Cintia Magno
Somente no ano de 2023, mais de 111 mil óvulos foram congelados no Brasil, 23 mil a mais do que o registrado em 2022, quando foram congelados pouco mais de 88 mil óvulos. Os dados compilados pelo novo sistema de captação de informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam um cenário de aumento na demanda pelo procedimento que possibilita às mulheres adiar o momento da gestação.
Em um cenário em que as mulheres estão interessadas em engravidar cada vez mais tarde, a busca por uma técnica que garanta essa possibilidade no futuro é compreensível, quando se entende que a quantidade de óvulos diminui naturalmente com o passar da idade. Para se ter uma ideia, o presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Dr. Alvaro Pigatto Ceschin, aponta que a estimativa é de que a mulher nasça com uma quantidade em torno de 1 milhão de óvulos por ovário, uma quantidade bem expressiva.
Porém, desse 1 milhão de ovos por ovário, quando a mulher chega na adolescência, estima-se que a quantidade caia para em torno de 300 mil e, por fim, desses 300 mil óvulos estima-se que a mulher use em torno de 300 óvulos durante toda a sua vida reprodutiva. “Então, se percebe que há uma grande diminuição da quantidade de óvulos à medida que a mulher vai avançando na idade e, além da diminuição da quantidade, a qualidade dos óvulos também fica alterada”, explica o médico. “Os óvulos são gerados mais ou menos no terceiro mês de gestação intrauterina. Eles ficam parados durante uma determinada fase e só completam a divisão celular no momento da ovulação, quando o óvulo vai ser liberado do ovário. Então, quanto mais tempo ele fica esperando, mais risco ele tem de ter algum comprometimento na qualidade”.
Em decorrência disso, a ciência avalia que a mulher consegue manter uma boa quantidade de óvulos em seu organismo até por volta de 30 a 35 anos, depois disso há um declínio dessa quantidade e da qualidade, declínio esse que fica mais acentuado após os 40 anos. Com isso, como ocorre essa diminuição da quantidade e da qualidade do óvulo, quanto mais a mulher posterga a gravidez, menores são as chances de engravidar e maior é o risco de abortamentos.
Para superar este cenário, o Dr. Alvaro Pigatto Ceschin aponta que existem duas possibilidades principais. “Quando a mulher tem um relacionamento estável e ela quer postergar a gestação, muitas vezes a gente pode coletar óvulos e fertilizar com o espermatozoide do seu cônjuge e congelar o embrião para usar no futuro. A outra alternativa que a gente tem é de estimular o ovário, coletar e congelar o óvulo para que seja fertilizado no futuro. É bem comum que as pacientes que procuram por congelamento de óvulos não estejam em um relacionamento conjugal estável”, pontua. “Portanto, a paciente que está com 30 a 35 anos e que ainda não está planejando gravidez a curto ou médio prazo em função do trabalho, em função de estudo, porque não estão em uma relação conjugal ou por outro motivo, ela tem uma indicação de congelamento eletivo de óvulos”.
Outra gama de pacientes que possuem indicação para o procedimento são pacientes com alguma doença oncológica e que vão precisar passar por quimioterapia ou radioterapia. No caso dessas pacientes, há a indicação para estimulação e congelamento dos óvulos antes de ela ser submetida ao tratamento oncológico.
PREPARO
Independente da situação, para que o momento da coleta dos óvulos para o congelamento seja possível, o médico explica que a mulher precisa passar por uma avaliação ginecológica completa, onde serão feitos alguns exames de reserva ovariana. “Esses exames são compostos de exames hormonais para ver como está a reserva de óvulos da mulher, se ela está com uma reserva normal, baixa ou alta. Isso é feito através das dosagens de sangue, preferencialmente colhido durante o período menstrual da paciente”, explica o presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). “Além desses exames hormonais, existe um exame chamado ultrassonografia pélvica transvaginal, onde a gente vai fazer uma avaliação do ovário e vai fazer a contagem dos folículos antrais, o que também me dá uma noção de como está a reserva da paciente. Então, antes de iniciarmos um tratamento, a gente precisa fazer uma verificação de como está a reserva ovariana da paciente porque isso vai nos ajudar a definir qual é a dose de medicação utilizada para ela”.
O ideal é que essa coleta seja realizada, também, até os 38 anos da paciente, idade em que ainda se teria um prognóstico reprodutivo adequado com os óvulos congelados. A partir dos 39 anos, seria necessário congelar ainda mais óvulos. “Quando a paciente tem em torno de 35 anos é necessário congelar em torno de 10 a 15 óvulos. Já a paciente que tem idade acima de 39 anos, teria que congelar 20 a 25 óvulos”, considera, ao explicar que, depois de congelados, esses óvulos podem permanecer guardados por muitos anos. “É possível manter os óvulos congelados por muitos anos. Desde 2013, 2014 o congelamento de óvulos passou a ser utilizado na medicina repetitiva de forma ampla pela população. Então, a gente tem experiência de 10 anos de óvulos congelados e a gente entende que pela tecnologia a gente consiga até mais tempo”.
INVESTIMENTO
l O presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Dr. Alvaro Pigatto Ceschin, explica que o processo de congelamento de óvulos é compreendido em três etapas. A primeira seria a etapa das medicações e controle da ovulação, cujo investimento varia de acordo com o custo da medicação que depende muito da reserva de óvulos da paciente. Esse custo da medicação pode variar de R$2 mil a até R$10 mil a R$15 mil, dependendo de como está a reserva de óvulos da mulher. Quanto menor a reserva, mais medicação é necessária.
l Além do custo da medicação, o médico explica que há o custo do acompanhamento de ovulação e da coleta dos óvulos que é feita via ultrassom via vaginal, com sedação. No dia em que se coletam os óvulos, os óvulos são avaliados no laboratório, então, há o custo de coleta e o custo de congelamento dos óvulos. Esse custo, em conjunto, varia entre R$10 mil e R$15 mil.
l Depois que são congelados, esses óvulos são mantidos em containers de nitrogênio líquido a – 196°C. Nessa fase, há uma taxa de anuidade que varia de R$1 mil a R$2 mil por ano para que os óvulos sejam mantidos no tanque de nitrogênio líquido.