REPERCUSSÃO

Demissões no Itaú geram onda de desabafos no LinkedIn

As demissões anunciadas pelo Itaú na última segunda-feira (8) geraram uma onda de comoção entre funcionários e ex-funcionários em redes sociais, em especial no LinkedIn.

As demissões anunciadas pelo Itaú na última segunda-feira (8) geraram uma onda de comoção entre funcionários e ex-funcionários em redes sociais, em especial no LinkedIn.
As demissões anunciadas pelo Itaú na última segunda-feira (8) geraram uma onda de comoção entre funcionários e ex-funcionários em redes sociais, em especial no LinkedIn. Foto: Divulgação

As demissões anunciadas pelo Itaú na última segunda-feira (8) geraram uma onda de comoção entre funcionários e ex-funcionários em redes sociais, em especial no LinkedIn.

Na maior parte dos relatos, trabalhadores consideram ter havido falta de transparência no processo e questionam os critérios do banco para justificar os desligamentos. Segundo o Itaú, as demissões ocorreram por incompatibilidades entre a marcação de ponto e a atividade registrada nas plataformas de trabalho durante o home office.
Em um dos textos mais comentados no LinkedIn, um funcionário que diz ter trabalhado no banco durante 28 anos questiona se estaria proibido de socializar com os filhos dentro de casa, onde trabalhava remotamente, enquanto esperava por uma aprovação de mudança ou por uma compilação que demora mais de 15 minutos. A publicação ultrapassou 5.000 curtidas e se espalhou para outras redes, como o X (ex-Twitter), onde gerou quase 2 milhões de visualizações. O ex-funcionário foi procurado pela reportagem, mas preferiu não comentar sobre o caso.
Outro funcionário, que trabalhava com agente de negócios e é autista, afirma que atingia quase 200% das metas no setor de seguros e recebia convites para treinar colegas em outras agências.
“Passei bastante mal e tudo foi completamente de surpresa. Até brinquei, porque cheguei achando que ia ser reconhecido. Foi um momento muito ruim, tiveram que chamar os paramédicos que ficam à disposição do centro empresarial.”
Segundo ele, a justificativa apresentada pelo Itaú foi a de baixa aderência ao modelo remoto. O ex-funcionário diz, no entanto, nunca ter sido informado sobre o uso de software de monitoramento. “Foi muito triste. Chorei bastante, passei mal. Tive que ser acompanhado para ir embora.”
O Itaú diz que conduziu um processo criterioso ao longo de meses, com análises individualizadas sobre os aspectos de cada um.
“Para os desligamentos realizados nesta segunda-feira, os líderes foram preparados e orientados a realizar comunicações com acolhimento e sensibilidade, inclusive em situações que envolvem colaboradores em condição de vulnerabilidade”, afirma o Itaú.
Parte dos funcionários demitidos relatam que comunicavam estarem livres para novos serviços, mas que ouviam de seus supervisores que era assim que a área funcionava e que seria necessário esperar que demandas entrassem no sistema.
Em nota, o banco diz que 60% do quadro de colaboradores trabalha em formato híbrido ou totalmente remoto e que o modelo “implica maior responsabilização pelas atitudes e escolhas individuais”.
“[O Itaú] monitora o uso de seus equipamentos corporativos e programas licenciados. Esse monitoramento, expressamente previsto em políticas internas assinadas por seus colaboradores, e acordado com os sindicatos, controla eletronicamente a jornada de trabalho no home office e é essencial para garantir sua efetividade”, diz o banco.
Alguns dos profissionais que permanecem no banco dizem que o clima na empresa é de temor e incerteza. Uma funcionária da área de tecnologia que conversou com a reportagem, com mais de 15 anos de casa, conta que, também na segunda-feira, assinou um feedback negativo com o qual não concordava.
Segundo ela, o documento trazia menções a ociosidade, mas ela diz que já havia avisado aos seus superiores sobre períodos de baixa demanda. O documento também trazia recomendações para que ela repensasse sua conduta profissional, afirma.
A funcionária diz que está com dificuldade para dormir e tem crises de choro por medo de ser demitida. Ela teme que o feedback negativo, registrado no sistema interno do banco, prejudique futuras promoções e sua trajetória na instituição.
O Itaú Unibanco planejava demitir, inicialmente, quase o dobro de funcionários por considerar baixa a produtividade no home office. A reportagem apurou que quase 2.000 empregados do banco tiveram o seu trabalho em casa classificado como ocioso.
O levantamento veio após quatro meses de monitoramento dos funcionários em regime híbrido ou totalmente remoto. Por meio de softwares como o xOne, que coleta dados como tempo de uso do computador, o banco considerou que esse grupo tinha poucas horas de atividade.

DEMITIDOS RELATAM QUE ESTAVAM COM BONS RESULTADOS
Outros demitidos ouvidos pela reportagem, que pediram anonimato por temerem que a justificativa apresentada pelo banco possa prejudicar a busca por novos empregos, afirmam que recebiam bons feedbacks e apresentavam resultados positivos. Para eles, o primeiro sinal de que estavam sendo monitorados surgiu apenas na própria reunião de demissão.
Para um ex-funcionário da área de tecnologia, que trabalhou no banco por cerca de quatro anos, o banco aplicou um ‘layoff disfarçado’ e interferiu na imagem de diversos profissionais ao afirmar que eles teriam baixa produtividade.
Outro demitido afirmou à reportagem que também estaria em processo de promoção e que chegou a trabalhar em fins de semana e feriados.
Parte dos ex-funcionários que conversaram com a reportagem afirmaram ainda que só entenderam a justificativa do desligamento quando leram relatos de colegas nas redes sociais, onde surgiram descrições sobre critérios como tempo de tela ativo e movimentos de mouse. Muitos relataram que, durante as conversas de desligamento, gestores reforçaram que a decisão não estaria ligada à performance.
Eles afirmaram ainda que os coordenadores tiveram dificuldades no processo de demissão, já que não conseguiam oferecer explicações detalhadas sobre os desligamentos.

O QUE DIZ O ITAÚ?
O Itaú afirma que identificou uma minoria de colaboradores com baixos níveis de atividade digital como um padrão de comportamento e que, em alguns casos, funcionários chegaram a patamares de 20% de atividade digital no dia e ainda assim registraram horas extras.
“Um exemplo real é de uma área com 316 analistas, de cargos equiparáveis e com média de atividade digital de 72%, enquanto colaboradores desligados apresentavam entre 27% e 37% de atividade digital.”
O banco também diz que o monitoramento não considera exclusivamente o uso de mouse ou teclado e respeita diretrizes previstas na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), ao não realizar captura de telas, áudios ou vídeos. Além disso, a empresa afirma que as métricas de atividade digital consideraram 1 hora e 45 minutos de pausas diárias, além do almoço, e que foram complementadas por “análises individualizadas, como necessidades específicas do colaborador, ausência por temas pessoais ou familiares, saúde, viagens a trabalho ou eventos externos etc”.
O Itaú diz que os desligamentos não têm o objetivo de redução de quadro, assim, as contratações continuam e as reposições dessas vagas serão discutidas caso a caso e dentro do contexto de cada área.

JÚLIA GALVÃO