Antes do céu do segundo domingo de outubro se iluminar, centenas de promesseiros iniciaram sua jornada em agradecimento por alguma graça alcançada pela intercessão de Nossa Senhora de Nazaré. Antes mesmo do início da Missa de Abertura do Círio 2024, fiéis já percorriam o percurso da procissão, uns de joelhos, outros carregando o símbolo da graça alcançada.
O compromisso cumprido por mais um Círio pela estudante Tainá Rafaela iniciou quando, há três anos, o filho Ravi lutava para sobreviver na UTI de um hospital. Diante do risco de perder o filho recém-nascido, ela recorreu à Virgem de Nazaré e prometeu que, se o filho sobrevivesse, faria o percurso do Círio de joelhos pelos próximos três anos. No Círio de 2024, a jovem mãe teve a oportunidade de cumprir a sua promessa pelo terceiro ano.
Ainda que o compromisso firmado com a Santa de devoção tenha se cumprido, Tainá já considerava a possibilidade de não conseguir se despedir da demonstração de gratidão que ela presta a Nossa Senhora. Ainda que os joelhos, enfaixados por gazes, doam desde o início até o fim do percurso, ela não tem palavras para explicar a sensação boa que é poder agradecer pela vida do filho. “Eu ainda não sei se eu vou conseguir aceitar que esse é o último ano. Eu vou ter que ver se ano que vem eu vou conseguir não vir”, ponderava. “Não tem como explicar a sensação. A única explicação que eu posso dar é que isso é o Círio”.
Foi também em agradecimento pela saúde de um familiar muito querido que as irmãs Eti Pinheiro, 45 anos, e Socorro Carvalho, 60 anos, saíram de casa com o céu ainda escuro na madrugada do Círio. Levando uma vela de metro, as irmãs acompanharam a Missa de Abertura e seguiram os passos de Maria por todo o percurso até a Basílica Santuário de Nazaré. “A nossa mãe passou por uma cirurgia e tudo deu certo. Então, hoje a gente só tem a agradecer”, emocionou-se a técnica de enfermagem Eti. “Esse é um Círio muito especial pra gente porque a nossa mãe está bem”.
Acompanhada pelo esposo, o professor Felipe Aragão, 27 anos, e pela filha Lívia, de 3 anos, a dona de casa Kelly Soares, 27 anos, levou nas mãos a representação de um sonho pedido a Nossa Senhora de Nazaré, a casa própria. Este foi o primeiro ano que a família decidiu acompanhar a procissão com a miniatura de uma casa como forma de pedir pela intercessão da Virgem de Nazaré. “Nós viemos pedir para ela abençoar a nossa vida, a nossa família e que a gente consiga a nossa casa”.
A forma encontrada pelo autônomo Luiz Souza, 45 anos, para agradecer por uma graça alcançada foi ajudando outras pessoas a cumprirem suas próprias conversas. Há quatro anos ele distribui água na madrugada do Círio. Para que as 12 mil garrafinhas de água chegassem até o Complexo do Ver-o-Peso, onde eles se concentram para distribuir a água, ele precisou sair de casa, no bairro de Canudos, às 2h. “É uma forma de eu pagar a minha promessa e de ajudar as outras pessoas também”.
Aos 94 anos de idade, a aposentada Creuza Pereira de Andrade chegou ao Ver-o-Peso ainda na noite de sábado, após o encerramento da Trasladação. Com um terço e um pedaço da corda de anos anteriores nas mãos, a senhora pedia por saúde para toda a humanidade.