Os Correios, estatal que acumula prejuízos, vão pagar mais de R$ 200 milhões em bonificações a seus quase mais de 80 mil funcionários. A primeira parcela do benefício, conhecido como “vale-peru”, de R$ 1.000, foi paga nesta sexta (13), e a segunda, de R$ 1.500, será quitada em janeiro.
O pagamento está previsto na convenção trabalhista firmada em setembro entre a empresa e a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect). A informação foi Publicada pelo Poder 360 e confirmada pela reportagem.
Procurado pela reportagem, os Correios afirmam que o vale foi a forma encontrada para que houvesse um menor impacto financeiro para fechar o acordo coletivo de trabalho.
“A Diretoria de Gestão de Pessoas, apoiada pela Diretoria Econômico-Financeira e pela superintendência jurídica dos Correios, tinha um limite de concessão de reajuste salarial composto de reposição da inflação (INPC) + 1%. Tal reajuste foi negociado para janeiro de 2025”, diz a estatal em nota.
“As entidades sindicais reivindicavam um abono pecuniário para compensar o período entre a data-base [agosto de 2024] e o reajuste [janeiro de 2025]. Tal abono, se pago em dinheiro, traria impactos significativos para a folha, por isso houve a negociação para ser pago em forma de vale-extra”, completou.
Em nota, a federação que representa os trabalhadores criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) e defendeu o benefício. “Nós, trabalhadores, somos os responsáveis pela riqueza dos Correios e, acima de tudo, pela própria existência da empresa”, afirmou.
Tratado como “crédito extra”, o pagamento de R$ 2.500 por funcionários foi incluído na cláusula referente a vale-refeição e alimentação e corresponde a um 13º pagamento dos vales refeição ou alimentação e cesta. O termo “vale-peru” não aparece na convenção coletiva, mas em comunicado interno da diretoria.
Durante a negociação do acordo coletivo, o sindicato apresentou como pauta um vale-refeição ou alimentação no valor de R$ 70 por dia, durante 26 dias por mês para quem tem jornada de trabalho de cinco dias por semana, além de um vale-cesta de R$ 822,00. No total, os funcionários receberiam R$ 2.642 em vales, por mês, além de um “vale extra” no mesmo valor.
O acordo foi fechado por vale-refeição ou alimentação de R$ 50,93 por 22 dias para quem tem jornada de cinco dias por semana, mais um vale-cesta de R$ 319,79, totalizando R$ 1.440 em vales por mês. Só o vale extra ficou definido em R$ 2.500.
O “vale-peru” fez parte de convenções trabalhistas dos Correios de 2005 até 2020, quando foi excluído o pagamento. No ano anterior, havia sido de R$ 1.055,70.
Os Correios registraram prejuízo acima de R$ 2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, após terem fechado 2023 com R$ 600 milhões no vermelho. Em comunicado, a empresa defendeu que está recuperando a qualidade operacional, citando uma melhora no aumento na pontuação dos índices de satisfação e recomendação baseados em pesquisas com clientes sobre o atendimento, em comparação a 2022.
“Até agosto de 2024, os dados também já indicam uma evolução da satisfação, com uma nota média acumulada de 9,3”.
Em nota, o Fentect, além de atacar o governo Bolsonaro, defendeu a gestão Lula (PT).
“A verdade é que os Correios foram sucateados no governo Bolsonaro, com o objetivo claro de entregá-los ‘quase de graça’ ao capital privado. Durante esse período, o então presidente Floriano Peixoto, com o apoio de Ives Gandra, no TST, promoveu um dos ataques mais brutais aos trabalhadores da empresa, retirando, de uma só vez, 50 cláusulas do nosso ACT e enfraquecendo nossos direitos sociais e benefícios”, diz o sindicato.
“Com a eleição do presidente Lula, e após um trabalho incansável de nossa federação para garantir essa vitória, passamos a ter um diálogo nas negociações e conseguimos recuperar quase 100% do que foi retirado durante o governo Bolsonaro, em menos de dois anos de governo”, continuou a entidade.