O aspartame, adoçante artificial amplamente utilizado como substituto do açúcar em alimentos e bebidas, pode ter impacto significativo na microbiota intestinal e na progressão do glioblastoma (GBM), um câncer cerebral maligno e extremamente agressivo.
Adoçante artificial altera microbiota intestinal e pode afetar progressão de tumores cerebrais malignos, diz estudo Celso Pupo/Adobe Stock **** Este adoçante tem sido extensivamente estudado devido ao seu potencial efeito sobre a saúde humana, sendo classificado como “possivelmente carcinogênico” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um estudo recente, publicado na revista científica Scientific Reports, utilizou um modelo experimental com camundongos submetidos a uma dieta contendo aspartame.
Os resultados demonstraram que, embora a dieta não tenha afetado significativamente o crescimento tumoral, a substância estimulou mudanças importantes na expressão gênica e na regulação epigenética (especificamente na N6-metiladenosina) nos tumores de GBM. O estudo também identificou uma diminuição na abundância de bactérias da família Rikenellaceae, que está associada aos níveis de ácidos graxos voláteis e a diversas condições metabólicas relacionadas à saúde.
Em outras palavras, o aspartame induziu mudanças profundas e complexas na expressão gênica e nos padrões de metilação m6A nos tumores. A pesquisa especula que a microbiota intestinal pode influenciar a progressão tumoral por meio do eixo intestino-cérebro. Como afirmaram os pesquisadores: “Nossa análise integrativa ofereceu novas perspectivas sobre a complexa interação entre a ingestão alimentar de aspartame, a microbiota intestinal e a biologia tumoral”.
Paralelamente, outra pesquisa recente, também publicada na Scientific Reports, investigou o impacto do adoçante artificial na saúde, focando especificamente na ligação molecular entre o aspartame e o acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. A pesquisa sugere que o aspartame pode contribuir para lesões cerebrais isquêmicas através de interações multi-alvo, possivelmente modulando o tônus vascular, o equilíbrio da coagulação e a neuroinflamação.
Dessa forma, o aspartame apresenta riscos neurotóxicos relacionados aos seus metabólitos: fenilalanina, ácido aspártico e metanol. O estudo utilizou uma abordagem sistemática para fornecer insights preliminares sobre os mecanismos potenciais da neurotoxicidade do aspartame. No entanto, ainda carece de validação adicional em modelos animais e estudos clínicos em larga escala.
Embora o aspartame seja amplamente utilizado na indústria alimentícia em produtos diet, existem debates contínuos sobre sua segurança. A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) o classificou como “possivelmente carcinogênico para humanos” (Grupo 2B), enquanto o Comitê Conjunto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares confirmou a Ingestão Diária Aceitável (IDA) de 0 a 40 miligramas por quilograma de peso corporal.
A OMS indicou, em 2023, que adoçantes artificiais não nutritivos não devem ser usados para perda e manutenção do peso corporal. Especialistas consultados pela Folha na época afirmaram que não é necessário interromper o uso dos produtos, indicados principalmente para pessoas com diabetes, mas é importante consultar um profissional da área, como nutricionista, para receber orientações adequadas.