As lideranças começaram a reconhecer a importância de abordar os desafios apresentados pelas mudanças climáticas e eventos catastróficos por meio da implementação de estruturas de seguro, visando uma gestão de risco mais eficaz. A declaração de Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), sintetizou como o setor segurador ganhou destaque entre os principais players mundiais durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP 28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Oliveira participou ativamente, entre 3 e 5 de dezembro de 2023, ao lado de Ana Paula de Almeida, diretora de Sustentabilidade e Relações de Consumo da Confederação, de painéis e encontros bilaterais. No decorrer desses eventos, foi enfatizada a relevância do mercado segurador como um parceiro crucial na construção da resiliência diante da transição climática, abrangendo desde a necessidade de ampliar os instrumentos para mitigar os impactos das catástrofes climáticas até o desenvolvimento de produtos sustentáveis e ecologicamente corretos, além da perspectiva de o setor atuar como financiador na agenda climática.
“A discussão a respeito da mitigação e sobre como lidar com as consequências dessas mudanças começa a considerar a percepção do papel do seguro. Isso mostra que temos um grande trabalho a fazer envolvendo o setor nas discussões e colocando-o nessa agenda”, explicou o executivo.
O envolvimento da Confederação representou um marco histórico, sendo a primeira vez que a indústria seguradora se fez presente em uma Conferência do Clima. Durante essa participação inédita, de acordo com Ana Paula, uma das maiores intenções era construir um hub de conhecimento para as questões relacionadas às mudanças climáticas que impactam diretamente o setor de seguros. Reconhecido por sua expertise em gestão de riscos e pela habilidade de conferir inteligência aos dados, o setor desempenha um papel fundamental na construção da resiliência e na busca por justiça climática.
SEGURO SOCIAL
O relatório do UNEP FI, em parceria com a OIT, destaca a necessidade de reduzir a lacuna na proteção social para garantir uma transição climática justa. Segundo o estudo, é crucial ampliar o engajamento do setor de seguros na sociedade brasileira, especialmente em relação aos grupos mais vulneráveis. Essa questão também está destacada como uma das principais metas do Plano de Desenvolvimento do Mercado Segurador (PDMS), que prevê aumentar em 20% a parcela da população atendida pelos diversos produtos do mercado de seguros, previdência aberta, saúde suplementar e capitalização.
Por isso, o Seguro Social Contra Catástrofe, que foi apresentado pela CNseg ao longo da COP 28, seria um importante instrumento de proteção e amparo financeiro para a população mais vulnerável a desastres provocados por chuvas, inundações, alagamentos ou desmoronamentos. Pela proposta apresentada ao governo, o seguro proporcionaria uma indenização emergencial de até R$ 15 mil e auxílio funeral para vítimas de calamidades públicas.
“Há uma curiosidade para ver como isso será desenvolvido no Brasil, pois seremos pioneiros neste tipo de produto de seguro. Embora existam modelos similares em outros países, o foco brasileiro está em atender as famílias e não a infraestrutura pública. Certamente teremos uma boa experiência que vai repercutir para outras nações”, contou Oliveira.
PAINÉIS E ENCONTROS
Durante a participação na COP 28, o presidente da CNseg participou de dois importantes painéis. No domingo (03), promovido pela UNEP FI, esteve no “Transição Financeira Justa – Um caminho para Bancos e Seguradoras”, que debateu o papel que seguradoras e instituições financeiras estão adotando na transição climática; e, na segunda-feira (04), no Ministério das Cidades, discutiu a “Adaptação climática inclusiva nas cidades: como estamos preparando as cidades e suas áreas vulneráveis para os impactos das mudanças climáticas?”.
Além disso, a comitiva da Confederação firmou um importante termo de cooperação com o ICLEI, associação mundial de governos locais e subnacionais dedicada ao desenvolvimento sustentável, para promoção e realização do projeto “Mecanismo de Seguro para Infraestruturas Urbanas”. O acordo permitirá o intercâmbio de expertise entre as duas entidades para criar um programa de seguros que será disponibilizado para suporte a municípios em caso de desastres climáticos. O projeto, subsidiado inicialmente pelo Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), será implementado, inicialmente, nas cidades brasileiras de Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Salvador (BA), Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR), municípios que já possuem experiência em parcerias com instituições internacionais.
Oliveira esclarece que esse convênio se destina ao desenvolvimento de um seguro específico para infraestrutura urbana em face da incidência climática. Ele enfatiza que a proposta é disponibilizar um produto que os municípios possam contratar, proporcionando-lhes uma maior preparação para lidar com incidentes relacionados ao clima. “O objetivo é formar um grupo de cidades para identificar os riscos, a infraestrutura e desenvolver um desenho do produto, com as coberturas, formas de contratação e as características da apólice, e, junto com isso, atrair as empresas a participarem”, contou.
Para Rodrigo de Oliveira Perpétuo, secretário-executivo do ICLEI, a parceria firmada entre as instituições fortalece a gestão pública municipal e atende à população que mais precisa do recurso e contribui para um sistema de prevenção de desastres mais eficiente do Brasil. “O que estamos desenhando são seguros de infraestrutura das cidades, com critérios de resiliência, e a lógica é desenvolver este mercado de compras de seguros por parte dos municípios e um produto aderente das seguradoras que atenda a necessidade dos municípios”, conclui.
No último dia de participação da CNseg na COP 28, 05, a Confederação também fechou uma parceria com a Climate Policy Initiative (CPI) para a produção de um estudo com foco nos impactos socioeconômicos das mudanças climáticas no Brasil. “Teremos um banco de dados assertivo dos eventos climáticos e analisaremos os impactos causados nas vidas das pessoas a curto, médio e longo prazos. Essas informações serão utilizadas para aprimorar o papel do seguro na mitigação e prevenção destas ocorrências”, explica Dyogo Oliveira.
Esta edição da Conferência do Clima, programada até 12 de dezembro, foca em traduzir os compromissos climáticos em ações e progresso tangíveis. Como gestor de riscos e ciente dos impactos das mudanças climáticas, o mercado segurador, liderado pela CNseg, tem dedicado especial atenção ao desenvolvimento sustentável, o que pode ser evidenciado na última edição do Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros 2022.