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Células do câncer de pâncreas mudam de 'dieta' para sobreviver e se multiplicar

Câncer do colo de útero: organizações se unem para eliminar a doença no Brasil Foto: Divulgação
Câncer do colo de útero: organizações se unem para eliminar a doença no Brasil Foto: Divulgação

STEFHANIE PIOVEZAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O adenocarcinoma ductal pancreático (PDA, em inglês) é um dos tipos de câncer com maior taxa de mortalidade no mundo. Parte do problema está no diagnóstico tardio, uma vez que a doença não leva ao aparecimento de sinais e sintomas nos estágios iniciais.

A outra parte está relacionada à resistência à terapia, um quebra-cabeças que, na última semana, ganhou uma nova peça, descrita em artigo publicado na revista Nature.

No texto, 29 pesquisadores das universidades de Michigan, Chicago e Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, e do Instituto de Pesquisa do Câncer (ICR), na Inglaterra, mostram que as células desse tipo de tumor conseguem mudar sua fonte de energia quando não há glicose disponível.

De acordo com o grupo, em um cenário de falta de açúcar, ocorre a utilização da uridina presente no microambiente tumoral. Isso é possível porque uma enzima conhecida como uridina fosforilase-1 quebra a uridina em duas partes, entre as quais uma forma diferente de açúcar, a ribose. Essa alternativa garante a sobrevivência e a proliferação das células tumorais.

Na análise dos cientistas convidados pela Nature para avaliar o artigo –a chamada revisão por pares–, a pesquisa não pode ser considerada inédita porque estudos anteriores já apontavam o uso da uridina em contextos de privação de glicose, mas é importante por demonstrar essa utilização no PDA.

Os pesquisadores partiram do impacto de 175 possíveis nutrientes em 21 linhagens celulares em um ambiente de restrição de glicose. Eles examinaram como os nutrientes eram usados pelas células tumorais ao longo do tempo e, a partir dos resultados, canalizaram a atenção para a uridina.

O principal critério para a peneira foi a correlação entre os padrões de utilização dos nutrientes pelas células e a expressão de genes associados a esses compostos. No caso da uridina, eles observaram uma ligação direta com o gene UPP1, que codifica a uridina fosforilase-1.

Além disso, a equipe verificou que, embora em diferentes níveis, todas as linhagens celulares testadas utilizaram uridina, sugerindo tratar-se de um combustível metabólico amplamente empregado. Também chamou a atenção o fato de, ao contrário do esperado, as células usarem um nucleosídeo (formados por um açúcar e uma base nitrogenada), e não carboidratos, e de ser um processo ainda não explorado no contexto do PDA.

Definido o metabólito, o grupo iniciou uma série de ensaios. Em um deles, realizado com camundongos, a equipe verificou que o bloqueio do UPP1 impedia a utilização da uridina pelas células cancerosas e interrompia o crescimento do tumor.

“Como próximo passo, exploraremos maneiras de usar a uridina para monitorar as respostas terapêuticas existentes no câncer pancreático e, com sorte, desenvolver novos medicamentos direcionados ao UPP1”, contou Anguraj Sadanandam, um dos autores do estudo, na nota divulgada pelo ICR.

“Esperamos que nossos esforços de pesquisa levem a novas estratégias de tratamento para pessoas diagnosticadas com câncer pancreático”, complementou.