia de outras pelo modo como se manifesta com fortes dores articulares. Ela tem febre, normalmente alta, em torno de 3 a 5 dias, acompanhada e seguida de dores articulares. São dores fortes que chegam a impedir a pessoa de executar suas tarefas diárias comumente”.
Nesse sentido, o médico reforça que a pessoa acometida pela Chikungunya costuma apresentar sintomas como febre alta, acompanhada e seguida de dores articulares em maior ou menor grau de intensidade, já que essa intensidade depende da resposta imune de cada indivíduo. “Assim como na dengue, a resposta imune é quem dita a gravidade da doença. Se o sistema imune responder com muita intensidade, o indivíduo vai desenvolver um quadro grave de dengue, se não, ele pode não ter nem sintomas. Ele pode desenvolver um quadro assintomático. Assim também é o Chikungunya. Aliás, no Chikungunya, de 3% a 30% dos casos que estão com sorologia positiva nem desenvolvem sintomas”, explica Francisco Luzio Ramos. “Portanto, a forma assintomática existe nessa doença. Ele vai desde o assintomático até aquele indivíduo grave, que fica com as suas funções locomotoras paralisadas”.
Comportamento da doença – Intensidade dos sintomas depende de cada paciente
Com consequências diversas à saúde, a gravidade do quadro apresentado por cada paciente com Chikungunya, portanto, dependerá da resposta imune que o seu organismo apresentará. O pesquisador Francisco Luzio Ramos explica que essas dores articulares características da Chikungunya são causadas por inflamações, em níveis bastante variados de intensidade, ao longo do período pós-febre. Período esse, inclusive, que pode ter uma duração curta, média ou longa.
“As consequências estão exatamente aí, pela intensidade do acometimento dessas articulações, que podem levar indivíduos a terem comprometimento das suas funções de locomoção, impedimento ao trabalho por causa dessas inflamações, e isso pode acontecer no indivíduo que pode durar meses, até anos. Mas essas respostas são individuais, nem todo mundo tem essas manifestações fortes e longas. A maioria é resolvida em poucos dias”.
Sem que seja possível prever a gravidade que cada paciente possa vir a apresentar, o ideal é atuar preventivamente para que o indivíduo não venha a ser infectado pelo vírus do Chikungunya. E, nesse caso, o Dr. Francisco Luzio Ramos lembra que as medidas de prevenção já são, em grande parte, conhecidas da população, já que se tratam das mesmas que precisam ser adotadas para combater a dengue.
“O Chikungunya, assim como dengue e como outras doenças provocadas por arbovírus, é transmitida por um vetor, um mosquito, o Aedes. A mesma maneira de se prevenir dengue é usada para se prevenir Chikungunya, portanto, a prevenção é basicamente o combate à proliferação do vetor”, alerta. “Tudo aquilo que se sabe sobre o que se deve fazer para evitar a criação de criadouros da larva do mosquito, tudo isso é relevante, tudo isso é adotado em todas essas doenças que são causadas por vetores, inclusive a Malária. Então, toda doença causada por vetores, por esses mosquitos que usam a água como meio de proliferar suas larvas, todas essas medidas são também usadas contra Chikungunya”.
POR DENTRO DA CHIKUNGUNYA
EM NÚMEROS
142.080 casos prováveis de Chikungunya foram registrados em 2024 no Brasil.
61 óbitos pela doença foram confirmados e 109 estão sendo investigados.
RANKING
Casos prováveis e óbitos por Chikungunya por região em 2024
1. Sudeste – 102.443 casos e 43 óbitos
2. Nordeste – 20.078 casos e 11 óbitos
3. Centro-Oeste – 16.048 casos e 7 óbitos
4. Norte – 2.353 casos e nenhum óbito
5. Sul – 1.158 casos e nenhum óbito
Total – 142.080 casos e 61 óbitos
Fonte: Informe Semanal do Centro de Operações de Emergências (COE) do Ministério da Saúde. Edição nº10 | SE 01 a 15/2024. Dados atualizados em 16/04/2024.
Coeficiente de incidência de casos prováveis de Chikungunya (por 100 mil habitantes), entre os Estados da Região Norte, em 2024
1. Tocantins – 48,9
2. Acre – 15,4
3. Pará – 13,9
4. Rondônia – 11,2
5. Amapá – 9,7
6. Roraima – 4,7
7. Amazonas – 2,5
Fonte: Painel de Monitoramento de Arboviroses – Ministério da Saúde. Dados atualizados em 19/04/2024, às 15h37.
ENTENDA – Casos prováveis: casos notificados, excluindo os casos descartados.
TRATAMENTO
O médico pesquisador em saúde pública e chefe da Seção de Epidemiologia do Instituto Evandro Chagas, Dr. Francisco Luzio Ramos, explica que o Chikungunya é uma doença viral, não tendo remédio específico para o vírus. O que existem são os remédios sintomáticos, anti-inflamatórios para os sintomas, para a inflamação que o indivíduo desenvolve nas articulações. Portanto, a medicação é toda voltada para a prevenção e também para a minimização dos sintomas articulares, da inflamação. Esses indivíduos, às vezes, ficam sendo acompanhados por meses com um reumatologista.
SINTOMAS
Febre;
Dores intensas nas articulações;
Edema nas articulações (geralmente as mesmas afetadas pela dor intensa);
Dor nas costas;
Dores musculares;
Manchas vermelhas pelo corpo;
Prurido (coceira) na pele, que pode ser generalizada, ou localizada apenas nas palmas das mãos e plantas dos pés;
Dor de cabeça
Dor atrás dos olhos;
Conjuntivite não-purulenta;
Náuseas e vômitos;
Dor de garganta;
Calafrios;
Diarreia e/ou dor abdominal (manifestações do trato gastrointestinal são mais presentes em crianças).
FASES
A Chikungunya pode evoluir em três fases:
1 – Febril ou aguda: tem duração de 5 a 14 dias
2 – Pós-aguda: tem um curso de 15 a 90 dias
3 – Crônica: Se os sintomas persistirem por mais de 90 dias após o início dos sintomas, considera-se instalada a fase crônica. Em mais de 50% dos casos, a artralgia (dor nas articulações) torna-se crônica, podendo persistir por anos.
Fonte: Ministério da Saúde.