Luiz Flávio
No último dia da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, realizada em Belém nesta semana, o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, também palestrou no encerramento da conferência e destacou o quanto é desafiadora a tarefa de buscar traçar estratégias para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, ressaltando que “no início do ano enfrentamos grandes problemáticas com a preservação da vida dos povos originários”.
O ministro também citou os problemas que as ilegalidades em torno da Amazônia trazem aos povos que a habitam. “A disseminação da exploração ilegal contribui para o desmatamento, prejuízos à vida dos ribeirinhos e povos originários, aumento da violência e muitos outros problemas”.
Mendes fez duras críticas ao comércio ilegal do ouro, citando as avaliações sobre as explorações ilegais e ações do STF para inviabilizar a extração e comercialização do ouro de áreas de preservação. “O governo regulamentou novas normas para comércio do ouro, onde todas as movimentações do metal devem ser acompanhadas por um documento com o número de registro do vendedor”.
O ministro do STF lembrou ainda que tramita um projeto de lei no Congresso que dispõe sobre uso e gestão de terras indígenas. “Precisamos ouvir os clamores dos povos destas terras. Precisamos ouvir o que os povos indígenas podem nos ensinar, mas não congelar eles nos séculos 16 ou 17. Precisamos permitir que eles produzam o que desejam e tenham acesso às novas tecnologias de modo a gerar uma simbiose entre passado e futuro”, finalizou.
RESPONSABILIDADE
Jader Barbalho Filho, ministro das Cidades e que representou o presidente Lula na conferência, reafirmou o compromisso pessoal do presidente e do Governo Federal com a questão climática, que será priorizada até o último dia do atual governo. “Nos primeiros seis meses do atual governo já alcançamos 42,5% de redução do desmatamento no Brasil”.
O ministro mais uma vez colocou para debate qual o papel primordial dos países ricos na questão do enfrentamento climático. “Como já foi dito aqui por palestrantes do evento, não foram os países amazônicos que poluíram a Amazônia. A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do planeta, mas não vamos fugir às nossas responsabilidades. Só queremos entender se, de fato, os países ricos sabem das responsabilidades deles nesse enfrentamento”, questionou.
Segundo Jader, as promessas são muitas e vêm sendo colocadas em COPs, palestras, seminários, artigos jornalísticos e documentários. “Mas quando essas promessas se tornarão realidade? Os principais líderes mundiais vão estar aqui em Belém na COP 30, daqui a 2 anos. Será a primeira oportunidade que essas pessoas terão para, de fato, entender o que é a Amazônia. São 30 milhões de amazônidas que vivem na Amazônia brasileira e essas pessoas querem ter cidades que lhes deem qualidade de vida e oportunidades”, pontuou Jader.
Se não houver o entendimento que a solução para a Amazônia passa pelas pessoas que vivem nas cidades amazônicas, não haverá avanços. “Temos que ouvir o que dizem os nossos prefeitos, a sociedade civil e as lideranças locais para que soluções sejam efetivadas. Por isso precisamos discutir as nossas cidades. O mundo precisa continuar a discutir a Amazônia, mas os países ricos precisam sair das promessas e começar, de fato, a agir”, apontou.
FORA DO NICHO
“A mineração saiu da mina e a sociedade saiu dos seus nichos para conversar sobre mineração”. A fala de Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, co-presidente do Painel de Recursos Naturais e membro do Conselho Econômico e Social das Organização das Nações Unidas (ONU), resume bem o que representou a realização em Belém da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, encerrada ontem no Hangar Centro de Convenções após 3 dias de intensas discussões e debates sobre avançar e fortalecer as soluções que conciliem o desenvolvimento econômico, a redução das desigualdades e a conservação das florestas e da sociobiodiversidade da região.
A ex-ministra destaca que esse posicionamento do setor mineral foi de extrema “coragem, criatividade e inovação” de um segmento econômico importante para as rotas de descarbonização no mundo. “O setor está disposto ao diálogo, assumindo não apenas compromissos, mas espaços, entendendo a importância do seu papel e a complexidade das soluções que estão envolvidas nesse processo”, disse.
Izabella lembra da diversidade dos conteúdos discutidos nos eventos e que vão orientar os processos no setor nos próximos 2 anos, na construção do que será a COP 30 em Belém. “O setor mineral possui um engajamento político muito forte no Brasil. É preciso reconhecer os erros do passado. Se comprometer com o que se está discutindo no presente para podermos melhorar o nosso futuro”, pondera.
Ela comemora ainda o prestígio que o Brasil começa a retomar no mundo. “As pessoas querem conversar, querem debater e conhecer que novo Brasil é esse que está de volta”.