SAÚDE

Alterações no nível de colesterol podem influenciar risco de demência em idosos

Alterações constantes no colesterol em pessoas mais velhas podem aumentar o risco para o desenvolvimento de demência e outras complicações cognitivas.

Colesterol e Risco de Demência em Idosos
Colesterol e Risco de Demência em Idosos

Alterações constantes no colesterol em pessoas mais velhas podem aumentar o risco para o desenvolvimento de demência e outras complicações cognitivas. A conclusão foi de uma pesquisa publicada na revista Neurology.

Zhen Zhou, da Escola de Saúde Pública e Medicina Preventiva da Universidade Monash, na Austrália, e uma das autoras do artigo, explica que uma das razões por ela se interessar em investigar a relação entre flutuação de colesterol e demência em idosos envolve o fato de que pessoas mais velhas apresentam esse padrão de mudanças.

“Ao contrário de adultos mais jovens, indivíduos mais velhos experimentam mais flutuações nos níveis de lipídios devido a fatores relacionados ao envelhecimento, o que pode refletir estados transitórios em vez de risco de longo prazo”, afirma a pesquisadora.

O tópico é novo. Embora, publicações anteriores já haviam levantado indícios dessa associação, existem poucos estudos como o assinado por Zhou e seus colegas. “Eu descreveria essa área de estudo como um domínio emergente e inovador dentro do campo [mais amplo de pesquisas cognitivas]”, afirma Zhou.

O artigo recém-publicado se valeu de participantes de uma outra pesquisa que observou o efeito de aspirina em pacientes idosos. Os indivíduos que tiveram os níveis de colesterol medidos no início da pesquisa foram novamente mensurados 1, 2 e 3 anos a partir do início do estudo.

Com isso, foram cerca de 9.000 participantes analisados na pesquisa recém-publicada, com idade média de 73 anos entre eles. Desses, 509 pessoas apresentaram demência e outras 1.760 sofreram comprometimento cognitivo não diagnosticado como demência em até cerca de cinco anos após as medições dos níveis de colesterol.

O aparecimento dos problemas neurológicos foi maior entre aqueles com as variações constantes no colesterol. No caso de demência, por exemplo, entre aqueles participantes com os mais altos índices de mudanças no colesterol no decorrer da pesquisa, os índices da complicação foram 60% maiores em comparação a indivíduos com baixo índice de variação lipídica.

O dado é importante porque, futuramente, a variação no colesterol pode ser considerado como um biomarcador para monitorar e prevenir o desenvolvimento de demência em idosos. Por enquanto, até por conta da escassez de evidências científicas sobre essa associação, nenhuma organização de saúde recomenda esse monitoramento em relação ao declínio cognitivo.

“As descobertas [do artigo] oferecem uma nova perspectiva e insights valiosos sobre a possível ligação entre colesterol e demência, abrindo novos caminhos para futuras investigações”, afirma Zhou.

Um dos temas que pode ser melhor investigado é por que a variação de colesterol pode ampliar os riscos de demência e outros problemas cognitivos. Por enquanto, só existem hipóteses que ainda necessitam de validação. Outra possibilidade é de ir pelo caminho inverso: avaliar se a redução na variação dos níveis de colesterol seria traduzido em benefício neurocognitivo.

Outro aspecto que pode ser estudado mais à frente é relacionado a possíveis mudanças nos resultados do estudo a depender da origem dos participantes. Todos os mais de 9.000 idosos analisados na nova pesquisa eram da Austrália e dos Estados Unidos, e a maioria era branco.

Zhou afirma que “da minha perspectiva, a flutuação do colesterol está mais associada ao estilo de vida, mudanças fisiológicas e psicológicas, mas menos dependente de raça ou países”. Mesmo assim, ela não descarta que esses fatores podem ser importantes para essa área de pesquisa.

“Não se sabe se os resultados do nosso estudo podem ser generalizados para outras raças”, conclui.