MERCADO DE TRABALHO

Jovens lutam para se manter no mercado de trabalho

Entre a carteira assinada e a informalidade, os trabalhadores entre 15 e 29 anos buscam formas de gerar renda para ajudar em casa e se dedicar à outras atividades.

Renata Alves, 29 anos, autônoma.
Renata Alves, 29 anos, autônoma. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre de 2024, estima-se que mais de 9,8 milhões dos jovens entre 15 e 29 anos (20%) estavam sem trabalho e fora da escola (fundamental, médio ou superior), os chamados, por alguns, de “nem-nem”.

Porém, a maior parte dos chamados nem-nem não está na ociosidade. Na verdade, está procurando trabalho, lidando com afazeres domésticos (casa, filhos ou parentes) ou realizando cursos não regulares. Conforme os dados apontam, os jovens estão distribuídos entre as diferentes formas de atividade da seguinte forma: trabalhador (43,2%); estudante (26,7%); estudante-trabalhador (11,9%); sem trabalho e fora da escola (7,4%); sem trabalho, fora da escola e com afazeres domésticos (5,8%); sem trabalho, fora da escola e procurando trabalho (5,3%); sem trabalho, fora da escola e em curso não regular, como pré-vestibulares ou treinamentos (1,6%).

Levando-se em consideração a PNAD Contínua/IBGE, apenas 1,4% dos jovens afirmaram que realmente não queriam trabalhar e 23% dos jovens sem trabalho e fora da escola tinham procurado ativamente trabalho no mês em que foram entrevistados pelo IBGE. Segundo o Dieese, é preciso considerar que boa parte desse grupo populacional está em período de transição, saindo da escola e buscando inserção no mercado de trabalho, fase em que enfrenta elevada instabilidade. Os jovens em domicílios com melhores condições socioeconômicas têm mais chances de continuar estudando após o ensino médio. Enquanto 18% dos egressos do ensino médio em 2023 e de lares mais ricos ingressaram no ensino superior em 2024, apenas 7% dos jovens de domicílios mais pobres seguiram esse caminho.

BUSCA

Os jovens que terminavam o ensino médio e pertenciam a famílias de renda menor estavam mais empenhados na busca de emprego do que aqueles de famílias com maiores rendimentos. Cerca de 40% dos jovens pertencentes a famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 participavam do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2024, sendo que 30% deles estavam trabalhando, enquanto 10% estavam sem trabalho e fora da escola, mas procurando ativamente algum trabalho. Já entre os jovens de lares mais ricos, os percentuais eram inferiores: 26% trabalhando e 4% sem trabalho e fora da escola.

Adriele Marques, 22 anos, atendente. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Eles se dividem entre informal e formal

Nem sempre conquistar um emprego formal é algo fácil para o sustento e muitos jovens realizam trabalhos informais para obter a renda mensal necessária que vai cobrir os gastos em casa, como é o caso da autônoma Renata Alves, 29 anos, que trabalha com a venda de pipocas na área do Comércio no turno da tarde. É por meio desta atividade que a jovem tira o sustento dela e também dos três filhos. “Esse é meu ganha pão. É daqui que eu consigo sobreviver no momento”, ressaltou.

Também trabalhando de forma autônoma, o jovem Felipe Rabelo, 21, ocupa-se com a venda diária de roupas na Rua João Alfredo desde o ano passado. Antes disso, Felipe teve experiência em outras atividades, como vendedor de loja. “Nesse momento eu só trabalho aqui no Comércio mesmo. Já terminei meu ensino médio e me dedico com a atividade que exerço hoje”.

Quem conseguiu sair da informalidade neste ano foi a atendente de loja Adrieli Marques, 22 anos. Este é o primeiro emprego formal da jovem registrado na carteira e foi conquistado no mês de setembro. Porém, Adrieli faz parte daquele grupo dos 11,9%, turma dos jovens que divide a rotina entre o estudo e o trabalho. “É uma felicidade ter conseguido meu emprego. Tenho uma dupla jornada entre trabalho no dia e escola à noite porque quero terminar meu ensino médio”, explica Adrieli.

A vendedora Débora Barbosa, 22 anos, conseguiu o emprego de carteira assinada no mês de junho deste ano. Atualmente, ela se dedica ao trabalho ao longo da semana nos turnos da manhã e tarde em uma loja de confecções e calçados no Comércio. Para a jovem, o emprego veio em boa hora. “Tiro meu sustento e foi tranquilo conseguir essa vaga”, comentou sobre a recolocação no mercado formal de trabalho.

DESAFIO

Para o supervisor técnico do Dieese/PA, Everson Costa, os números mostram uma quantidade expressiva de jovens no País em uma condição desfavorável, desde desemprego à falta de acesso à escola. “Nós discordamos da expressão nem-nem. Na verdade é ‘sem-sem’: sem oportunidade, sem condições iguais. Então, são quase 10 milhões de jovens que mostram a necessidade do Brasil ter políticas públicas que possam dar a cobertura necessária para este público”.

Ainda segundo Everson Costa, metade da população de jovens de 15 a 29 anos no Pará está fora do mercado de trabalho, o que é um cenário desafiador para o jovem que busca uma colocação no contexto local. “Ocupação é uma coisa, emprego formal é outra. A gente precisa enxergar a política pública para os jovens tangenciando com o mundo do trabalho, a escola, as novas formas de trabalho e as novas formas de economia.”