Com a chegada do Círio de Nazaré 2024, os romeiros, que participarão das tradicionais procissões, devem redobrar os cuidados com a hidratação, especialmente diante das altas temperaturas provenientes do verão amazônico. As celebrações, que incluem eventos como a Trasladação, neste sábado, e o Círio, a grande procissão deste domingo, ambas com mais de três quilômetros de percurso, são exemplos de desafios que os romeiros enfrentarão, e exigem não apenas força espiritual, mas também preparo físico adequado.
A preparação alimentar e a hidratação correta são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar durante todo o trajeto. A nutricionista Maria Viana, 37, especialista em nutrição clínica, alerta que o calor pode confundir os sinais de sede do corpo. Segundo ela, a sensação térmica na região amazônica, devido à umidade, intensifica o impacto corporal, tornando a hidratação contínua uma necessidade ainda maior, o que a torna uma questão de segurança e não apenas de conforto.
“Existe a temperatura que é medida pelos termômetros oficiais e existe a sensação térmica. Como a gente mora numa região muito úmida, a tendência é que com o calor a gente transpire, mas o sol não evapora com facilidade, porque o ambiente é muito úmido. Isso faz com que a nossa sensação de sede seja confundida pelo organismo, e a gente tende a tomar menos água do que é necessário”, explica.
A recomendação da especialista é de que a hidratação não seja apenas sobre a quantidade de água, mas a frequência com que ela deve ser ingerida, já que a quantidade é relativa porque varia de acordo com a idade e peso. Ela ainda ressalta a importância de atenção redobrada para idosos e pessoas com condições de saúde, como cardiopatas e renais, que exigem cuidados maiores durante o evento.
“Muitas pessoas passam horas sem beber nada, esperando encontrar alguém que ofereça ou até mesmo para comprar. O ideal é que todos carreguem uma garrafinha de água e consumam em média 200 a 300 ml a cada 15 ou 20 minutos, durante a procissão inteira”, indica ela, sobre garantir que o corpo esteja sempre hidratado e evitar a desidratação, que pode ocorrer mesmo antes de se sentir sede.
A especialista também lembra que quem participa de promessas, como caminhar de joelhos, carregar a corda ou acompanhar atrás da Berlinda, onde o sufoco é intenso, aumente a ingestão de líquidos devido ao desgaste físico maior. Nesses casos, ela orienta que o ideal é beber, no mínimo, 1 a 2 litros de água ao longo da procissão, fracionando as quantidades.
Foto: Rogério Uchôa/arquivo
ALIMENTAÇÃO
Além da hidratação, a alimentação correta é essencial para garantir energia suficiente e evitar desconfortos. Para quem vai participar da Trasladação, que ocorre à noite, acompanhando o trajeto de 3,7 quilômetros até a catedral da capital paraense, a nutricionista sugere uma alimentação leve durante o dia, que inclua legumes cozidos, carnes brancas e carboidratos de digestão rápida. “Durante o almoço, evite, preferencialmente, carne vermelha e feijão, que têm a digestão muito lenta e vai fazer com que se sinta pesado, até nauseado se ele for na corda, porque começa a movimentação e o calor é muito intenso”, diz.
“O ideal é consumir vegetais, legumes cozidos ou grelhados, junto com uma carne branca, como frango ou peixe, que são mais leves para o organismo. Carboidratos [também] vão garantir a energia para o percurso ser feito com êxito, como arroz, macarrão e raízes, como batata e macaxeira, são fundamentais para garantir energia ao longo do percurso. De sobremesa, sempre uma fruta”, detalha. Se o promesseiro almoçar cedo, chegar antecipado no local, e sentir a necessidade de fazer um lanche: iogurte, frutas ou suco natural, aveia, sanduíche com queijo branco ou geleia de frutas são opções ideais. “Pode ser até um café, caso queira um pouco mais de energia”, acrescenta.
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CÍRIO
Já para a grande procissão, o Círio, que começa cedo, Maria também frisa que os participantes devem evitar sair em jejum, algo que muitos fazem por conta do horário matutino da procissão. Um café completo, mas leve, com frutas ricas em água, como melão, melancia, pitaya, mamão, além de pão integral e ovos garantem a energia e ajudam na hidratação.
“Ouço muito que as pessoas vão ao Círio sem comer por ser muito cedo, mas é muito arriscado, porque a gente nunca sabe por quanto tempo vai ficar em pé ou andando e o quão quente vai estar”, afirma.
Para quem participa de outras romarias, como a Ciclo Romaria ou a Romaria dos Corredores, a recomendação é um preparo alimentar específico nos dias anteriores, com maior consumo de carboidratos. Contudo, conforme a especialista, apenas os “bons”.
“Carboidratos bons; então, integrais, pães integrais, arroz, macarrão, batata, aumentar o consumo. Dar preferência para essas proteínas pobres em gordura, e consumir frutas e vegetais”, menciona.
“É importante criar uma reserva de glicogênio nos músculos, que é a fonte de energia que vai garantir que a pessoa complete a romaria de forma saudável e sem se sentir mal. Além disso, a hidratação deve ser reforçada 24 a 48 horas antes, aumentando a ingestão de água de 2 litros para cerca de 3 litros por dia”, orienta.
De acordo com Viana, ficar mais de três horas sem se alimentar não é interessante. Ela reforça que as pessoas devem levar alimentos fáceis de serem transportados, e não consumam pipoca, algodão doce e bombons vendidos nas ruas, não apenas pela composição nutricional inadequada, mas também porque podem causar um pico glicêmico. Quando se consome esses alimentos, há um aumento rápido na glicose no sangue logo após a ingestão. “No entanto, pouco tempo depois, essa glicose pode cair bruscamente. Isso pode fazer com que, uma ou duas horas depois, a pessoa se sinta mal, com palidez, suor excessivo e mal-estar devido à queda de glicose. É melhor optar por frutas e cereais, que liberam glicose de forma mais lenta, mantendo a energia por mais tempo”.
Para Maria Viana, manter as tradições deve estar sempre aliada a cautela. “É época de festa, o nosso Natal [dos paraenses], e precisamos aproveitar, mas cuidar para que ninguém passe mal, tenha uma queda de pressão ou hipoglicemia. São estratégias simples que podem evitar problemas”, conclui.
