Diego Monteiro
Uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará concluiu que, no ano passado, entre janeiro e dezembro, houve um aumento de 12% na taxa de desemprego entre trabalhadores com mais de 50 anos. Esse número foi bem maior do que o registrado em 2021, que apresentou uma perda de 7,28% de postos formais nesta faixa etária.
Dados mais detalhados do Dieese/PA explicam melhor o levantamento nos 12 últimos meses: ao todo, foram realizadas mais de 25 mil contratações de carteira assinada de trabalhadores acima dos 50. Em compensação, houve 28 mil desligamentos, ou seja, gerando um saldo negativo de pouco mais de 3 mil postos de trabalho via Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Segundo a consultora em Gestão de Pessoas, Ana Alice de Mello, 58, o preconceito contra os mais velhos no mercado de trabalho pode começar antes mesmo dos 50 anos. Mas a especialista em Recursos Humanos afirma que essa ideia pode ser um erro por parte das empresas, já que trabalhadores nesta faixa etária são mais experientes, comprometidos e possuem conhecimento diferenciado dos mais novos.
No entanto, a consultora chama a atenção para o avanço tecnológico, uma das principais dificuldades para esse público. “O mais importante é acompanhar as mudanças e as tendências no mundo e no mercado. É preciso que haja interações nas questões tecnológicas, pois se não houver essa curiosidade, infelizmente vai ficar para trás ou parar no emprego informal”, esclarece Alice.
GÊNERO
Em relação ao gênero, no comparativo entre admitidos e desligados, a maior perda de postos de trabalhos no ano passado foi do sexo masculino e atingiu um saldo negativo de 2 mil desempregados. Quanto aos setores que mais perderam esses profissionais estão: serviços (-1.053); comércio (-750); indústria em geral (-639); construção (-351) e agropecuária (-291).
EXPERIÊNCIA E DEDICAÇÃO CONTAM PONTOS
A Infojobs realizou um levantamento envolvendo 4,5 mil pessoas para identificar as dificuldades deste público. Para 61% dos participantes, encontrar empresas que contratem pessoas mais velhas é o principal desafio. Já para 78%, o mercado de trabalho é desigual e não oferece as mesmas oportunidades. E o preconceito etário nos processos seletivos foi citado por 70,4% dos entrevistados.
Mesmo com as dificuldades da idade, Maria Eurídice, 61, foi contratada recentemente em uma loja no Centro Comercial de Belém. “Posso dizer que já trabalhei de tudo um pouco e por ter experiência, acho que esse acaba sendo um diferencial na hora de passar por um processo seletivo. Graças a Deus estou empregada, então só tenho a comemorar”, afirmou a atendente.
Jorge Padilha de Oliveira, 53, trabalha no mesmo emprego, a Livraria Paulinas, há pelo menos 32 anos. Segundo o vendedor, o segredo para se manter a tanto tempo no mercado está na competência. “Outro detalhe, este é o meu primeiro e único emprego. Foi daqui que construí o meu patrimônio. Quando a gente ama o que faz, cria laços e é valorizado”, concluiu o vendedor.
“Várias instituições pensam que com a chegada da idade as pessoas começam a ser menos produtivas e criativas, passando a desenvolver um trabalho mais lento durante o horário de expediente. Eu discordo! Costumo dizer que a relação de mentoria entre o mais velho e o mais jovem, por exemplo, gera uma troca de conhecimento para ambos os trabalhadores”, pontuou Ana Alice.
Para a consultora, arriscar em novos desafios – como fez a Maria Eurídice – passa a ser outro diferencial, independente da idade. “Procure novas alternativas. Não existe idade para nada, então avalie sua área de expertise e se tem mercado disponível para suas habilidades. Participar de grupos de emprego no WhatsApp pode ser uma excelente alternativa também”, completou.
PLATAFORMAS
Mas para além dos aplicativos de conversas, nos dias atuais muitas empresas saem em busca de possíveis candidatos em plataformas digitais, como é o caso do LinkedIn. Há também o Jooble, um motor de busca de vagas de emprego que pode ser acessado facilmente e oferece agilidade e otimização de tempo na hora de buscar um trabalho.
DICAS
A consultora em gestão de pessoas, Ana Alice de Mello, lembra que é preciso ter cuidado com outros fatores para se sair bem em uma seleção, portanto, a especialista separou algumas dicas que podem ajudar na busca de um novo emprego e na inserção ao mercado de trabalho formal independente da idade.
Networking – construir uma rede de contatos profissionais é uma das principais e fundamentais saídas para encontrar, ou até mesmo, se manter no mercado de trabalho;
Currículo – coloque os empregos mais recentes e valorize suas experiências; como você conseguiu resolver problemas na sua área de atuação; o que você alcançou em cada atividade; se teve alguma premiação; entre outros pontos;
Tecnologia – é necessário se mostrar inteirado nas tendências tecnológicas, pois estas têm se tornado uma das principais ferramentas no mercado;
Entrevista – procure enfatizar as habilidades, tais como liderança, trabalho em equipe e paciência, sempre enfatizando o quanto a sua experiência e maturidade podem ajudar na empresa;
Conhecimentos – a busca por novos saberes é importante para o desenvolvimento na vida pessoal e profissional. Então é válido realizar cursos e se capacitar ainda mais.