O documentário “Praia Grande”, dirigido pelo paraense Fernando Segtowick, terá uma pré-estreia exclusiva para estudantes e profissionais do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Pará (UFPA) nesta sexta-feira, 9 de maio. Em seguida, no dia 17 de maio, será exibido para os moradores da Praia Grande, localizada no distrito de Mosqueiro, que também é o cenário da produção. Posteriormente, o filme será inscrito em festivais e mostras no Brasil e no exterior.

Produção e narrativa do filme

A produção é assinada pela Marahu Filmes e conta com patrocínio do Edital de Fomento ao Audiovisual – Lei Paulo Gustavo, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel). Desde o início, o filme adota uma narrativa pessoal. Dessa forma, a história começa com uma viagem de carro, partindo do bairro do Guamá, em Belém, com destino à casa da família Segtowick na Praia Grande, adquirida pelo avô do diretor, Fausto, ainda na década de 1940.

Durante o trajeto, Fernando apresenta elementos históricos e sociais da região e compartilha memórias familiares que reforçam o vínculo afetivo com o local.

Homenagem ao pai e processo de luto

De acordo com o diretor, o filme é uma homenagem à sua relação com o pai, com a família e com Mosqueiro. Ele relembra que o avô adquiriu o terreno e a casa na Praia Grande décadas atrás, o que criou um forte laço afetivo entre o lugar e os membros da família.

“Desde a morte do meu pai, a forma que encontrei para lidar com o luto foi realizando este filme”, afirmou Segtowick. Seu pai, Fernando, faleceu em junho de 2020, aos 78 anos, vítima da covid-19. O diretor começou a desenvolver o projeto ainda em 2020, mas a produção só ganhou estrutura a partir do prêmio recebido pela Lei Paulo Gustavo. As gravações começaram no ano passado e somente foram concluídas em março deste ano.

Memórias, afetos e riscos ambientais

O documentário inclui entrevistas com familiares, moradores da Praia Grande, além de imagens de arquivo e fotografias. A partir desses elementos, constrói um retrato íntimo da relação da família com Mosqueiro. Atualmente, segundo o diretor, a Praia Grande sofre com um intenso processo de erosão e corre o risco de desaparecer nos próximos anos.

Para Segtowick, que tem 54 anos, Mosqueiro representa uma extensão de sua casa. O filme também registra esse espaço de memória que, com o tempo, pode deixar de existir fisicamente.

Hoje, a Praia Grande está num processo muito grande de erosão e corre o risco, inclusive, de desaparecer. Então, tem essa coisa de que talvez esse lugar de memória, que gosto tanto, daqui há alguns anos nem sequer exista mais”

Trajetória do diretor

Fernando Segtowick é diretor, roteirista e produtor executivo. Natural de Belém, ele dirigiu o documentário “O Reflexo do Lago”, que teve estreia mundial no Festival de Berlim em 2020. Também é autor do telefilme “Vatapá ou Maniçoba?”, exibido recentemente na TV Globo, e do curta “Matinta” (2010), estrelado por Dira Paes.

A ilha de Mosqueiro, para ele, representa um refúgio de lembranças familiares, especialmente relacionadas ao pai. Além disso, “Praia Grande” presta uma homenagem às vítimas da pandemia de covid-19, por meio da memória do pai do diretor.

Reflexões sobre perdas e mudanças climáticas

Para Fernando, o documentário também cumpre o papel de resgatar o que foi perdido com a pandemia. “O brasileiro tem o hábito de esquecer, de empurrar para debaixo do tapete. Já se passaram cinco anos desde os primeiros casos de covid, do lockdown, e tudo isso precisa ser lembrado”, afirmou.

Além disso, ele destaca que o filme aborda questões ambientais. A erosão da Praia Grande, segundo ele, está ligada às mudanças climáticas e ao desaparecimento de modos de vida tradicionais da Amazônia. “O filme também fala sobre isso: sobre a perda da memória, das pessoas e do território”, concluiu.

EQUIPE TÉCNICA

Direção e roteiro: Fernando Segtowick

Co-direção e montagem: Lucas Domires

Direção de fotografia: Thiago Pelaes

Produção executiva: Tayana Pinheiro

Direção de produção: Mayra Assis

Assistente de direção: Lua Nepomuceno

Som direto: Lucas Coelho e Victor Kato

Still: Laís Teixeira