Por mais breve que seja, o momento da seleção para uma vaga de emprego pode definir o futuro de um profissional que deseja reestruturar a sua carreira, ou que necessita de uma colocação no mercado de trabalho. Neste momento, o recrutador é a pessoa que avalia as necessidades demandadas pelas empresas e as competências e habilidades apresentadas pelos candidatos. Mas, diante de um mercado tão competitivo, o que faz um candidato ser efetivamente lembrado pelo recrutador?
Ainda que a entrevista seja um momento crucial no processo de seleção, a impressão deixada pelo candidato começa a ser construída antes dessa etapa. A diretora da Gestor Consultoria, Nara d’Oliveira, considera que dentre os aspectos que fazem um candidato se destacar, o primeiro é um currículo bem construído. “O currículo tem que ser claro, objetivo e deve ter foco no que o recrutador precisa saber. É nele que o candidato vende o que sabe fazer. Então, é preciso colocar as experiências, dando ênfase à descrição das atividades, colocar as atividades-chave que o candidato fazia, as línguas que ele sabe falar e os cursos que são importantes para o objetivo profissional do candidato”, considera. “O objetivo profissional é algo objetivo e de mensuração. Não é que você quer contribuir, o objetivo profissional é a área em que você quer trabalhar, é onde você quer agregar”.
Além disso, Nara explica que o currículo precisa ser claro, objetivo e linear, para evitar que o recrutador tenha que ficar procurando a ordem das informações ali listadas. “Não precisa assinar, não precisa de referência, não precisa de todos os seus documentos. O único documento que você pode ressaltar é o seu CPF, além do seu endereço completo, todas as formas de contato e seu nome completo. Deve-se evitar cor, o ideal é que ele seja preto e branco, e não se deve acrescentar foto. A foto é importante se você quiser uma posição de força de venda. Para todas as outras posições, não”.
Cumprida essa etapa, ainda é necessário fazer o que Nara chama de ‘para casa’. O que significa buscar se informar o máximo possível sobre a empresa que está oferecendo a vaga. “Para demonstrar que é a pessoa certa para vaga, primeiro você precisa fazer bem o seu ‘para casa’, que é estudar a empresa antes da entrevista, se você sabe qual é ela. Quais são os valores da empresa? Qual é a missão da empresa? Quantas unidades ela tem? Ela é originária de onde? Qual é o porte da empresa? Quais são os seus produtos?”, enumera. “Se você conhece alguém que já trabalhou lá, converse com essa pessoa. Você não tem condições de acertar, se você não conhecer a empresa porque, para que eu possa mostrar o que eu tenho de aderente à empresa e à vaga, eu preciso conhecer ambas”.
Ainda que a competência técnica seja fundamental, Nara considera que as empresas, hoje, se preocupam muito com a compatibilidade do perfil do candidato aos valores da própria empresa. E, para se mostrar alinhado a eles, é preciso chegar à entrevista conhecendo-os. “Competência técnica é importante, formação é importante, mas as empresas hoje se preocupam com uma coisa que chamamos de ‘Fit cultural’. É o alinhamento dessa pessoa e dos valores desse profissional com a identidade organizacional da empresa, com os valores da empresa, a missão da empresa, o que a empresa busca”, explica. “Então, estude um pouco a vaga para que você possa, no momento da entrevista, explorar as suas competências comportamentais, sobretudo as que têm alinhamento com os valores da empresa, e as tuas competências técnicas e as tuas competências comportamentais que têm alinhamento com as da posição ofertada”.
Preparação para a Entrevista
Após o ‘para casa’, chega-se a outro aspecto de destaque que é o comportamento do candidato durante a entrevista. Para chamar a atenção do recrutador de maneira positiva, o profissional precisa estar disponível; oferecer respostas objetivas, mas com conteúdo; evitar respostas reduzidas, como respostas de ‘sim e não’ e evitar respostas que se distanciam do que foi perguntado. “Um bom recrutador dá a ‘deixa’ e espera que a pessoa desenvolva. Então, se isso acontecer, desenvolva de uma forma objetiva. O recrutador pode falar “me conta um pouco da tua carreira”, essa é a deixa. E aí a pessoa pode dizer onde começou a sua carreira, ressaltar o que aprendeu naquele lugar e ir descrevendo a carreira até os dias de hoje”, exemplifica Nara d’Oliveira.
Ela ressalta que também é preciso estar atento à postura durante a entrevista, ainda que seja realizada à distância, de forma não presencial. Nara aponta que hoje 80% das primeiras entrevistas são online. Portanto, deve-se evitar falhas tecnológicas no início da entrevista, como situações em que o candidato não consegue entrar na sala virtual ou não consegue ligar a sua câmera. Tudo precisa ser testado com antecedência. “Deve-se estar em um lugar iluminado, que o recrutador possa te ver; posicionar a câmera de uma forma que seja favorável para você. Então te prepara para a entrevista, esteja uns minutos antes no local, posiciona a câmera de forma que possa pegar não só o seu rosto, mas da cintura para cima. Procure um espaço onde você se sente com conforto, ereto. Todas essas coisas somam para que a entrevista ocorra bem, para que você tenha oportunidade de se apresentar bem e que o recrutador possa te avaliar”.
Do ponto de vista comportamental, ela orienta que o candidato se demonstre aberto às perguntas e que ofereça respostas com conteúdo. É preciso atentar ao uso correto da língua portuguesa, manter uma comunicação fluida, evitar excessos e intimidade. “Procure ser empático, mas no seu estilo. É muito importante que você não perca de vista quem você é. Claro que você quer impressionar, mas é importante que você seja quem você é porque se o recrutador é uma pessoa experiente, e a gente conta que seja, ele pega essas coisas”, considera. “Mentir de forma alguma, também. O recrutador é uma pessoa preparada, treinada para entender essas situações. Toda entrevista tem perguntas de confirmação, então, muito cuidado com isso”.
A Importância da Honestidade
Nara considera que todo recrutador valoriza a honestidade, o que inclui até mesmo as coisas mais simples, como quando o candidato não entendeu o que lhe foi perguntado, por exemplo. “Se você não entendeu a pergunta, você pode dizer ‘olha, não sei se eu entendi, mas…’, entregar a resposta e finalizar perguntando: ‘eu te respondi?’”, exemplifica. “Se você cometeu uma gafe, peça desculpas, explique que não era isso que você queria falar e fale o certo. Não entre pelo caminho de ficar se explicando porque falou aquilo. A gente não dá ênfase a esse tipo de coisa porque a chance de você piorar é muito grande. Então, é pedir desculpas e refazer. Não perca tempo explicando o porquê”.
A honestidade em todas as etapas do processo também é destacada pelo Presidente Executivo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-PA), Junior Lopes. Caso perceba que cometeu algum erro durante a entrevista, o candidato deve reconhecer e tentar contornar a situação com tranquilidade. “Se um erro for percebido durante a entrevista, o ideal é corrigi-lo com naturalidade, sem desespero, pedindo desculpa e relatando o ponto da forma correta. Caso tenha dado uma resposta confusa ou incompleta, pode aproveitar outra pergunta para esclarecer melhor o ponto”, considera. “Se o erro for mais significativo, enviar um e-mail agradecendo a oportunidade e reforçando informações importantes pode ser uma alternativa. O mais importante é manter a calma e demonstrar maturidade para lidar com imprevistos”.
Outros Aspectos Importantes
Não apenas nessas situações, mas ao longo do processo seletivo, a maturidade é um ponto que pode chamar a atenção do recrutador. “Um ponto muito importante e que faz o candidato se destacar é quando demonstra preparo, autenticidade e entusiasmo. Pesquisar sobre a empresa, entender seus valores e desafios e apresentar uma trajetória profissional coerente são fatores que fazem diferença. Além disso, recrutadores valorizam quem tem clareza ao expor suas experiências e transmite confiança na própria capacidade, sem exageros ou respostas genéricas”.
Em outro aspecto, Junior ressalta que a comunicação não verbal também impacta diretamente na forma como o recrutador percebe o candidato. Para ele, comportamentos como manter uma postura fechada, evitar contato visual, cruzar os braços ou falar com um tom de voz muito baixo podem transmitir insegurança ou falta de interesse. “O ideal é manter uma postura aberta, demonstrar engajamento com gestos naturais e modular a voz de forma firme e clara. Pequenos ajustes na linguagem corporal podem fazer toda a diferença na impressão deixada”.
Mantendo esses cuidados, o candidato também pode buscar agir de forma estratégica para demonstrar que é a pessoa certa para a vaga. Uma boa estratégia destacada por Junior Lopes é o candidato buscar conectar suas habilidades e experiências com as necessidades do cargo. “Em vez de apenas listar competências, o candidato deve apresentar exemplos concretos de situações em que superou desafios, gerou resultados ou contribuiu para o crescimento de uma equipe. Esse tipo de abordagem mostra mais assertividade e objetividade, deixando de lado apenas conhecimento técnico, mas também maturidade profissional e capacidade de agregar valor à empresa”, considera, ao destacar como o candidato também pode demonstrar que possui as habilidades comportamentais (soft skills) demandadas pelo mercado.
“A melhor maneira é através de histórias e exemplos práticos. Se a vaga exige liderança, o candidato pode relatar uma experiência em que coordenou um projeto ou resolveu um conflito na equipe. Para habilidades como comunicação ou proatividade, é importante destacar momentos em que essas competências foram decisivas para o sucesso de uma tarefa. Quanto mais realistas e bem contextualizados forem os exemplos, mais convincente será a demonstração das soft skills”.