DEVOÇÃO

Vivendo intensamente o clima do Círio de Nazaré

A pouco mais de 40 dias do segundo domingo de outubro, muitos fiéis já vivenciam o clima do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Basílica recebe milhares de peregrinos nesta época. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Basílica recebe milhares de peregrinos nesta época. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

A pouco mais de 40 dias do segundo domingo de outubro, muitos fiéis já vivenciam o clima do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Após a realização da chamada Missa do Mandato pela Arquidiocese de Belém, celebração que marca o início das peregrinações que antecedem a Quadra Nazarena, o período é de preparação espiritual para homenagear e agradecer pelas graças alcançadas ao longo de toda a vida.

Entre os devotos que marcam presença quase diária na Basílica Santuário de Nazaré, os que abraçam a missão de levar a palavra de Deus adiante ou entre os que se dedicam a peregrinar na casa de outros fiéis levando a presença de Nossa Senhora de Nazaré, o que não faltam são testemunhos da interseção da Virgem Maria sobre a vida dos que recorrem a ela. Basta uma rápida conversa para entender a relação que muitos católicos mantêm com a grande procissão que leva milhares às ruas de Belém, todos os anos.

A aproximação de Anice Elza Damasceno com a Igreja e Nossa Senhora de Nazaré se deu quando, já adulta, ela se deparou com um momento de enorme desafio. Com os filhos já formados e se vendo sozinha após uma separação inesperada e dolorosa, foi nos braços da mãe de Deus que ela encontrou o alento que precisava.

“Eu tinha 30 anos de matrimônio quando o meu marido arrumou outra mulher e eu tive que me separar. Meus filhos já eram formados, já tinham vida própria. Eu nunca tinha trabalhado, eu não exerci profissão nenhuma, eu vivi para a minha família, então, quando eu me vi separada eu pensei ‘o que eu vou fazer agora?’”, recorda, emocionada. “Quando a gente passa por uma atribulação grande, a gente sabe que tem que recorrer a Jesus, então, eu corri para a Igreja e eu pedia muito para a Virgem Maria me dar força”.

Foi neste momento que Anice conheceu uma espiritualidade que transformaria não apenas a sua rotina, mas a sua própria vida. A convite de uma vizinha, ela começou a participar da Oficina de Oração e Vida da igreja e, de aluna, passou a ser aplicadora.

“Eu fui fazer as aulas, fiz por dois semestres, e na segunda vez que eu estava fazendo eu resolvi fazer a Escola de Formação. Com isso, eu me fortaleci muito e fiquei muito devota da Virgem Maria porque a gente sabe que é através dela que nossos desejos são realizados. Hoje eu já aplico as Oficinas de Oração e Vida há 15 anos”.

Mesmo que essa relação de proximidade tenha se intensificado na última década e meia, Anice lembra que as bênçãos concedidas pela intercessão de Nossa Senhora em sua vida datam de muito antes disso. Nos momentos de maior atribulação, ela sempre recorreu à Virgem Maria.

“Teve um dia em que eu estava com muita saudade da minha filha que mora longe e era perto do Dia das Mães. Eu me lembro bem que eu peguei na grade lá da Basílica e pedi para a Virgem Maria que ela pudesse me dar de presente a vinda da minha filha no Dia das Mães. Foi se aproximando o dia e, para a minha surpresa, ela veio passar o dia comigo”, recorda.

“Nas enfermidades a gente nem precisa dizer. Na gestação do meu primeiro filho eu tive toxemia gravídica e descolaram as minhas duas retinas. Os médicos desenganaram, dizendo que eu não voltaria mais a enxergar. Eu era casada ainda, eu não tinha tanta devoção e aprendizagem como eu tenho hoje de saber que Nossa Senhora é intercessora, mas eu sabia que podia recorrer a ela e eu voltei a enxergar sem ter nem que fazer cirurgia. Tem muita história da Virgem Maria na minha vida”.

Quem também tem muitas histórias com a Virgem Maria é a aposentada Maria da Conceição Rodrigues. Nascida no Estado de Pernambuco, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição, ela mudou-se para Belém ainda aos 08 anos de idade e, desde então, iniciou a sua relação também com outra representação de Maria, Nossa Senhora de Nazaré.

“Já nesse histórico de nascimento começa a minha devoção por Maria. Eu fui criada em um lar católico, então, desde criança sempre fui envolvida com a igreja. E estando no Pará, a gente adere ao amor maternal da Virgem de Nazaré. Eu comecei nos movimentos de igreja já na juventude, peregrinando nas ruas que eu morava”.

Hoje, já se vão mais de 40 anos de peregrinações. Conceição integra as atividades da Basílica Santuário de Nazaré, é Ministra da Eucaristia, integra o Apostolado da Oração e há três anos está na coordenação geral da Pastoral da Acolhida, que recebe e acolhe os romeiros que chegam para o Círio de Nazaré.

Com a rotina tão marcada pelas atividades da Igreja, ela vivencia o clima do Círio durante o ano todo, certa de dar continuidade a uma missão que não é apenas sua. “Eu me casei, tive um casal de filhos, mas o meu filho mais velho, que era Guarda de Nazaré e também devoto de Nossa Senhora, faleceu. Depois da morte do meu filho, a minha devoção aumentou mais porque eu me senti na obrigatoriedade do serviço Mariano por mim e por ele”, conta.

“Aqui no meu prédio as peregrinações começam no dia 02 de setembro e seguem pelo mês todo. Na Pastoral, praticamente desde maio a gente já começa o serviço maior, com o recadastramento dos voluntários. Então, não são só os 15 dias do Círio, são espiritualidades, são encontros, reuniões, preparações, é toda uma logística que nos acompanha o ano todo”.

É através das peregrinações e das visitas quase diárias à Basílica Santuário de Nazaré que a aposentada Dida Reis, de 80 anos, também vivencia o clima do Círio de Nazaré o ano todo. Devota de Nossa Senhora, ela conta que no mês que antecede a grande procissão, as atividades se intensificam, mas o sentimento de gratidão faz com que não haja cansaço que não seja recompensado.

“Eu sou Ministra da Eucaristia, então, a gente vivencia a emoção do Círio o ano todo. Eu sempre fui devota de Maria, eu confio nela e em todas as minhas orações eu sempre peço que ela me guarde”, conta. “Seja nos momentos alegres ou tristes, a gente recorre a ela porque ela é mãe. Eu sempre confio nela porque ela é a nossa mãe também”.

Belém, Pará, Brasil. Cidade. Iraci Moreira, 82, devota de Nossa Senhora de Nazaré. A Missa do Mandato, marca o início da Quadra Nazarena e, para muitos católicos, o clima já é de preparação para o Círio 2024. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

GRATIDÃO

Também no caso da aposentada Iraci Moreira, 82 anos, a relação com a Mãe de Cristo também é muito forte. Natural do município paraense de Monte Alegre, ela lembra que desde que se mudou para Belém, há 41 anos, se aproximou da Virgem de Nazaré e é através dela que consegue forças para superar as dificuldades já vivenciadas.

“Não tem um dia que eu não venho agradecer a Nossa Senhora. Eu sempre participo das peregrinações, mas não deixo de vir na Basílica, até porque eu moro aqui perto. Todo dia eu tenho que passar por aqui porque eu saio da Basílica refeita”.

Entre os pedidos que, naturalmente, faz à Nossa Senhora de Nazaré, está o de proteção. Mas, para além dos pedidos, Iraci conta que não esquece nunca de agradecer. “Eu só tenho que agradecer porque eu sei que ela está cuidando do meu filho lá em cima”, considera. “Um Círio que me marcou muito foi o último que eu participei com o meu filho, o meu marido e a minha mãe. Hoje eu já não tenho nenhum deles aqui comigo, tem 30 anos que o meu filho partiu, e uma mãe só aguenta a perda de um filho com a mão de Deus e Nossa Senhora. Então, eu tenho muita gratidão a ela por me dar forças”.