Uma pesquisa da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias) apontou que mais da metade dos brasileiros (52%) dizem ter o hábito de consultar farmacêuticos na hora de consumir medicamentos isentos de prescrição médica, enquanto 39% afirmam comprar remédios por conta própria.
O estudo avaliou os hábitos de 3.144 brasileiros, por questionário online, em relação ao consumo de medicamentos isentos de prescrição, ou MIPs.
Os que têm mais de 60 anos são os que menos declaram comprar medicamentos por conta própria (27%), já os mais jovens, entre 18 e 24, são os que mais solicitam orientação do profissional farmacêutico (56%). Aqueles com idades entre 35 e 44 anos são os que mais dizem comprar medicamentos sem consultar farmacêuticos (44%).
Para Sérgio Barreto, presidente da Abrafarma, esse número pode representar o perfil visto nas farmácias. “Sabemos que mais jovens não costumam frequentar tanto o médico, então acabam minimizando o problema de saúde”, diz.
Entre aqueles que consultam o farmacêutico, 32% dizem sempre procurar ajuda para entender como usar o medicamento, enquanto 43% questionam sempre ou às vezes sobre a possibilidade de efeitos colaterais.
O estudo também revelou que 93% dos entrevistados costumam comprar sempre ou às vezes medicamentos sem prescrição nas farmácias. Já quando orientados pelo farmacêutico, 41% dos entrevistados dizem sentir segurança com as informações passadas pelo profissional.
Segundo Barreto, no Brasil existe uma questão de analfabetismo funcional sobre a saúde e, em muitos casos, o farmacêutico é aquele que acaba se aproximando dos pacientes.
Enquanto uma pessoa vai ao médico uma ou duas vezes por ano, ela vai na farmácia 30 vezes. Então, o farmacêutico acaba sendo mais acessível”, diz.
RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO
A pesquisa também mostra que 60% dos consumidores que compraram medicamentos por conta própria sentiram algumas ou muitas vezes que o resultado não era o esperado com a medicação.
Vice-presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Emmanuel Fortes afirma que a autarquia sempre condenou a automedicação, que pode retardar o diagnóstico do paciente ou trazer problemas relacionados a efeitos colaterais, entre outros.
De acordo com ele, o CFM defende a ideia de que é necessário realizar consulta médica para diagnóstico e prescrição corretos e é contrário à ideia de farmacêutico realizar prescrição.
“Quem faz diagnóstico e prescrição, pelas competências legais estabelecidas, é médico.
Agora, se a pessoa tem alguma dúvida e pede algum esclarecimento no balcão da farmácia sobre um medicamento, o farmacêutico estará atuando dentro das competências legais dele”, completa Fortes.
No caso de medicamentos isentos de prescrição, a instituição diz que não entra no mérito da discussão.
Presidente da APM (Associação Paulista de Medicina), Antônio José Gonçalves diz que o principal impacto do risco da automedicação são os efeitos colaterais e o uso indiscriminado de medicamentos que podem provocar efeitos inadequados ao paciente. “É uma prática que deve ser sempre combatida”, completa.
Na visão dele, o farmacêutico pode ajudar em orientações ao paciente sobre o uso do remédio, mas o ideal é que a indicação seja médica. “Isso precisa ser feito partir de um histórico clínico com exames e diagnóstico”, diz Gonçalves.
Hoje, no Brasil, segundo a resolução 5/2025 do governo federal, o farmacêutico está autorizado a prescrever MIPs, medicamentos que contem a tarja “sob prescrição” -nestes casos, apenas o profissional com título de especialista em farmácia clínica possui autorização-, renovar prescrições previamente emitidas por outros profissionais de saúde habilitados e prescrever medicamentos em atendimento à pessoa sob risco de morte iminente.
VENDA EM SUPERMERCADOS
Outra abordagem do estudo foi a percepção sobre a venda de medicamentos isentos de prescrição em supermercados. Segundo o levantamento, 61% dos entrevistados acreditam que os estabelecimentos estão mais preocupados em apenas ganhar dinheiro com a medida, enquanto 48% veem risco à saúde da população.
De acordo com Baretto, a Abrafarma é contra essa prática pois poderia piorar a situação da automedicação no Brasil. Presidente da APM, Gonçalves também diz que a instituição é contrária à medida. “Temos uma rede imensa de farmácias no nosso pais que pode suprir essa necessidade”, diz.
No Senado, o PL 2158/2023 de autoria do senador Efraim Filho (União Brasil/PB) defende a permissão da venda de MIPs em supermercados e correlatos. O projeto aguarda audiência pública.